No mesmo dia em que seu advogado entregou sua defesa à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, na qual tramita denúncia da Procuradoria-Geral da República, o presidente Michel Temer ampliou a romaria de políticos em seu gabinete para tratar da votação, uma vez que a ação só prosseguirá no Supremo Tribunal Federal se 2/3 dos deputados aprovarem. O Governo faz contas, e Temer, com vasta experiência parlamentar, sabe que não basta conversa e que tem que ceder em algum ponto para amolecer o coração dos parlamentares.
A questão em pauta é que tipo de concessão está sendo dada aos deputados para garantir o voto favorável ao chefe do Governo. Em um cenário de crise e com a opinião pública de olho, os parlamentares não entregam seu voto a qualquer preço. Temer sabe disso e, certamente, será generoso. Tem a seu favor a desmobilização das ruas e a incerteza da própria via política sobre o que virá pela frente caso ele seja cassado.
Quando estava com sua cabeça a prêmio, a ex-presidente Dilma Rousseff, a despeito de não ter qualquer acusação de corrupção pesando contra ela, tinha como desvantagem o seu pouco trato com os políticos – ao contrário, os recebia a contragosto – e o cenário adverso. A oposição tinha a perspectiva de um partido no poder e um vice-presidente em pleno exercício do mandato. Não sabia a que custo, mas atuou com essa possibilidade.
Agora, não. Sai Temer e entra quem? Rodrigo Maia, o primeiro da linha sucessória, é apenas um substituto, obrigado a convocar eleições presidenciais. Se for seguido o rito definido pela Constituição, a escolha será indireta, mas faltam nomes, e muitos dos que estão em evidência também têm a Lava Jato nos calcanhares.