Durante a sua 15ª reunião, o Comitê de Emergência da Organização Mundial de Saúde (OMS) recomentou o fim da emergência de saúde pública de importância internacional envolvendo a Covid-19. A decisão foi acatada pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, e anunciada na última sexta-feira. Mas com uma advertência: “Isso não significa que a Covid acabou como uma ameaça global”. Na mesma linha, o diretor-executivo da Organização, Michael Ryan, reforçou que “provavelmente não haverá um ponto em que a OMS anunciará o fim da pandemia”.
A decisão é uma vitória da ciência, porque, ao se olhar para trás, é possível observar o mundo a partir de 2020 e 2021 – a fase mais aguda da contaminação – e as implicações de uma contaminação global. Cerca de sete milhões de pessoas morreram de lá para cá. Não fosse a elaboração em tempo recorde de imunizantes, os números seriam mais aterradores, sobretudo por não haver outro antídoto para enfrentar o vírus. Os medicamentos, que acabaram virando uma discussão mais política do que científica, foram ineficazes. Quando muito, mitigaram casos mais leves. Só a vacina resolveu.
As advertências dos dois dirigentes da OMS têm todo o sentido, pois o que foi decretado foi o viés de emergência. O vírus, no entanto, continua peregrinando pelo mundo afora em novos formatos. Isso significa que é preciso adotar o calendário de imunização para garantir um novo normal com eficácia e controlado. Já é tempo de despolitizar essa questão e tratar a doença sob a ótica de saúde pública.
Nunca a sociedade contemporânea enfrentou um drama de tamanha magnitude, e são muitas as lições a serem tiradas. Um mundo conectado sob todos os aspectos, e não apenas digitalmente, também produz demandas globais, como foi o caso do próprio vírus. A despeito de todas as barreiras, ele rompeu fronteiras e, indistintamente, causou danos irreversíveis. Daí, esse mundo conectado deve incentivar a ciência, por não haver garantia de que outras mazelas sanitárias, ante o trânsito de pessoas por todos os recantos, não venham a ocorrer.
Vencida a etapa das duas doses e das outras duas de reforço, o Governo tem dificuldade em convencer a população para a importância das doses bivalentes, também recomendadas pela OMS, por conta do entendimento de muitos segmentos de que “está tudo dominado”, não havendo mais riscos. Ghebreyesus e Ryan, os principais dirigentes da OMS, deixaram claro que não é bem assim. O vírus, ao passar por mutações, exige novas vacinas, e está claro que não há motivos para rejeitar o antídoto. Muitos óbitos teriam sido evitados se as vítimas tivessem sido imunizadas já com as primeiras doses. Agora, sob esse novo cenário, imunizar é preciso não só para a Covid, mas também para tantas outras doenças que o país venceu e que hoje se reapresentam em função da própria leniência coletiva.