O lixo é como o jabuti em cima de uma árvore. Está lá porque alguém o colocou. As ruas da cidade têm um histórico de descaso cuja gênese está na própria população, que contribui diretamente para o aumento do que é jogado nos bueiros com consequências que se explicitam, principalmente, no ciclo das águas. Como a Tribuna mostrou na edição de domingo, cerca de 30 toneladas de entulhos são retiradas semanalmente das bocas de lobo, número que impressiona, pois não é por ano ou por mês. A cada semana, esse material é descartado sem qualquer avaliação de danos, como se cada um quisesse se livrar de seu lixo deixando a conta para o serviço público.
A falta de educação ambiental é a matriz de todas essas mazelas, mas nem assim há matérias formais na rede escolar tratando do tema. Se não houver preparo das gerações, a tendência é de agravamento do quadro, pois o volume de lixo produzido cresce em proporções geométricas.
Some-se a isso a incapacidade financeira dos municípios para garantir a coleta adequada. Os lixões estão sob a mira dos órgãos ambientais, e boa parte das pequenas cidades faz consórcio com as metrópoles para o descarte de seu material. Mas estas também têm problemas, já que os abrigos sanitários têm prazo de validade. Juiz de Fora viveu tal experiência com o lixão do Salvaterra, hoje desativado, e já se preocupa com o aterro na Zona Norte.
Essa série de fatores se mostra perversa quando as ruas são tomadas pelas águas perante a dificuldade de escoamento. A população cobra providências, mas também deveria fazer a sua parte não só impedindo como também denunciando notórios infratores. Como relatou um dos operadores do sistema de recolhimento, há de tudo nos bueiros.
A principal testemunha, porém, é o Rio Paraibuna. A cada temporal, há um festival de lixo passando pelo seu leito, especialmente garrafas pet jogadas sem a menor preocupação de consequências. Em Marmelos, onde há um ponto de retenção, a cena diária é lamentável e reveladora.
Não bastasse esse cenário, também é fundamental destacar o vandalismo e os furtos. Os vândalos quebram as cestas de lixo espalhadas pelos bairros e pelos centros da cidade sem qualquer justificativa. Os bueiros tornaram-se moeda de troca dos ladrões, pois suas grades são sistematicamente furtadas sem que os autores, e, principalmente, os receptadores, sejam presos. Esse conjunto é devastador.