A prisão em Matias Barbosa de um homem, apontado como um dos líderes de uma das maiores facções criminosas do país, joga luzes numa discussão que o próprio sistema de segurança vem fazendo em Juiz de Fora e na região e que deve ser ampliada ainda mais, a fim de garantir que Minas não seja o destino de membros de tais grupos. O Estado tem um histórico de rejeição ao crime organizado, como destacou o deputado Mauro Lopes, quando ocupou a secretaria de Segurança de Minas – entre 3 de fevereiro de 1999 a 23 de dezembro de 2000 -, ao abordar a onda de sequestros que afetava o Rio de Janeiro. “Em Minas, bandido não faz fama”, disse após a polícia prender um sequestrador na região.
Os tempos são outros e o próprio crime se sofisticou, aumentando a sua capilaridade pelo país afora – e até no exterior -, como revelam informações diárias apontando o surgimento de facções em regiões até então consideradas imunes. O Norte do país é uma delas. No Nordeste, a Bahia vive um ciclo de violência resultado do enfrentamento não apenas com a polícia, mas também entre os grupos para controle do território.
Próxima do Rio de Janeiro, Juiz de Fora começa a fazer os primeiros registros. Em audiência pública na Câmara Municipal, no dia 5 de novembro, a pedido da Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e Outras Drogas da Assembleia Legislativa, foi apontado que as prisões relacionadas ao tráfico de drogas em 2023 na cidade cresceram 67% em relação ao ano passado. De janeiro a outubro, foram efetuadas 1.118 prisões na cidade.
Na mesma audiência, o comandante da 4ª Região de Polícia Militar, coronel Marco Aurélio Zancanela, disse que os dados apresentados pela PM demonstram o trabalho da corporação ante o avanço de facções criminosas na cidade. Ele revelou que, a despeito de historicamente haver uma ligação dos traficantes de Juiz de Fora com o Comando Vermelho, os serviços de inteligência da PM já observam também a presença de criminosos filiados ao Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo.
São informações relevantes e que devem servir de referência para conter o êxodo de membros de facções para a Zona da Mata, pois é público que têm um poder de ação muito mais intenso do que os grupos desorganizados que atuam sem a coordenação de cúpulas, como as do CV e do PCC, especialmente.
A Comissão da Assembleia jogou luzes, mas as instâncias políticas da cidade também devem colocar o tema em suas discussões, sobretudo por tratar-se de uma demanda de interesse coletivo. A população já vive sob o medo em muitas regiões da cidade e da Região, o que impõe a necessidade de outras ações para inibir a chegada desses indesejados atores do crime.