Em entrevista ao matutino “O Globo”, a diretora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari, não escondeu sua surpresa com a queda no índice de desinteresse do eleitor, em relação ao início da série de pesquisa do instituto. Ela imputa às redes sociais o avanço na discussão política por ser um espaço de repercussão dos fatos. Ela tem razão, mas deve acrescentar a isso o viés pantanoso das redes pelas quais também trafegam fake news, próprias para desconstruir nomes e instituições, sobretudo pelo compartilhamento fácil e sem qualquer verificação.
O desinteresse do eleitor tem várias matrizes, sobretudo por não ver nos políticos qualquer interesse em fazer mudanças, salvo quando eles próprios são parte direta na questão. Desde 2013, quando as ruas falaram fortemente pela primeira vez, há tentativas de mobilizar a instância política a fazer reformas. Os avanços foram pífios a despeito das mobilizações.
As eleições de 2014 ocorreram sob pressão popular, mas os eleitos não fizeram o combinado e, quando o fizeram, este foi aquém das expectativas, como a reforma política, que teve mais conotação eleitoral em torno de regras do que de modelo. Como resultado, o desgastado presidencialismo de coalizão se mantém e, de novo, será fator preponderante no próximo governo, independentemente de quem será eleito neste domingo ou num eventual segundo turno.
Os candidatos se esforçaram em vender propostas de mudança, mas, desta vez, também perceberam que a passividade de antes ficou para trás. O eleitor, induzido por uma discussão que em alguns momentos saiu dos trilhos, está consciente de que seus representantes precisam avançar no debate pela própria necessidade do momento. Tanto a União quanto os estados precisam rever seus conceitos, principalmente econômicos, uma vez que o atual modelo não funciona.
A concentração de recursos na mão do Tesouro em detrimento da falência do caixa dos estados e, sobretudo, dos municípios tem promovido um jogo desigual, ficando os municípios, onde tudo acontece, privados de recursos para atender a população.
O Congresso que se elege não precisa discutir uma nova Constituição, pois a Carta, com apenas 30 anos, é moderna, mas carece, sim, de regulamentação de vários artigos que foram esquecidos pelo tempo. Por conta dessa agenda, o desinteresse do eleitor, de fato, desapareceu.