A primeira reunião presidencial, marcada para esta sexta-feira, deve servir para afinar a sintonia entre os 37 ministros e os propósitos do presidente Lula, uma vez que, já nas solenidades de posse, muitos deles apresentaram-se desconectados com os colegas, ora anunciando medidas que ainda não foram discutidas – como a reforma da Previdência – ora antecipando decisões que sequer foram definidas pelo presidente.
A mídia nacional trata o assunto como freada de arrumação, mas o importante é, já nesse início de jornada, definir as prioridades e como as instâncias de poder vão encaminhá-las. A reforma pode ser uma delas, mas não vai à frente por um simples ato de vontade, devendo ser alvo de discussão entre o Governo e outras instâncias, pois só assim será possível apresentar um projeto próximo ao consenso.
Ademais, a nova gestão deve consolidar suas metas, a fim de apresentá-las com consistência a um Congresso Nacional bem mais hostil do que aquele que fiscalizou os dois primeiros mandatos do presidente. A oposição elegeu uma expressiva bancada, e, dependendo do quórum, haverá necessidade de negociação.
Os tempos são outros, e o próprio país está dividido. O presidente Lula, já no seu discurso de posse, enfatizou que vai governar para os 205 milhões de brasileiros, e não deveria ser diferente, mas os eleitores de Jair Bolsonaro ainda precisam estar convencidos de suas metas, para, só assim, levarem em conta que a fila andou e não há outro caminho. Olhar para o futuro deve ser a premissa básica de governistas e oposição, mesmo mantendo divergências, o que é próprio da democracia.
Aliás, esse foi um dos motes do discurso da ministra Simone Tebet, ao assumir o Planejamento. Não escondeu suas divergências com o pensamento petista em outras épocas, mas foi enfática ao defender a construção de consensos em nome do país.
Início de legislaturas sempre gera ruídos, sobretudo pela ansiedade da opinião pública, que considera as demandas em tempo real, isto é, como se tudo mudasse de uma só vez após a troca de comando. Há ainda questões que passam pela rota das articulações, como a eleição das mesas diretoras da Câmara e do Senado. Arthur Lira deve ser reconduzido pelos seus pares na Câmara, mas Rodrigo Pacheco, no Senado, ainda precisa consolidar sua reeleição.
Vale o mesmo para o Estado. O governador Romeu Zema, agora com a “casa arrumada”, tem pela frente o desafio de tirar do papel projetos que tenham reflexo imediato na vida dos mineiros. Para consolidá-los, carece de uma sólida maioria na Assembleia, que ainda está sendo construída. O primeiro ponto é a presidência da Casa. A despeito da não ingerência sobre outro poder, qualquer chefe de Executivo quer um aliado na presidência. O governador mira em Roberto Andrade, mas ainda não convenceu a sua base de ser esta a melhor opção.
Tanto em Brasília quanto nas capitais estaduais há a necessidade de conversas. O jogo das urnas já passou, e as demandas, agora, serão apresentadas aos poderes, que precisam resolvê-las fora dos palanques, e sim nos gabinetes.