A pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) destacando que 23% dos jovens brasileiros não trabalham nem estudam, o que se repete em boa parte da América Latina, com exceção do Chile, com 4%, é reveladora e explica, em parte, os motivos de a região ter números expressivos abaixo da linha da pobreza. De acordo com o estudo, as razões para esse cenário são problemas com habilidades cognitivas e socioemocionais, falta de políticas públicas, obrigações familiares com parentes e filhos, entre outras.
A questão cognitiva se destaca na baixa qualidade do ensino básico, que carece de recursos e melhor qualificação dos professores. Os investimentos na educação são precários, a despeito de ser uma agenda que deveria ser prioridade em todas as gestões, pois é a ponta dos problemas ou das soluções de um país. Aqueles que investiram forte na educação, como a Coreia do Sul, por exemplo, viraram o jogo. No início dos anos 1960, era um país com níveis de pobreza mais acentuados do que os do Brasil, e hoje é uma potência econômica e tecnológica por ter feito essa opção.
Boa parte dos jovens brasileiros é analfabeta funcional, isto é, não compreende o que lê nem consegue explicitar em texto suas razões, daí os números do IPEA serem tão perversos. Some-se a isso a falta de políticas públicas. Os governantes vão bem no discurso, mas na hora de implementarem medidas não conseguem tirar do papel o que propuseram durante as campanhas. Os desníveis sociais se acentuam trazendo no rastro uma série de problemas.
Mas é vital destacar que os jovens (nem nem) apresentados na pesquisa, a despeito de todas as carências, não são improdutivos: 31% deles estão procurando trabalho, principalmente os homens, e mais da metade, 64%, dedicam-se a trabalhos de cuidados domésticos e familiares, principalmente as mulheres.
Essa opção se manifesta pela dificuldade de ingressar num mercado cada vez mais competitivo. Sem educação adequada, se organizam em funções de menor remuneração. Por conta disso, não bastam os discursos de novos tempos sem que a educação esteja fora das prioridades.