Primeiro foi a inédita seca na região amazônica, que reduziu a níveis extremos o volume de água dos rios – a começar pelo Rio Negro que corta Manaus – depois as chuvas intensas que abalaram a economia do Rio Grande deixando um rastro de quase 200 mortes. Os dois episódios são a clara constatação do desequilíbrio climático que deve se repetir se nada de imediato for feito. O climatologista Carlos Nobre, em entrevista ao jornal “O Globo”, destacou que pelo menos 70% do território brasileiro poderá enfrentar grandes secas nos próximos anos, enquanto o Sul e parte do Sudeste correm o risco de chuvas intensas.
Sua advertência é importante, mas não inédita, uma vez que há tempos diversos setores, entre eles a imprensa, têm chamado a atenção para esse problema. No dia em que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, o alerta é mais que oportuno. Quando definiu a data, por ocasião da Conferência de Estocolmo, que discutia a questão do impacto humano sobre o meio ambiente, em 1972, a ONU já tinha estudos apontando para o desequilíbrio e suas consequências. Em 2022, nas comemorações dos 50 anos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o tema foi “Uma só terra”, para lembrar que este é um planeta só. No sentido de ser especial e único, mas também para indicar que todos somos responsáveis.
Mas o mundo está longe dessa conscientização. Estados nacionais têm sido os principais agentes de poluição, sobretudo pela emissão de gases, mas também pela ausência de projetos de sustentabilidade de médio e longo prazo. Os fóruns mundiais sobre o meio ambiente têm sido pródigos em cobrar medidas, mas a maioria delas se perdeu nos discursos.
Alguns especialistas, como o jornalista americano Kyle Pope, defendem a inclusão do tema na pauta da cobertura política. Os veículos de comunicação precisam perguntar aos candidatos – mesmo na eleição municipal – quais as medidas que pretendem desenvolver no espaço local para mitigar os danos ambientais. Também ao “O Globo”, ele fala da experiência da rede de colaboração “Covering Climate Now”, que monitora a cobertura da imprensa pelo mundo afora. “É preciso contar histórias humanas ligadas às mudanças climáticas”, sugere.
E é o que a Tribuna pretende desenvolver no espaço “Biosfera”, que trata de demandas ambientais. A repórter Nayara Zanetti inaugura, nesta sexta-feira, a série “Quem cuida do planeta”?, que irá mostrar pessoas que trabalham na conservação do meio ambiente. A ideia é destacar o que elas fazem no trabalho, os motivos que as levaram a escolher essa profissão e qual a importância das iniciativas dessas pessoas.
“Biosfera é uma seção semanal da Tribuna desde janeiro de 2023. Nasceu com o objetivo de pensar práticas que impactam menos o meio ambiente e contribuem para um futuro melhor. Faz tempo que questões ambientais deixaram de ser assunto apenas para as futuras gerações, o que é feito agora será sentido nos próximos anos e não nas próximas décadas. Para continuar a contar histórias, é preciso criar alternativas. Reunimos nesta seção do jornal iniciativas e pessoas que colaboram de alguma maneira para um amanhã mais verde, além de ideias econômicas, sustentáveis e práticas para você inserir aos poucos no seu dia a dia”, destaca Nayara. E tem razão.
O Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado nesta quarta-feira, mas as ações pela sua preservação devem ser diárias e em todas as instâncias. Não há outro caminho para preservar o planeta e a vida.