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Lições de uma fuga

editorial
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A prisão de Deibson Nascimento e Rogério Mendonça, fugitivos há 51 dias da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, mostrou o sucesso das investigações, com forte respaldo das área de inteligência, mas apontou, também, para um dado real e preocupante: o crime organizado tem uma extensa rede, que, durante esses quase dois meses, deu assistência aos fugitivos, ora os acolhendo em residências de associados, ora oferecendo logística para seu traslado pelas rodovias do Norte e do Nordeste. Um relatório de uma decisão judicial destaca que “durante as investigações foi possível identificar uma rede de apoio constituída provavelmente por lideranças do Comando Vermelho para manterem os foragidos longe do alcance da Justiça”. A Polícia Federal identificou que durante os 51 dias em que ficaram foragidos, os fugitivos chegaram a ser resgatados de carro da comunidade de Juremal, em Baraúna (RN), e receberam dinheiro de um homem cujo endereço fica no Complexo do Alemão, no Rio, área dominada pelo Comando Vermelho. Essa informação é do jornal “O Globo”.

Deibson e Rogério, foram presos em Marabá, uma das maiores cidades do Pará, a 1.600 quilômetros de Mossoró, tendo atravessado pelo menos quatro estados. Em entrevista, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, revelou que a dupla tinha planos de fugir para o exterior com apoio das facções que deram respaldo à sua fuga. Com eles, pelo menos quatro outras pessoas fortemente armadas foram presas. “Os fugitivos estavam em um verdadeiro comboio do crime. Foram apreendidos 3 carros e diversas armas”, disse o ministro.

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O apoio que tiveram é resultado da notoriedade que obtiveram ao serem os primeiros a fugir de uma penitenciária federal, que gerou o primeiro desgaste para o ministro da Justiça, então recém empossado. Por isso, a sua comemoração após a prisão. Há, no entanto, lições a serem tiradas. O presídio de Mossoró, para o qual eles voltarão, passou por uma ampla revisão no seu sistema de segurança, mas e as demais unidades espalhadas pelo país?

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O sistema carcerário brasileiro tem sido pauta para discussão em vários fóruns, por não promover a ressocialização dos internos. Ao contrário, pelas condições e forma de encarceramento, tornou-se uma universidade do crime, sobretudo quando há mistura de presos de menor periculosidade com internos com maior potencial de violência.

No mês passado, a Câmara Federal acabou com as chamadas saidinhas, por entender ser uma forma de combate aos autores de crimes durante o gozo do benefício. Foi mais uma reação do que uma ação capaz de mudar o cenário. Os acontecimentos dos últimos 51 dias foram emblemáticos em apontar que o veto às saídas não impede as ações organizadas do lado de fora. Há conexões que não se restringem mais às estados do Rio de Janeiro e São Paulo, sede das principais facções.

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Hoje, elas se falam e praticam ações conjuntas não apenas em defesa ou apoio dos seus, mas também para colocar em prática toda espécie de crimes.

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