A eleição de domingo, na qual foram eleitos 25 conselheiros tutelares, teve uma participação expressiva de votantes – 15.204 -, demonstrando não apenas o interesse por uma causa importante para a sociedade, mas também a mobilização de diversos setores, sobretudo de viés ideológico, numa clara antecipação do que pode ser a eleição municipal de 2024. No período que antecedeu o pleito, as redes sociais foram pródigas em reproduzir convocações para a participação coletiva, para “eleger conselheiros identificados com nossa causa”.
A causa é o mote para os articuladores, tanto da esquerda quanto da direita, defenderem seus pontos de vista, o que faz parte do jogo, mas é também um processo de ocupação de espaços em instâncias importantes, sobretudo para elaboração de políticas de viés moral. Essa dicotomia, certamente, estará presente em todas as disputas de interesse coletivo, e a eleição municipal não será diferente, embora com um espectro bem mais amplo.
Dez meses após a troca de governo, o país ainda assiste ao enfrentamento produzido pela campanha de 2022 nos diversos fóruns dentro e fora do Parlamento. Enquanto não surgir uma liderança capaz de capitalizar o voto do meio, a polarização será um dado real. Na eleição presidencial, os candidatos de centro ficaram pelo meio do caminho, e a tese de uma terceira via não se viabilizou.
A eleição municipal, a despeito de todas as demandas paroquiais, deve envolver o mesmo processo, bastando acompanhar o discurso dos possíveis atores. A prova material está nos números. Recentes pesquisas indicam uma clara dependência do posicionamento do presidente Lula e de seu antecessor Jair Bolsonaro.
Já que o presidente Lula poderá disputar a reeleição, e seu principal antagonista, Jair Bolsonaro, está impedido de disputar em 2026, o campo da direita monitora o comportamento dos governadores identificados com sua agenda. O paulista Tarcísio de Freitas está à frente e já percebeu que tirar Bolsonaro de seu palanque não será uma questão simples. O governador Romeu Zema viveu a mesma experiência. Em recente entrevista, se apresentou distinto do ex-presidente e viu a reação dura da família Bolsonaro e de seus seguidores.
Pleitos municipais costumam ser ensaios para o embate nacional, mas estratégicos para a disputa presidencial, sobretudo quando também nacionalizam o debate. Com o avanço das redes sociais, as demandas ganharam amplitude e a disputa não se faz apenas em torno do bairro, embora haja relevância nessa pauta.
Com a polarização, os próprios candidatos trazem o jogo nacional para o enfrentamento local. Em Juiz de Fora, a prefeita Margarida Salomão, necessariamente, vai colocar o presidente Lula em seu palanque. A questão é saber como vão se portar seus eventuais adversários e quem colocará Bolsonaro primeiro em sua agenda.