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É a economia, estúpido

editorial
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O presidente Lula pode até ter razão ao denunciar a movimentação especulativa do mercado envolvendo o dólar e contra o real, mas colocar tal pauta dia sim, dia não nos seus discursos levou tensão na área econômica e, por consequência, à elevação do valor da moeda norte-americana, que desde o dia 10 de janeiro de 2022, quando fechou em R$ 5,67 não tinha chegado a tal patamar.

No seu périplo pelo país nos últimos dias, inclusive por Juiz de Fora, o presidente fez duras críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e ao mercado, colocando-os como agentes dos milionários quando seu projeto de Governo é de proteção aos menos favorecidos.

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Nesse ciclo de ataque e defesa, é visível a preocupação com a repercussão do embate e da elevação do dólar na inflação. Na última etapa de sua viagem, Lula disse em Salvador que iria se reunir com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, – o que estava previsto para essa quarta-feira – a fim de avaliar as causas da turbulência. Antes da reunião, o presidente, em entrevista, prometeu uma política econômica sem sobressaltos, o que refletiu imediatamente nas cotações da moeda norte-americana.

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O tom belicoso entre o Lula e Campos Neto é coisa antiga, mas o mercado, que se sensibiliza a qualquer movimento, reage criando cenários novos a cada dia, dando margem até mesmo à especulação. O ministro Fernando Haddad teve que vir a público desmentir a redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que percorreu as redes sociais. Não sei de onde saiu esse rumor. Aqui na Fazenda, estamos trabalhando uma agenda eminentemente fiscal com o presidente para apresentar a ele propostas para cumprimento do arcabouço em 2024, 2025 e 2026. Eu acredito que o melhor a fazer é acertar a comunicação”, destacou.

Ele tem razão ao apontar a necessidade de o Governo também melhorar a sua comunicação, mas há outros fatores que causam incertezas. A regulamentação da Reforma Tributária é um deles. O excessivo número de concessões pode comprometer o projeto, já aprovado pelo Congresso, pois sinaliza que a política tem influência numa pauta eminentemente econômica e que passou pelas duas casas legislativas, após anos de negociações.

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Em 1992,quando reagiu a uma pergunta sobre o que pode definir as eleições e até mesmo a democracia, o marketeiro de Bill Clinton, então candidato à presidência dos Estados Unidos, James Carville, criou o slogan “É a economia, estúpido”, que acabou viralizando e garantiu a vitória contra a reeleição de George Bush (pai), com base na percepção de que os norte-americanos estavam mais preocupados com a crise econômica, preços altos, dificuldade de comprar imóveis do que com o triunfo americano na Guerra do Golfo.

A economia continua sendo um dos ativos mais importantes e quando ela vai bem, tudo vai bem, inclusive a democracia. Por isso, não há margem para enfrentamentos meramente políticos numa pauta de interesse coletivo. E quando ela vai mal, todos perdem.

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