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Histórias mal contadas

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Os eventos da semana na CPI do Senado, que apura as consequências e as responsabilidades na pandemia do coronavírus, foram extremamente graves e apontam para mais uma semana de impasses ante o jogo de nós e eles que se estabeleceu na comissão. O depoimento do cabo Luiz Paulo Dominguetti, da PM de Minas, teve momentos pendulares. No início, apontava para uma denúncia de corrupção que envolvia técnicos do Ministério da Saúde, que teriam pedido um capilé de um dólar por vacina. Nesse momento, a bancada oposicionista – maioria nas investigações – andou um passo.

Quando o militar apresentou uma gravação envolvendo o deputado Luiz Miranda, na qual ele discute com um interlocutor questões pouco republicanas, o jogo virou, e foi a vez da base do Governo andar à frente. No entanto, no decorrer das perguntas, o denunciante foi mudando de rumo, especialmente quando confrontado com a informação de que a gravação, além de editada, não versava, em momento algum, sobre vacinas, e sim sobre a venda de luvas. O que também deve ser apurado.

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Nesses avanços e recuos, no entanto, não é possível apontar vitória dessa ou daquela corrente, pois fica cada vez mais nítido que a derrota é da população. A falta de escrúpulos de personagens que não avaliam as consequências dos atos é algo que impressiona. Em outras investigações, o país se defrontou com medicamentos falsos. Agora, a vacina é real, mas sua comercialização passa por corredores obscuros, nos quais há sempre a busca do lucro em cima da tragédia. O viés humano fica em segundo plano, como se a vida fosse um bem menor e o lucro, o objetivo desses personagens.

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Outros depoimentos devem ocorrer esta semana, mas, diante de tantas incoerências, os suspeitos devem ser colocados frente a frente, a fim de, em acareação, se encontrar um mínimo de verdade nesse jogo de palavras que encetaram durante seus depoimentos. E na lista deve estar também o parlamentar que jogou lenha na fogueira, diante de impressões claras de não haver mocinho nessa história.

CPIs, como é recorrente na ciência política, são investigações que começam com um objetivo, mas cujo desfecho é inesperado, e essa não será diferente. A questão central é definir responsabilidades para mais de meio milhão de mortes e apontar alternativas. Para tanto, os investigadores também devem sair do palanque e se ater aos autos. Da mesma forma que há muitas histórias mal contadas, há também um forte viés eleitoral, amplificado pelas redes sociais e pela cobertura da mídia, em torno de políticos de olho nas urnas de 2022.

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