Ícone do site Tribuna de Minas

Ações e reações

editorial moderno2 1
PUBLICIDADE

O presidente da Câmara Federal, deputado Arthur Lira, estaria “espumando de raiva” com a operação da Polícia Federal que teve como alvo Luciano Ferreira, seu ex-assessor, e deve dar o troco no Governo, segundo publicação no blog do jornalista Lauro Jardim, de “O Globo”. Em público, o parlamentar disse que não tem nada com isso, mas pediu informações ao ministro da Justiça, Flávio Dino, que, por sua vez, revelou tratar-se de uma ordem judicial, que passou longe do Governo.

Pode até ter sido isso, mas o presidente da Câmara tem outra leitura. De acordo com o jornalista, amigos próximos destacam que Lira não vai deixar barato. Não deve retaliar o projeto de Reforma Tributária, por também ser do seu interesse, mas vai deixar morrer algumas medidas provisórias que já estão com o prazo próximo do fim como a que trata da retomada do programa “Minha casa, minha vida.

PUBLICIDADE

O presidencialismo de coalização fez do Centrão o protagonista da movimentação no Congresso, e o pêndulo nas ações de interesse do Governo. Aprovar ou rejeitar depende das conversas com o grupo, o que tem sido quase uma obrigação das várias gestões. O ex-presidente Michel Temer teve todos os pedidos de seu impeachment arquivados por ter acolhido as propostas do Centrão. O ex-presidente Jair Bolsonaro passou parte da campanha falando mal do grupo. Em menos de três meses foi induzido a acolhê-lo em seu Governo.

PUBLICIDADE

Quando se esperava uma mudança, o presidente Lula se envolveu no mesmo processo. Fez duras críticas ao orçamento secreto, questionou os modos dos parlamentares centristas e agora busca respaldo para aprovar suas propostas.

Até aí, no entanto, faz parte do jogo. O que causa espanto, se forem mesmo procedentes as informações dos amigos do presidente da Câmara, é o “troco no Governo” por causa de uma demanda, em princípio, pessoal. Pelos protocolos, a Polícia Federal age de acordo com orientações da Justiça e não do Planalto, sobretudo por ser um organismo de Estado e não de Governo. Se o presidente do Legislativo retaliar, estará colocando seus interesses acima dos do país, o que é um problema.

PUBLICIDADE

A interdependência entre os poderes é uma realidade, mas chegará um tempo em que algumas regras vão carecer de mudanças para evitar esse jogo que já dura anos. Muitas das ações dentro do parlamento passam longe do olhar das ruas, sendo resultado do jogo de poder de determinados grupos acolhidos em siglas de grande porte, com força suficiente para impor a sua agenda.
O presidente, por sua vez, teria dito que não fará articulação política nas próximas oportunidades, deixando o serviço para seus ministros. A questão é saber qual a autonomia que terão para agir. No atual cenário, ele teve que entrar em campo por conta não apenas de erros na estratégia, mas também pela desconfiança dos deputados em torno dos acordos apresentados pelo primeiro escalão.

Trata-se de uma discussão de longo prazo, que caberia no projeto da reforma política, mas essa questão passou longe, sendo adotada apenas uma reforma eleitoral. O atual e próximos governos, se não houver mudanças, terão que “rezar” na mesma cartilha.

PUBLICIDADE
Sair da versão mobile