No seu discurso inaugural na COP28, na última sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula destacou os efeitos das mudanças climáticas e apresentou dados emblemáticos sobre o Brasil. A Amazônia enfrenta um dos períodos mais críticos de seca, antecipando uma paisagem de savana que já se faz presente em algumas regiões. O Rio Negro está abaixo do nível e o resultado é o comprometimento da biodiversidade e do dia a dia da população ribeirinha.
No outro extremo, destacou o presidente, o Sul do país está à mercê de ciclones frequentes, em decorrência da perversa combinação do efeito estufa e o El Niño, que aquece as águas superficiais no leste do Oceano Pacífico. “O planeta já não espera para cobrar a próxima geração. O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos, de metas de redução de emissão de carbono negligenciadas, de discursos vazios”, enfatizou Lula advertindo que a conta chegou.
Na mesma linha, o secretário-geral da ONU, António Guterrez, destacou não ser possível salvar o planeta com altas temperaturas “com uma mangueira de incêndio de combustíveis fósseis”. Ele e o dirigente brasileiro advertiram para a questão dos combustíveis fósseis. No entanto, paradoxalmente, o Governo brasileiro estuda a possibilidade de se filiar à Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep-plus), que envolve, exatamente, a produção do combustível que mais polui o planeta.
É fato ser este apenas um dado, sobretudo quando se faz a conta e se surpreende com o descomprometimento dos países que mais poluem o planeta. O investimento em energia renovável ainda é tímido se comparado com os recursos em outras demandas. Lula apontou o crescimento substancial com armamento, mas poderia destacar outras instâncias que têm prioridade ante a questão ambiental.
Há componentes que precisam continuar na agenda dos eventos como o de Dubai, que se estenderá por toda a semana. Os países mais ricos, sobretudo os maiores emissores de gás, deveriam dispender recursos para financiar políticas de recuperação ambiental. O Brasil, de acordo com o presidente, tem meta de zerar o desmatamento até 2030, uma proposta ousada e que carecerá de recursos externos para ir adiante.
Como já foi reiteradamente destacado neste espaço, a questão ambiental envolve muitas frentes. Conferências, como a que ora ocorre no Oriente Médio, são necessárias, mas carecem de maior efetividade. Desde a ECO 92, passando por Kioto, Acordo de Paris e tantos outros fóruns, já se conhece o legado para as próximas gerações. O calor extremo, as secas acentuadas, chuvas em excesso e o aumento do nível do mar são apenas os primeiros eventos resultantes da ineficácia humana. Há os que entendem ser apenas uma questão da natureza, mas a ciência já destacou ser a inação de Governos a principal causa dos fenômenos que já se antecipam.