O inverno deu as caras nos últimos dois dias, mas não deve ficar por muito tempo, de acordo com a meteorologia, que prevê novas ondas de calor fora da estação. Tal instabilidade é resultado do La Niña, fenômeno que precede o El Niño e, como este, muda a temperatura das águas dos oceanos.
As consequências são mais críticas no Rio Grande do Sul, onde chuvas intensas em abril provocaram quase duas centenas de mortes e danos econômicos de longo prazo.
No Norte do país, chuvas abaixo da média e temperaturas elevadas já estão sendo sentidas, segundo alertas do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), cujos estudos, apresentados pelo analista Flavio Altieri, indicam uma seca similar à do ano passado na região Amazônica. “A gente tem os efeitos do fenômeno El Niño que ainda interferem na região e mantêm o aquecimento do Atlântico Norte e Sul, resultando em pouca chuva na Amazônia”, destacou Altieri.
Dados da Agência Brasil, coletados pelo Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, mostram um déficit de 27% nas chuvas nos últimos 12 meses até abril. Essa situação afetou severamente rios como o Negro, impactando populações ribeirinhas e a economia local. A natureza continua a dar avisos.
No Caribe, o furacão Beryl, elevado à categoria 5, causou pelo menos duas mortes. Furacões nesta época do ano são comuns, mas estão se espalhando para outras regiões, como o Rio Grande do Sul, afetado por ciclones recentemente. Mudanças climáticas têm sido tema de diversos fóruns ambientais.
Cientistas alertam para ações de organismos governamentais, privados e da população que agravam esses problemas. Em Juiz de Fora e entorno, áreas da mata Atlântica estão sob risco devido a queimadas e desmatamento deliberado. A mitigação desses processos depende da conscientização coletiva.
A despeito de tantos alertas e manifestações climáticas, uma expressiva parcela da população global está sujeita a situações de risco ante a leniência no trato do tema. Os fortes interesses econômicos continuam ditando as normas e a falta de consciência coletiva em torno do que virá pela frente agrava o problema.
A catástrofe gaúcha deveria ter o viés pedagógico quando se avaliam as medidas que deveriam ter sido tomadas, mas não saíram do papel. Mas não é preciso ir tão longe. A Região Serrana do Rio de Janeiro, em menos de duas décadas, passou por duas tragédias. Lá, como no Sul, as ações ficaram mesmo no discurso das autoridades. Há, é fato, exceções.