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Números reais e perversos

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Divulgada nessa quinta-feira, a pesquisa “Visível e invisível – a Vitimização de Mulheres no Brasil” – do Fórum Brasileiro de Segurança Púbica e do Datafolha, revela que nos últimos 12 meses 28,9% – o que implica 18,6 milhões de mulheres – relataram ter sido vítima de algum tipo de violência ou agressão. Trata-se, pelos dados demonstrados, do maior percentual da série histórica, significando que 35 mulheres foram agredidas física ou verbalmente por minuto no país.

Não há necessidade de se estabelecer um ranking do Brasil em comparação com outros países para se chegar à conclusão do tamanho da violência no país. Os pesquisadores ouviram, do dia 9 ao dia 13 de janeiro, 1.042 mulheres com 16 anos ou mais em 126 municípios de pequeno, médio e grande porte. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos na amostra nacional e de três pontos para mais ou para menos na amostra do módulo de autopreenchimento.

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Os pesquisadores, de acordo com o portal nacional G1, apontaram pelo menos três fatores que podem ter influenciado o aumento do número de casos. O primeiro deles foi “o fim de financiamento das políticas de enfrentamento à violência contra a mulher por parte do Governo Bolsonaro nos últimos quatro anos”. O segundo foi “a pandemia de Covid-19, por ter comprometido o funcionamento de serviços de acolhimento de mulheres”. E, finalmente, “a ação de movimentos ultraconservadores que se intensificaram na última década e elegeram, entre outros temas, a igualdade de gênero como um tema a ser combatido, com vistas às eleições de 2022”.

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São sólidas as argumentações, mas a questão, agora, é saber o que pode ser feito para reverter essa curva ascendente. As mulheres, é fato, ganharam assertividade, mas ainda enfrentam fortes obstáculos no mercado de trabalho, nas ruas e também nos lares. A despeito do século XXI, ainda há um forte apelo na sociedade para, equivocadamente, colocarem-nas em segundo plano. Nesse aspecto, o Brasil andou para trás.

Embora associadas, a desigualdade e a violência não são a mesma coisa. A pesquisa tratou da violência contra as mulheres e cobra, a partir dos próprios números, medidas de enfretamento a esse processo que, se nada for feito, está prestes a ser naturalizado. A facilidade para liberação de armas desdobrou-se num flagelo, bastando acompanhar os próprios dados da pesquisa.

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Ademais, a desidratação de políticas públicas – como desvendaram os pesquisadores – é outro dado que precisa ser avaliado, a fim de se recuperar o tempo perdido. Um infindável número de mulheres se submete cotidianamente aos diversos tipos de violência por não terem ou desconhecerem a quem recorrer. As diversas políticas que tinham esse olhar ou foram desativadas ou tiveram queda nos recursos.

O mês de março, no qual se celebra o Dia Mundial da Mulher, é emblemático para a discussão desse e de outros problemas que perpassam o dia a dia e terminam com registros nas delegacias.

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Maioria da população e nos colégios eleitorais, as mulheres ainda têm um longo caminho para enfrentamento da violência e da desigualdade, o que só será possível com o envolvimento coletivo de todos os gêneros e camadas sociais. Não há espaço para omissão.

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