No seu discurso de posse, o presidente Lula reafirmou as metas de campanha nas quais o combate à desigualdade é prioridade. Tem razão. A despeito de seu potencial econômico, o país acumula distâncias abissais entre os que mais têm e os que menos podem, criando um abismo que se reflete na rotina das ruas. A cada esquina, a cada sinal, é possível ver indigentes em busca de ajuda.
No entanto, para cumprir as propostas que apresentou em seus dois discursos, o presidente vai precisar de respaldo da área econômica, uma vez que somente com uma economia sólida, contas em dia e metas de crescimento será possível executar os propósitos do presidente. E é aí que entra o fator Haddad. O ministro da Economia tem a responsabilidade de levar o país ao crescimento, o que passa, necessariamente, por medidas de estabilidade que induzam os investidores a apostarem-no país.
Com a economia estável, até a democracia vai bem, pois é possível olhar para o futuro sob a garantia de que as metas levadas aos palanques sejam executadas e de que os contratos sejam cumpridos, desde que feitos sob o rigor da lei.
Nos dois pronunciamentos de posse – um no Congresso e outro no parlatório do Planalto -, o presidente deu duros recados e mostrou-se disposto não a um acerto de contas, mas de levar à Justiça as demandas que, no entendimento de seu mandato, ocorreram fora dos princípios democráticos. Disse que vai governar para os 205 milhões de brasileiros, o que é um bom sinal, mas sabe que os desafios de hoje são distintos dos de 2003, quando ocupou a cadeira presidencial pela primeira vez.
Há 20 anos, recebeu a faixa do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, que o derrotara em duas eleições. Foi uma transição sem traumas, sobretudo por não haver grande distância ideológica. Hoje, não. Lula sabe que terá um Congresso com mais hostilidade do que o que encontrou no seu primeiro e também no segundo mandato. A oposição nas ruas também é uma realidade, a despeito de não se saber como vai se comportar o ex-presidente Jair Bolsonaro, ora nos Estados Unidos.
Mas os principais desafios, de fato, estão na agenda a ser implementada para os próximos quatro anos. O presidente anunciou a retomada de vários projetos que carecerão de respaldo da equipe de Fernando Haddad. No primeiro embate, o ministro perdeu. O Governo manteve a prorrogação da isenção de impostos dos combustíveis, embora o ministro fosse contra. Pesou a política, pois cancelar a isenção teria reflexos imediatos no preço dos combustíveis, e começar com eles em alta seria um problema.
O novo Governo sinaliza para uma intervenção maior na Economia, cancelando programas de privatização de estatais, como a Petrobras, mas isso não significa, necessariamente, um problema, desde que as ações sejam discutidas nos vários fóruns, como prometeu o próprio presidente, ao anunciar reunião com todos os governadores e ouvir todas as classes. A conferir.