Desde junho de 2013, os partidos políticos, e até os sindicatos, estão sendo avisados de que uma nova ordem estava em curso, reforçada pelo advento das redes sociais. Os movimentos formulados pelas ruas, como a Tribuna apontou na sua primeira matéria do ano, são um claro recado às formas institucionais do fazer político, como se dissessem em alto e bom tom: vocês não nos representam. Há, é fato, margem para discussão, uma vez que a via partidária ainda é fundamental para o processo de mudança e de representatividade, mas os dirigentes partidários e sindicais deveriam levar em conta que os tempos estão mudando. Ademais, ante a série de denúncias de corrupção, a opinião pública busca novas fórmulas de representação, dando espaço para tais movimentos em detrimento da instância política.
E não é por falta de oportunidade. As manifestações de junho foram o primeiro alerta, quando rejeitaram todos os partidos, indistintamente, e optaram por protestos difusos e até sem lideranças formais. Mesmo assim, pararam o país e deram o seu recado em ações pontuais, que se espalharam de acordo com a conveniência dos vários grupos. Em 2014 e 2015, o povo voltou às ruas, agora, com propostas mais claras, mas, mesmo assim, sem as principais legendas, por considerá-las inadequadas para a discussão de temas relevantes. Trata-se de um equívoco, mas justificado, por conta das próprias siglas que não fizeram o dever de casa, a despeito das diversas oportunidades.
No ano passado, o Congresso teve a chance de fazer uma reforma política profunda, mas o resultado foi pífio, com alterações pontuais, forjadas nas conveniências dos próprios políticos. Questionados, os dirigentes fizeram ouvidos de mercador ao discurso popular por mudanças. Mais do que isso, deputados e senadores, principalmente, enveredaram-se pelo perigoso caminho da omissão. Tanto a Câmara quanto o Senado estão sendo presididos por parlamentares investigados pela operação “Lava jato”, o que, de pronto, exigiria deles o afastamento, mesmo por um tempo, até que provassem sua inocência. Mas não é isso que se vê. O senador Renan Calheiros age de modo pendular, ora apoiando o Governo, ora agindo como a voz do Congresso. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tenta dizer aos pares e ao próprio país que não cometeu nenhum ilícito, mesmo diante de provas robustas em contrário.
Como os políticos tocam a discussão em passos de valsa, as ruas se manifestam, cumprindo o papel que deveria ser exercido por aqueles que foram eleitos, por essas mesmas ruas, para falar e votar em seu nome. Não fazem, porém, nem uma coisa, nem outra.