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Dentro das quatro linhas

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O presidente Jair Bolsonaro quebrou o silêncio e, num rápido pronunciamento, disse que joga dentro das quatro linhas, sinalizando que aceita o resultado das urnas de domingo, embora considere os números injustos. Não citou o nome de seu oponente – o que pode ser uma questão protocolar -, mas, ao dizer que os protestos são democráticos desde que não comprometam a vida da população, “ao contrário da esquerda”, sinalizou que não há margem para as manifestações, especialmente nas rodovias, que travaram o trânsito de caminhões, alteraram os horários dos ônibus e, como dano colateral, levaram ao desabastecimento de vários serviços, a começar pelo de combustíveis.

Foi um discurso rápido, mas emblemático. Bolsonaro disse que a direita é uma realidade – o que é fato – e destacou que o próximo governo terá forte oposição, o que é da democracia. Deixou para o ministro Ciro Nogueira o desfecho do evento no Palácio da Alvorada, quando este, devidamente autorizado pelo presidente da República, disse que irá receber o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, para iniciar a transição.

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O presidente também sinalizou que não será uma peça fora do jogo a partir de 1º de janeiro, quando passará o bastão para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Apresentou-se como principal liderança da futura oposição, o que já o coloca no jogo para 2026. É fato que em quatro anos muita coisa muda, sobretudo na política, mas também é um recado para os novos players, como o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e Tarcísio de Freitas (PL), eleito por São Paulo, líderes dos dois maiores estados do país, de que terão que remar para ganhar uma eventual indicação da direita, a qual Bolsonaro enfatizou ser uma realidade que veio para ficar.

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Essa mesma direita já se antecipou, por meio de diversos deputados eleitos, que não dará folga ao presidente eleito, exigindo-lhe muito jogo de cintura para levar adiante suas pautas no Congresso Nacional. Mas trata-se de um jogo que ainda não começou oficialmente, embora a formatação do ministério seja o primeiro indicativo.

No pronunciamento de domingo, após o TSE ter confirmado sua vitória, Lula assegurou que vai governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que lhe asseguraram a vitória. Não poderia ser diferente. A questão é saber como vai levar esse processo adiante. Se apresentar uma equipe além do viés ideológico, pode ser que avance, já que carecerá de respaldo de diversos segmentos. Uma espécie de frente ampla pode ser o antídoto contra impasses como o que começou já no próprio domingo.

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A democracia, é fato, precisa de divergência, e seus atores devem aceitar o contraditório, sobretudo quando se pensa em trabalhar para um país ora dividido ao meio. Acolher pautas para além de seu campo de atuação pode ser um dado positivo, mas vai carecer de articulação dentro e fora da própria base.

Esta é apenas a primeira semana após a eleição. Os próximos dias serão emblemáticos, exigindo dos “bombeiros” um papel assertivo e serenidade.

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