Embora tenha uma privilegiada produção de energia, a distribuição tornou-se um problema no país. Estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, nos quais estão instaladas as maiores indústrias, estão registrando cortes frequentes sem que haja uma explicação plausível. Os governadores Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e Cláudio Castro, por mais de uma vez, já manifestaram interesse em tirar as geradoras de sua jurisdição.
Não é uma questão simples. O brasileiro tem resistência a projetos de privatização sob o argumento de não serem eles os instrumentos eficazes para melhorar o desempenho das estatais. Desde o seu mandato anterior, o governador Romeu Zema tem a privatização da Cemig como prioridade. O projeto não avançou por conta da resistência na própria Assembleia Legislativa. Ademais, há uma lei, ainda do tempo do governo Itamar Franco, que exige o referendo das ruas para vender os ativos do Estado.
Itamar tomou tal iniciava nos primeiros dias de seu mandato após cancelar um acordo firmado pelo seu antecessor, Eduardo Azeredo, com um grupo de investidores americanos. Ele não só rejeitou a privatização como investiu na empresa.
No decorrer dos anos o projeto de Itamar passou por distorções e a Cemig terceirizou boa parte de seus serviços. Os cortes de energia aumentaram sem uma explicação convincente. Ocorre o mesmo no Rio e em São Paulo. O ministro das Minas e Energia, Roberto Silveira, disse que haverá multas pesadas para as operadoras. Disse ainda que o governo vai determinar a abertura de um processo administrativo contra a distribuidora de energia elétrica de São Paulo Enel para apurar falhas da empresa em relação à sua prestação de serviço.
No seu primeiro mandato, o presidente Fernando Henrique criou uma série de agências reguladoras com a missão de fiscalizar os sistemas de água, energia elétrica, telefonia e outros. Seus diretores tinham autonomia sem qualquer viés político partidário e não podiam ser demitidos.
Com o passar dos anos, o processo de ocupação das agências foi distorcido e os governos, tanto à esquerda quanto à direita adotaram o nefasto aparelhamento cujas consequências são vistas. Não há qualquer controle e as decisões das agências são ignoradas.
A despeito de sua rede hidrográfica, o país precisa melhorar a sua infraestrutura e apostar em energias renováveis, cujo custo é menor e sem comprometimento do meio ambiente.
Depois de tanto tempo, as agências reguladoras carecem de aprimoramento, pois só desta forma será possível acompanhar as ações dos operadores. Hoje a regulação é precária e a transparência é deficiente.
Reverter o cenário de cortes frequentes de energia e a aparente inação das agências reguladoras exige um compromisso conjunto entre Governo, setor privatizado, reguladores e, especialmente os consumidores. Ao fim e ao cabo, é no bolso destes que pesa a conta.