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É hora do basta

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Um episódio de injúria racial, mais uma vez, é escancarado nas redes sociais e mostra que este crime ainda é muito real pelo país afora. Dessa vez, um empresário negro foi agredido dentro de uma agência bancária de Salvador, na Bahia, sendo imobilizado por um policial militar com um golpe chamado de gravata ou mata-leão, diante da filha de 15 anos, que fez as imagens, as quais acabaram viralizando nas redes.

A agressão teria ocorrido depois de o empresário Crispim Terral ficar cerca de quatro horas esperando atendimento. Crispim teria ido perguntar o motivo de o banco ter retirado mais de R$ 2 mil da conta dele, e, após a longa espera, o gerente o liberou sem nem atendê-lo. A informação é a de que era a oitava vez que o empresário ia na agência para resolver o problema. Mas, dessa vez, ele teria se recusado a ir embora e acabou se exaltando. O gerente da agência teria deixado a injúria racial clara ao falar: “Só irei acompanhar se ele sair daqui algemado e não faço acordo com esse tipo de gente!”.

O crime ocorreu no dia 19 de fevereiro, mas só veio à tona esta semana com a viralização das imagens de agressão. Em qualquer lugar, a cena não poderia ser admitida, mas chama a atenção o fato de ter sido registrada em uma cidade onde mais de 80% da população é formada por pessoas negras. Como resposta, o banco divulgou, por meio de nota, na última quarta-feira, que afastou o empregado acusado de racismo e afirmou que repudia as práticas e as atitudes de discriminação. O Movimento Negro também agiu e fez uma manifestação dentro da agência.

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Agilidade e justiça é o que se espera na apuração deste caso e na punição para que o racismo não seja naturalizado no dia a dia. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) garantiu que estará firme, forte e vigilante para que Crispim seja justiçado. No entanto, outros tantos Crispins continuam sendo vítimas de racismo, muitas vezes, em cenas que passam despercebidas, mas, em outras, que podem acabar até em morte, como o episódio do jovem negro que morreu em um supermercado no Rio, também em fevereiro, levando novamente a manifestações de revolta nas redes sociais, como o movimento #VidasNegrasImportam. O jovem negro e da periferia também havia levado uma gravata de um segurança, mas não resistiu.

Construir pontes para evitar os abismos entre brancos e negros no país deve ser um exercício diário, e, quando cenas como estas acontecem, fica parecendo que são dados passos para trás nos avanços já trilhados até aqui com muito sangue, suor e lágrimas pelo Movimento Negro. É hora de avançar. Mas, para isso, é preciso refletir e admitir que combater o racismo será mais difícil se houver resistência de assumi-lo como um problema social, moral e ético. É hora do basta.

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