Em conferência no seminário da série Fronteiras do Pensamento, o historiador escocês Nial Ferguson advertiu que a polarização tornou-se um veneno, referindo-se especialmente às redes sociais, pelas quais trafegam notícias e comentários de toda sorte, inclusive obscenos. Para ele, ao promover polarização, visões extremistas e notícias falsas, estão levando a sociedade a um estado de declínio. “Pior, tem aumentado o engajamento a uma linguagem obscena e à insensatez”, destacou.
O historiador, como bem lembrou o professor e jornalista Eugênio Bucci, pode ter exagerado quando aponta a incivilidade, mas está correto ao tratar da insensatez. Para tanto, é preciso avaliar o seu discurso por partes. De fato, a polarização tem sido danosa, pois tem apartado amigos, famílias e colegas, num debate em que todos têm opinião e não se interessam pelo ponto de vista do oponente.
Outro dado preocupante, também apontado por Ferguson, são as chamadas fake news. A produção de notícias falsas ganha viés institucional, quando há agências próprias para produzi-las. O jogo político tem sido um dos seus principais clientes, pois a tática de desconstruir o concorrente tornou-se uma estratégia de campanha. O grave é que não se avalia corretamente o conteúdo, e o compartilhamento amplia a repercussão de tais fatos, sejam eles verdadeiros ou não.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está, de novo, no centro do noticiário por compartilhar mensagens de um grupo de extrema-direita inglês, Britain First, com vídeos de ataques praticados por supostos seguidores do Islã. A veracidade de pelo menos um deles é questionada, mas, quando o homem mais poderoso do mundo retransmite tais informações, o dano é irreversível.
Há virtudes nas redes sociais, pois nunca se escreveu tanto e nem se mobilizou a sociedade com tamanha intensidade. O movimento de 2013 foi todo articulado pela web. Por isso, é fundamental ampliar as virtudes desse novo modelo de comunicação e combater suas mazelas, a fim de garantir uma sociedade mais justa, menos preconceituosa e ativista em torno de direitos coletivos.