No silêncio da madrugada, a Câmara dos Deputados alterou completamente o projeto de combate à corrupção. A maioria dos deputados aprovou um documento que distorce princípios básicos do pacote original, aprovado em primeiro turno. Quando a noite chegou, e as ruas já estavam em silêncio, vieram as mudanças. Como emendas em segunda discussão vão direto para o plenário, foi nesse momento que a farra começou. Além de alterarem a essência da matéria, os deputados retaliaram ao inserir punições aos magistrados, desconhecendo a Lei da Magistratura e o Conselho Nacional de Justiça, que têm instrumentos próprios para tais sanções.
O Senado, que seguiu o Planalto na aprovação da PEC que limita gastos do Governo, ainda tem chances de reverter o projeto, mas lá, como na Câmara, também há parlamentares que votam de acordo com conveniências. No caso, para se defender da Lava Jato, que deve enquadrar pelo menos 300 políticos envolvendo as duas casas.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse, ao referendar as mudanças, que a democracia é assim, vale a maioria, mas se esqueceu de acrescentar que, neste caso, tratava-se de uma maioria voltada mais para interesses próprios do que para os da população. Os deputados, de novo, ignoram a força das ruas, preferindo desafiá-las sistematicamente, pois seu voto é uma essência da democracia.
A questão é que muitos dos políticos envolvidos na Lava Jato e atuantes na tropa de choque contra a moralização ignoram solenemente a manifestação da opinião pública, pois dela, de certa forma, não dependem. São donos de currais eleitorais, aos quais não precisam prestar a mínima satisfação. Aos demais, porém, vale o alerta. As redes sociais estão mais ativas e, certamente, irão lembrar ao eleitor como foi a ação do seu deputado ou senador. Dois mil e dezoito vem aí.