A decisão dos motoboys de não fazer entregas em áreas de risco é uma clara constatação da exclusão pela força que está se tornando comum nas metrópoles. Com toda razão, não colocam sua vida e o seu material de trabalho em risco, mas o principal perdedor é a própria comunidade, que fica apartada de determinados serviços por conta da violência. Como a Tribuna mostrou na edição dessa quarta-feira, vários bairros já não recebem atendimento e outros passam por restrição ante a possibilidade de assalto. Os moradores de regiões carentes, porém, não ficam privados apenas dos serviços de entrega. Em determinados horários, os serviços de transporte, como táxis, também evitam dar atendimento sob argumento semelhante: podem ser assaltados.
Esse drama das cidades tornou-se um desafio para os governos, uma vez que não há meios de uma vigilância permanente, que seria ideal. Mas fica claro que as áreas mapeadas precisam de ações mais intensas, sobretudo dos serviços de informação, a fim de identificar os recorrentes autores de crimes contra o patrimônio que podem subir para crimes contra a vida, dependendo das circunstâncias. O relato de uma das vítimas é a prova disso: sob o risco de perder a moto, tentou dar um tapa na mão do assaltante. A frieza do bandido salvou-lhe a vida, pois, em vez de atirar, ele só reforçou a ameaça. Mas poderia ter ocorrido algo pior.
A própria comunidade precisa também reagir, embora seja forçada à lei do silêncio, pois se tornou a principal vítima desse ciclo. Em muitos casos, os bandidos vivem na comunidade e são conhecidos. Esse silêncio é próprio, por exemplo, nos atos de vandalismo que destroem escolas com furtos de equipamentos e alimentos. Os autores são identificados, mas a ação não prossegue pelo instinto de sobrevivência dos que podem apontá-los para a polícia.
Desta forma, a prevenção é a única saída para evitar tais situações. Os serviços de entrega crescem expressivamente, mas nem todos terão acesso por conta da insegurança que marca determinadas regiões.