A Igreja, através do Papa Francisco, propõe a todas as pessoas de boa vontade que o ano que se inicia seja um ano de Jubileu, que permita a todos e todas um peregrinar na Esperança. O Jubileu é um tempo que, segundo a história da fé cristã, o Papa proclama a cada vinte e cinco anos. Ele traz sempre a proposta de ser um período especial de graça, de perdão, de reconciliação e de renovação da vida, em todos os sentidos.
No ano de 2025, a esperança é colocada como o fio condutor do caminho que somos chamados a percorrer. É ela que deve mobilizar nossos passos em direção à meta que sempre nos convida ao encontro com o Senhor, encontro capaz de garantir um sentido para as nossas vidas, mesmo em meio às tribulações.
A proposta da esperança como núcleo irradiador traz, nesse momento, inevitáveis perguntas: qual esperança devemos cultivar? Esperança de que e para quê? Não será essa palavra apenas mais uma ilusão para nos agarrarmos como a uma tábua de salvação individual que nos livrará das muitas tormentas que teremos que enfrentar? Como ter esperança se vivemos em um mundo dilacerado por incompreensões, divisões, conflitos e guerras de todo tipo, que parecem longe de ter fim?
Na bula do Jubileu, Spes non confundit, proclamada em maio de 2024 por Francisco, temos algumas indicações preciosas. Ele diz que a esperança, irradiada pelo Espírito Santo, está presente no coração de cada pessoa como desejo e expetativa do bem, apesar de não sabermos o que trará consigo o amanhã. Ela não nos deixa esmorecer nas dificuldades porque está fundamentada na fé e é alimentada pela caridade. Essa é a esperança cristã, e para que ela seja viável, ele nos aponta alguns requisitos.
Um deles é a paciência, que precisa ser redescoberta em um mundo onde a pressa e o imediatismo nos tiram o fôlego, trazendo “a intolerância, o nervosismo e, por vezes, a violência gratuita, gerando insatisfação e isolamento”. Por isso, somos chamados a ser peregrinos da esperança, pois no caminho a ser feito vamos descobrir o valor do “silêncio, do esforço, da essencialidade”.
Um outro requisito é a capacidade de descobrir a esperança nos “sinais dos tempos”, que o Senhor oferece, conforme já nos indicava a Gaudium et spesno § 4, do Concílio Vaticano II. Reaprender a prestar atenção também ao bem que existe no mundo é uma tarefa atual. Isso faz com que tenhamos uma “visão da vida carregada de entusiasmo para transmitir”.
Assim, podemos sonhar com a paz e nos esforçarmos para que ela aconteça. “A necessidade da paz interpela a todos e impõe a execução de projetos concretos”, diz Francisco.
Um outro requisito é a abertura à vida, que nos convoca a sermos sinais palpáveis de esperança para muitos irmãos e irmãs que vivem em condições de dificuldade. Francisco cita, aqui, alguns necessitados como os presos, os doentes, os jovens, os migrantes, os exilados, deslocados e refugiados, os idosos e os pobres. Gostaria de propor que nossa atenção também esteja voltada para as crianças, pois inúmeras delas estão fadadas a um futuro ameaçador e sem sentido, em função de um mundo hostil.
Neste ano jubilar, peçamos que nossa fé se fortaleça em meio aos desafios atuais, para que possamos, como o Papa nos pede,“oferecer ao menos um sorriso, um gesto de amizade, um olhar fraterno, uma escuta sincera, um serviço gratuito, sabendo que, no Espírito de Jesus, isso pode tornar-se uma semente fecunda de esperança para quem a recebe”. Que nos deixemos também atrair pela esperança que se realiza no amor, sobretudo aos mais vulneráveis, fazendo com que, por nosso intermédio, ela se torne contagiosa para que muitos possam vivê-la e transmiti-la, não como uma palavra entre outras, mas como uma realidade a ser verdadeiramente experienciada.
Esse espaço é para a livre circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail (leitores@tribunademinas.com.br) e devem ter, no máximo, 30 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.