“A paciência está em falta no mercado, e pelo jeito, a paciência sintética dos calmantes está cada vez mais em alta”. (Arnaldo Jabor)
Vivemos no tempo do imediatismo. A tecnologia que nos proporcionou facilidades para resolver nossos problemas corriqueiros deixou-nos mal acostumados. Se antes tínhamos que riscar o fósforo para acender o fogão a gás, agora o acendimento automático resolve o problema. Curioso é que esses avanços deveriam deixar-nos mais calmos e menos ansiosos E, no entanto, não é o que está acontecendo. Acostuma-nos a comprar nas farmácias “tranqüilidade em comprimidos” porque os chazinhos da vovó não resolvem mais. As causas da impaciência revelam uma insatisfação onde ela é apenas um sintoma. O grande avanço da ciência e da tecnologia ainda não conseguiu uma forma de eliminar a ansiedade. É porque a causa é o modelo de civilização que construímos.
O homem foi expulso do seu habitat natural por ele mesmo e passou a viver num mundo estranho, hostil, repleto de edifícios, automóveis, barulhos, violência, incentivo ao consumo, drogas, seqüestros, desemprego, dívidas, internet e todas as mazelas oferecidas pela nossa civilização moderna. Hoje a porta da nossa casa deixou de ser o símbolo das boas-vindas e se transformou numa cancela para oferecer segurança e proteção. Estamos agredindo a nossa natureza porque somos um animal social. Não fomos feitos para a solidão.
Um dos temas que o psicanalista alemão Erich Fromm (1900-1980), abordava é o da solidão. A personalidade de cada um desenvolve-se de acordo com as oportunidades e condições que a sociedade oferece. Se as exigências da sociedade contrariam a natureza humana, não lhe fornecendo as condições de se desenvolver enquanto espírito criador ou satisfazendo a sua necessidade de segurança, frustra e determina a alienação de sua condição humana. A intensidade e constância dessas condições adversas de vida podem levar o homem à conduta anti-social, à loucura ou a outros processos de autodestruição. A separação do homem de outros homens e da natureza tem-se intensificado ao longo dos anos e o homem está se sentindo mais só. Segundo Erich Fromm, o indivíduo cultivou interiormente sentimentos de desamparo e solidão, pois perdeu o contato com sua dimensão mais humana, deixou de ampliar suas virtudes, e assim tornou-se incapaz de interagir com os mesmos aspectos essenciais das outras pessoas. É a este processo que ele chama de alienação social, oculta por trás das personas de cada um, mas mesmo assim capaz de exercer um impacto sinistro sobre a humanidade. O preço que nós pagamos pela liberdade e pelo progresso é a solidão. E a pior solidão é a “solidão com”.
Em sua obra Medo da Liberdade defende que ao mesmo tempo em que o homem avança materialmente, ele se afasta cada vez mais dos outros. Desta forma, a liberdade tão almejada torna-se uma armadilha assustadora da qual ele tenta fugir através da conquista de recursos financeiros e da guerra pelo poder, por meio de uma passividade absoluta diante do autoritarismo, ou ainda pelas vias do conformismo social. Assim, o homem pode fingir que possui alguma coisa, ou que é propriedade de alguém, pois desta maneira sente que não está sozinho. Erich Fromm acredita que a aceitação do outro e de seus valores interiores, a prática da solidariedade e do trabalho em conjunto, o exercício da fraternidade e a instituição do conforto social podem oferecer à Humanidade uma saída viável para esta trágica situação criada pelo próprio Homem.
Será que na teoria freudiana a luta entre EROS (instintos de vida) e THANATOS (instintos de morte, destrutivos) o último sairá vitorioso? E que a construção de uma civilização não-repressiva é um sonho impossível? A onda de violência que tomou conta do mundo, e muitas com requintes de crueldade, não seria uma confirmação de que THANATOS está vencendo?
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