A violência no Brasil é um problema estrutural e complexo, que afeta milhões de brasileiros diariamente e reflete a desigualdade social, a falta de políticas públicas eficazes e a fragilidade do sistema de segurança. Em 2023, o país ainda figurava entre os mais violentos do mundo, com uma taxa alarmante de homicídios. Embora tenha ocorrido uma leve redução no número de mortes violentas, a situação continua grave, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.
De acordo com o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil representa cerca de 10% dos homicídios globais, embora tenha apenas 3% da população mundial. A desigualdade é um dos principais motores dessa violência. As periferias urbanas, em especial, são os locais mais afetados, com altas taxas de homicídios e crimes relacionados ao tráfico de drogas e a disputas territoriais entre facções criminosas. Cidades como Salvador, Fortaleza e Recife estão entre as mais violentas, refletindo um padrão de concentração da violência em áreas urbanas de maior desigualdade social.
Entre as capitais, Salvador, Macapá e Manaus figuram no topo do ranking das cidades mais violentas. Salvador, com uma taxa de 66,4 homicídios por 100 mil habitantes, lidera a lista. As razões para essa violência são múltiplas e incluem a falta de oportunidades, o desemprego, a exclusão social e a presença forte de grupos criminosos organizados. Em cidades como essas, a violência não é apenas uma estatística, mas uma realidade palpável para milhões de pessoas, que convivem com o medo, a insegurança e a falta de perspectiva.
O que chama a atenção é a persistência dessa violência em pleno século XXI. Apesar dos esforços do governo federal e estadual para combater a criminalidade, a sensação de impunidade, a ineficácia das políticas públicas e a falta de uma educação de qualidade contribuem para a perpetuação desse ciclo vicioso. O Brasil ainda não conseguiu implementar um sistema de segurança eficiente que promova a paz e a proteção para todos, especialmente nas periferias, onde a presença do Estado é mais rara e a violência é um modo de vida para muitos.
A violência no Brasil é um reflexo de um sistema desigual, onde as políticas públicas falham em atingir as camadas mais vulneráveis da população. Em vez de um combate efetivo ao crime, vemos um enfrentamento direto com a violência policial, muitas vezes exacerbada pela falta de treinamento e de mecanismos de controle. O país também enfrenta um problema sério de violência institucional, com a polícia sendo, em muitos casos, a principal perpetradora de mortes.
O desafio é imenso e requer ações mais contundentes e abrangentes. O fortalecimento das políticas de segurança pública, com foco em inteligência e prevenção, a implementação de programas sociais eficazes que promovam a inclusão e a educação, além de uma reforma no sistema de justiça, são algumas das soluções necessárias para reduzir a violência no país. Mas, acima de tudo, é preciso encarar a violência como um sintoma de um mal maior: a desigualdade social. Enquanto o Brasil não tratar esse problema de frente, a violência continuará a assolar suas ruas, suas famílias e seu futuro.
A sociedade brasileira precisa refletir sobre como se vê diante da violência. Até quando vamos tolerar que milhões de brasileiros vivam com medo e sem perspectivas de uma vida melhor? Até quando a violência será tratada como algo inevitável? As respostas para essas perguntas exigem não apenas políticas públicas, mas uma mudança cultural e uma mobilização de toda a sociedade para construir um país mais justo e seguro para todos.
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