Uma possível rede de tráfico de entorpecentes e drogas sintéticas foi desmantelada pela Polícia Militar esta semana na região. O esquema foi descoberto após a interceptação de uma encomenda dos Correios com mais de 1.300 comprimidos de ecstasy e de outras duas com mais de 1kg de maconha. As entregas teriam como destino final Juiz de Fora, mas foram remetidas para Mar de Espanha, a cerca de 60 quilômetros de distância. Desde segunda-feira (25), os pacotes foram entregues em três casas diferentes deste último município. Pelo menos dois jovens foram presos em flagrante por envolvimento no crime. Um deles, de 23 anos, é natural de Mar de Espanha, mas morava em uma república de estudantes no Bairro Granbery, região central de Juiz de Fora. No apartamento também foram apreendidos, após denúncia, 188 micropontos de LSD, mais 40 comprimidos de ecstasy, porções de haxixe, maconha e crack, balança de precisão, seringas, além de R$ 6.180 em dinheiro e outras substâncias ainda não identificadas.
“Há suspeita de ser uma rede de tráfico. O prejuízo deles foi enorme, estimamos de R$ 120 mil a R$ 150 mil só pela matéria-prima, sem o lucro”, disparou o comandante do pelotão de Mar de Espanha, tenente Ediney Ferreira. “A entrada desse material seria Juiz de Fora. Não seria comercializado em Mar de Espanha, até pela quantidade”, completou.
A ocorrência que desencadeou toda as ações foi registrada na tarde da última segunda, após uma mulher, 28, desconfiar de uma entrega na casa da avó. Ela não teria feito compras recentes com destinatário na residência, no Centro de Mar de Espanha, e também não reconheceu o remetente de Curitiba (PR). Ao abrir a caixa, a mulher percebeu se tratar de substâncias suspeitas, acionando a PM. Em seguida, ela fez contato com um primo de 17 anos, e ele disse que um amigo, 23, havia pedido o endereço do imóvel para receber uma encomenda.
Conforme a PM, logo depois que os policiais chegaram à casa, o adolescente começou a receber mensagens do colega, via WhatsApp, perguntando se a entrega havia chegado. Diante da resposta de que a caixa estaria com a prima dele, o suspeito teria chegado a oferecer até R$ 1 mil a ela para receber a embalagem. A mulher não aceitou qualquer quantia, mas foi convencida a deixar a caixa na calçada em frente a uma loja central em Mar de Espanha.
Já mobilizada no caso, a PM montou uma operação nas imediações do local combinado para efetuar a prisão em flagrante. Os militares viram o momento em que um carro chegou e dois suspeitos desembarcaram para pegar o material. A dupla foi abordada em seguida e detida. Ao verificar o conteúdo da caixa, a polícia descobriu a grande quantidade de comprimidos de ecstasy, totalizando 1.302 unidades. Na mochila do jovem de 23 anos ainda havia uma porção de maconha, além de um celular. Ao ser questionado, o envolvido alegou que receberia R$ 500 em troca de ir buscar as drogas. As substâncias alucinógenas e estimulantes seriam entregues a um homem não identificado no Centro de Juiz de Fora.
Já com o comparsa dele, 22, proprietário do veículo usado na viagem, foi encontrado um comprimido de ecstasy. Também havia uma bucha de maconha no interior do carro, que acabou apreendido. O jovem é natural do Rio de Janeiro e morador do Bairro São Pedro, na região da Cidade Alta em Juiz de Fora. Ele alegou ter usado seu automóvel a pedido do amigo, que teria fornecido o abastecimento de combustível, pedindo para buscar umas encomendas naquela cidade. O colega, por sua vez, disse que parte do pagamento seria dividido com o comparsa, e os dois acabaram presos em flagrante.
Entregas de maconha
Na tarde de terça-feira, cerca de 24 horas depois da apreensão de mais de mil comprimidos de ecstasy em Mar de Espanha, a Polícia Militar soube que uma segunda entrega de drogas havia sido realizada pelos Correios no Centro daquele mesmo município. A Justiça concedeu um mandado de busca e apreensão, e os militares seguiram para o endereço. O receptor do material, 27, foi encontrado na porta de seu trabalho, situado em frente ao imóvel onde mora. Antes mesmo de ser questionado, ele contou aos policiais sobre a entrega e afirmou desconfiar se tratar de entorpecente.
O homem confirmou ter deixado o suspeito de 23 anos, preso no dia anterior, usar seu endereço para mandar a encomenda. A caixa, postada em São Paulo, teria chegado por volta das 13h. O morador disse ter desconfiado da substância, porém, como estava terminando seu horário de almoço e teria que voltar ao trabalho, teria deixado para acionar a PM no fim do dia. Ele acrescentou ter ficado sabendo naquela manhã sobre a prisão do jovem e foi levado à delegacia para prestar esclarecimentos.
Já nesta quarta, mais de 1,1kg de maconha foi apreendido em uma terceira entrega flagrada pela PM em Mar de Espanha. Como das outras vezes, o morador, 18, relatou à PM que o mesmo amigo de 23 anos havia pedido para ele receber a mercadoria dos Correios em sua residência, alegando se tratar de baterias de som automotivo. O colega ainda ficou de buscar o pacote no próximo fim de semana. Devido aos fatos ocorridos anteriormente, o jovem decidiu abrir a embalagem, remetida em São Paulo, e verificou a existência de um produto diferente do anunciado. Imediatamente ele chamou sua advogada e se apresentou em uma unidade policial, com as três barras de maconha prensadas.
“Todas as ocorrências estão conexas. O primeiro remetente era Curitiba, e os outros dois eram de São Paulo. As embalagens eram disfarçadas como materiais de informática”, informou o tenente Ediney Ferreira na tarde desta quarta-feira (27). “Os dois rapazes presos pegavam endereços emprestados com amigos deles, sob o pretexto de que precisavam receber uma encomenda. Após as prisões, as pessoas começaram a ficar com medo. Quando esse (último) rapaz viu a droga, fez contato com a PM. Vimos a boa índole dele, depois de várias perguntas, e percebemos que não tinha a ver com a ação ilícita, apenas cedeu o endereço de boa fé. Como os donos da mercadoria já estavam presos, ele foi liberado”, esclareceu o comandante do pelotão de Mar de Espanha.
Mãe de morador da república procura PM
A apreensão na república de estudantes do Bairro Granbery, região central, aconteceu ainda na terça-feira (26), após o desmantelamento do esquema. Uma advogada de 58 anos e mãe de outro morador da mesma república procurou a sede do 27º Batalhão da PM, no Bairro Nova Era, Zona Norte, para denunciar que desconfiava da existência de droga no imóvel, situado na Avenida Itamar Franco. Ela fez a comunicação depois de saber que um dos residentes, o jovem de 23 anos, havia sido preso por tráfico em Mar de Espanha. Além dele, moravam no endereço o filho dela e mais dois jovens, de idades não informadas.
A mulher solicitou aos policiais que comparecessem ao apartamento a fim de verificar se havia algo de ilícito naquele local. Ela abriu as portas, e os militares foram conduzidos até o quarto do rapaz preso, onde foram localizados os mais de R$ 6 mil em dinheiro e diversos entorpecentes. O caso segue em investigação na Polícia Civil.
Esta é a segunda vez neste ano em que a PM flagra drogas sintéticas que abasteceriam Juiz de Fora. Em fevereiro, foi desmontada outra rede de venda de drogas sintéticas e haxixe. Um dos presos na época foi flagrado levando comprimidos de ecstasy dentro de um ônibus que transportava universitários de Rio Novo para Juiz de Fora.