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Forte chuva alaga Santos Dumont e deixa famílias desabrigadas

Santos Dumont1 Olavo prazeres

Foto: Olavo Prazeres

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A chuva forte que caiu na noite de quarta-feira (20) na região causou estragos em diversos municípios, como Barbacena, Muriaé e Santos Dumont, cidade onde mais choveu em todo o estado de Minas Gerais entre o fim da noite de quarta e o início da manhã desta quinta (21). A Tribuna esteve na cidade, onde moradores e comerciantes contabilizavam os prejuízos causados pela chuva e pela inundação, que em alguns bairros chegou a cerca de um metro. No total, 15 pessoas, de duas famílias, ficaram desabrigadas. Segundo a Defesa Civil, não há desalojados, uma vez que os moradores optaram por não saírem de suas casas. Em decorrência dos estragos, o prefeito Carlos Alberto de Azevedo (PPS) vai assinar decreto de situação de emergência nesta sexta-feira (22), já que, até a noite de quinta, dependia ainda de relatório da Defesa Civil para oficializar o ato.

Por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, a Prefeitura também promove campanha para arrecadar roupas, alimentos, cobertores, materiais de higiene e colchões para residentes dos bairros Quarto Depósito, Santo Antônio, São Sebastião e Centro, as localidades mais atingidas. Apesar dos estragos, as aulas nas escolas municipais serão mantidas nesta sexta-feira (22). As aulas estão suspensas somente nos distritos de Cachoeirinha, Formoso e Serra. Embora as aulas na rede municipal sejam retomadas nesta sexta, o calendário letivo da rede estadual será definido de acordo com a estrutura de cada escola.

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Na Rua XV de fevereiro, Bairro São Sebastião, famílias contabilizaram os prejuízos durante a manhã (Foto: Olavo Prazeres)

Inicialmente, os moradores chegaram a ficar sem luz, o que também teria comprometido o abastecimento de água, já que uma manutenção estava prevista para esta quinta. Entretanto, conforme a Cemig, a energia elétrica foi restabelecida ainda na noite de quarta, após algumas horas de ausência. A respeito do abastecimento, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) informou à reportagem, à tarde, que opera normalmente. “A manutenção na rede de energia elétrica, programada pela concessionária responsável para esta quinta, foi cancelada devido às fortes chuvas que estão caindo na região, não sendo necessária a interrupção do abastecimento na cidade”, confirmou, por nota, a companhia.

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Volume de precipitação
Não há monitoramento do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em Santos Dumont, mas o pluviômetro do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), instalado no Bairro Quarto Depósito, registrou acumulado de 116 milímetros de chuva em aproximadamente 12 horas. Para efeitos de comparação, a média histórica de Juiz de Fora para fevereiro é de 174 milímetros.

Moradores da cidade contaram que a chuva começou por volta de 17h30 de quarta, e alguns tiveram que aguardar a diminuição do volume de água dentro de lojas. Chegou a circular nas redes sociais uma mensagem informando que uma garota de 11 anos teria sido levada pela enxurrada, mas uma hora depois ela foi encontrada na casa de numa amiga no Bairro São Sebastião. Essa informação causou bastante comoção em toda a cidade, mas logo foi esclarecida pelos familiares.

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Prefeitura vai decretar situação de emergência

Em entrevista à Rádio CBN Juiz de Fora, o secretário de Administração de Santos Dumont, José Geraldo de Almeida, informou que o prefeito decretará situação de emergência no município. Segundo ele, a preocupação é que a chuva ainda continue nesta sexta (22). Até a edição desta reportagem, o Executivo aguardava relatório da Defesa Civil para publicação do decreto. O instrumento permite ao Município pleitear, junto ao Estado de Minas Gerais, repasse de verbas para auxiliar os moradores de Santos Dumont.

Aparecida Meirelles mostra a altura que a água atingiu durante a tempestade, no Bairro Quarto Depósito (Foto: Olavo Prazeres)

“Já estão sendo tomadas todas as medidas administrativas. A situação não é confortável, mas não é desesperadora, está sob controle. Não houve feridos e vítimas fatais. As famílias desabrigadas foram levadas para a escola estadual do bairro durante a noite. Foi montado um comitê de urgência no Departamento de Assistência Social. Há funcionários para atender a qualquer urgência e prestar alguma orientação”, disse, na manhã de quinta, acrescentando que fez contato com os bombeiros de Juiz de Fora para que fiquem em alerta. Em entrevista à Tribuna, o vice-prefeito de Santos Dumont, Gerson Guedes Rabello (PDT), disse que a prioridade é assinar o decreto de calamidade pública, para que cheguem recursos para ajudar aos afetados.

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Doações concentradas na Igreja São Sebastião

Horas depois do início dos trabalhos emergenciais, doações já tinham chegado a Santos Dumont. No fim da noite, tinham sido contabilizadas 120 cestas básicas. Durante a quinta, as atividades ficaram focadas em recolher as doações e separá-las conforme categorias, como roupas, calçados, colchões, mantimentos e materiais de higiene. Os mantimentos estão sendo armazenados na Igreja São Sebastião e, também, na unidade da Polícia Civil de Santos Dumont. Desalojados e desabrigados, além disso, foram levados pela Prefeitura à Escola Estadual Bias Forte – conhecida, popularmente, como Vocacional. Uma força-tarefa, com apoio do 4º Esquadrão de Cavalaria do Exército Brasileiro, foi montada.

As próximas ações da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate às Drogas serão coordenadas conjuntamente com a Secretaria de Administração e o gabinete do prefeito. “Os assistentes sociais passarão para a gente quem não tem onde ficar. Às vezes, precisam do alimento, mas não têm nem onde fazer. Estamos em uma equipe conjunta. A gente está trabalhando por etapas”, explicou Patrícia de Oliveira Almeida, titular da pasta de assistência social. Conforme a secretária, o material mais necessário para doação é material de limpeza e higiene, uma vez que as roupas são maioria. As orientações podem ser obtidas pelos telefones (32) 3252-7424/3252-7400.

Às margens do Rio das Posses, água levou pertences

Ao passo que os moradores limpavam os resquícios de água e barro, móveis danificados estavam erguidos nos passeios. Pertences como roupas, calçados, medicamentos e alimentos foram levados, bem como bens materiais duramente conquistados. Casas de bairros periféricos como o Quarto Depósito, São Sebastião e Bairro das Graças, localizadas às margens do Rio das Posses, foram tomadas rapidamente pela água – a inundação superou um metro. Antes que fossem ajudados por vizinhos a sair de casa, moradores conseguiram, apenas, colocar alguns móveis em cima de plataformas mais altas.

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Eliane Aparecida da Silva Paula, dona de casa, mora na Travessa Aimorés, Bairro das Graças, com três filhos pequenos, a mãe, de saúde debilitada em razão acidente vascular cerebral, e com o esposo. “Sendo sincera, a minha preocupação é sair daqui, porque estou preocupada com a minha mãe e os meus filhos. Tenho medo de, quando estiver dormindo, a água vir e tomar conta de tudo. Ela chegou na janela do meu quarto”, relata Eliane. “Na hora em que a água começou a subir, meu menino mais velho foi para a casa da vizinha, a minha pequenininha ficou o tempo todo no colo do pai e o meu pequenininho dormiu em cima de dois travesseiros, porque não queria sair de perto da gente. A minha mãe, infelizmente, é agarrada com as coisas e não quis sair de dentro de casa. Os vizinhos nos chamaram: ‘Vamos embora para lá’, mas ficamos preocupados em deixar as coisas. Temos coisas de valor nas quais a minha mãe é muito agarrada. Ela suou, trabalhou para ter essas coisas”, acrescenta. A água da chuva, conforme Eliane, levou ainda o estojo em que guardava a insulina e os medicamentos da mãe. “Perdi ainda o armário, a cama dos meninos, o berço, algumas roupas e mantimentos. Só fiquei triste porque, ontem, era motivo de a gente comemorar, mas estávamos chorando. Era aniversário de 3 aninhos do meu filho.”

Pela terceira vez em seis anos, família de Edimar perdeu pertences em decorrência de temporais (Foto: Olavo Prazeres)

O agente comercial Edimar José da Silva Filho é morador da Travessa Alair Gomes Nogueira, no Bairro São Sebastião. Ao final do beco, um muro separa as margens do Rio das Posses das residências da vizinhança. Entretanto, a água que alagou a casa onde Edimar mora com os pais, já idosos, escoou da rua. Ele conta que, em fevereiro de 2017 e em dezembro de 2013, a família também perdera a maioria dos móveis em razão de fortes precipitações. “O rio não transbordou. A água veio da rua. Há muito tempo atrás, foram feitas obras de escoamento e de tratamento de esgoto. Desde então, o asfalto começou a ceder – parece que não foi de acordo com o que deveria ser. A rua virou galeria de água. Toda vez que chove, com o desnível que deu em relação ao asfalto, a água escoa para cá, porque não tem para onde ir, infelizmente”, explica o agente comercial.

Ao lado da travessa trabalham, no Presídio Santos Dumont, agentes penitenciários, responsáveis por tirar a mãe de Edimar de casa. “Na hora da chuva, estava trabalhando. Saí desesperado do trabalho, porque, pelo volume de água que vi no Centro, sabia que teríamos problemas aqui. Já sabia que tinha que vir socorrer os meus pais, os vizinhos… são todas senhoras de idade. A gente sabe que tem que vir ajudar. E toda vez que acontece algum problema, os agentes penitenciários nos ajudam. A gente deve um agradecimento muito grande a eles”, ressalta.

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Maria Imaculada e seus cinco netos foram tirados de casa por vizinhos durante enchente (Foto: Olavo Prazeres)

“Perdi tudo”
Maria Imaculada da Silva, aposentada, mora com cinco netos na última casa de uma das travessas da Rua Dr. Constantino Horta, às margens também do Rio das Posses. “A água vem da rua e do rio. Ela passou por cima do muro do vizinho e veio para a minha casa. As camas e as roupas molharam, e a mesa quebrou”, desabafa Maria Imaculada. “Na hora da chuva, eu estava em casa, mas para onde iria com essa criançada? Começamos a carregar algumas peças de roupa. Consegui tirar uma televisão e um som, mas não consegui tirar o resto. Perdi tudo. Não tenho mais nada.” A aposentada reivindicou a limpeza eficiente dos rios e das ruas. “Os lixos vêm todos da rua. Os bueiros são muito pequenos, não dá vazão e a água escoa toda para a minha casa.” Uma das netas de Maria Imaculada é pessoa com deficiência e epiléptica. “A água chegou no meu pescoço e, como tenho pavor de cobra, deixei [a casa] nas costas dos outros. Corremos para a casa dos vizinhos. Fui na casa da minha vizinha pedir a ela para fazer um café para mim e para as crianças.”

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Foto: Olavo Prazeres
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