Moradores do município de Belmiro Braga realizam, neste sábado (19), um ato simbólico, a fim de chamar a atenção do Poder Público para a reconstrução da antiga ponte sobre o Rio Paraibuna, conhecida como Ponte de Sobragy, que, há um ano e cinco meses, teve parte da estrutura cedida com a passagem de um caminhão que carregava leite. Eles irão se unir munidos com faixas, cartazes e apitos e ainda vão promover um abraço simbólico à ponte como forma de sensibilizar as autoridades da cidade para a necessidade das obras de restauração. O ato, segundo os organizadores, deve atrair cerca de 50 pessoas e tem início previsto para as 14h.
Ao longo do tempo sem a ponte, que liga o Distrito de Sobragy, em Belmiro Braga, ao município de Simão Pereira, o comércio e a vida dos moradores têm sido impactados de forma negativa. Segundo os moradores de Sobragy, eles estão ilhados. Antes do acidente com a ponte, eles levavam cerca de dez minutos para chegar a cidade de Matias Barbosa. Atualmente, com um desvio de cerca de 120 quilômetros, o percurso dura, aproximadamente, uma hora. Além do comércio que foi afetado, os residentes afirmam que existe a carência de serviços de entrega, como o de material de construção e de bebidas, por exemplo. A reclamação dos fornecedores, segundo a comunidade, é que o desvio eleva os custos da entrega.
Morador de Sobragy, o vereador Luiz Fernando Faião de Paula, conhecido como Sereno, afirmou que um requerimento foi aprovado pela Câmara Municipal de Belmiro Braga, na último dia 7, solicitando informações sobre medidas e providências à Administração municipal, a respeito das obras de recuperação da ponte. “Nossa Câmara também aprovou uma lei, que foi sancionada pelo prefeito, que autoriza convênio de cooperação mútua entre as cidades de Belmiro Braga e Simão Pereira, com objetivo de equacionar a situação da Ponte de Sobragy que faz a ligação entre os dois municípios. Situação essa que causa diversos transtornos e prejuízos para os municípios e toda a comunidade local”, ressaltou.
Direito de ir e vir
A família do historiador e pesquisador Sérgio Augusto Vicente, há 112 anos, tem um sítio às margens da estrada que liga Simão Pereira a Belmiro Braga. Ele é nascido e criado naquela região. Como representante daqueles que moram em Simão Pereira, Sérgio enfatiza que os moradores precisam, constantemente, acessar o município de Belmiro Braga, e a forma mais viável é por meio da Ponte de Sobragy. “Sem a ponte precisamos fazer uma viagem até a BR-040, perto de Juiz de Fora, pegar a MG-353, no sentido Torreões, fazendo um percurso muito longo para chegar a Belmiro Braga e mais ainda para chegar ao Distrito de Sobragy.”
Ele aponta que a importância da ponte para Belmiro, Simão Pereira, Matias Barbosa e toda a região circunvizinha está no direito de ir e vir dos cidadãos. “No momento, estamos com nosso direito de ir e vir cerceado pela falta da ponte e, com isso, muitos comerciantes locais estão sendo prejudicados, assim como a população. Estamos vivendo um momento econômico em que o preço da gasolina está caro, e a população que tem carro, para se deslocar para outros municípios, precisa gastar uma quantidade de gasolina maior. E estamos falando de um população que não tem um poder socioeconômico elevado. Isso impacta muito no cotidiano das pessoas. Fora que existe toda uma rede de comerciantes locais que precisa da ponte para atrair clientes, porque ninguém vai se deslocar por uma longa distância para ir a um bar em Sobragy, para desfrutar do que aquela localidade tem a oferecer, um potencial turístico, com clima tranquilo e interiorano.”
Valor histórico
Como historiador, Sérgio Augusto Vicente salienta o valor histórico e turístico da Ponte de Sobragy, que foi fundada em 1907 e foi fabricada em Glasgow, na Escócia. “Vejo que é uma grande perda para as comunidades uma ponte centenária ser abandonada. Ela é o cartão postal do lugar, porque as pessoas gostavam de ir a Sobragy só para fotografar a ponte. Ela tem um valor turístico, é um monumento histórico e é um ponto de atração de memórias afetivas. É um símbolo da comunidade que costura as memórias afetivas de várias gerações”, avalia.
O acesso
O nome oficial é Ponte Antônio Carlos, em razão do senador barbacenense Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, mas ficou conhecida como “Ponte de Sobragy”. Toda fabricada em ferro e assentada sobre bases de pedra e concreto, o monumento apresenta uma estética parecida com as pontes ferroviárias, o que leva alguns a afirmarem, na tradição oral da região, que se intencionava passar sobre ela o trem. A ideia teria sido deixada de lado logo depois de sua fundação, relata o historiador.
Todavia, como ele afirma, o “fato é que, após um histórico de abandono e de falta de manutenções periódicas em sua estrutura, a ponte chegou a um profundo estado de precariedade, que culminou, em agosto de 2020, na queda de metade do monumento”.
Prefeitura diz buscar verbas para obras de reconstrução
Secretário municipal de Governo de Belmiro Braga, Afonso César Valério Tassara de Gouvêa, afirmou que o prefeito José Paulo de Oliveira Franco, que não pôde atender à reportagem, pois encontrava-se em reunião em Juiz de Fora, está ciente da situação de dificuldades enfrentada pela comunidade de Sobragy e tem, nos últimos tempos, se esforçado para solucionar o problema. “O que ocorre é que é uma obra muito cara. O prefeito, desde quando tomou posse em janeiro de 2021, tem o sonho de erguer a ponte, porém é um obra de custo elevado. Ele já conseguiu alguma coisa, cujo valor arrecadado eu não sei dizer. Ele vai a Belo Horizonte para continuar na busca de verba e, assim que tiver o montante, a licitação será marcada”, ressaltou.
O secretário de Governo ressaltou que, além das verbas para a reconstrução da ponte, a Prefeitura tem outros gastos com o município. “A cidade tem muitas estradas vicinais. Essa chuva dos últimos dias vem causando problemas, que precisam ser resolvidos. Todavia, posso assegurar que a obra para recuperação da ponte é o maior problema que o prefeito busca solucionar.”
O secretário disse que não era possível estimar o valor atualizado para a obra, mas, há meses, o valor orçado ficava em R$ 2,5 milhões. “Esse valor é muito alto para um município pequeno em arrecadação, como Belmiro Braga. Hoje, se tiver a licitação, o valor será outro em razão do aumento de preços”, avaliou, acrescentando que a Prefeitura de Belmiro Braga está aliada à Prefeitura de Simão Pereira para solução da situação.