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BR-267 tem mais de 300 buracos entre JF e Bicas

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Foto: Fernando Priamo

DSBuraco na BR 267 by Fernando Priamo
Em alguns trechos é impossível desviar das erosões (Foto: Fernando Priamo)
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Os buracos se enfileiram ou se multiplicam aleatoriamente pelo asfalto, transformando o trecho da rodovia BR-267 que liga Juiz de Fora a Bicas em uma espécie de campo minado. Percorrer os cerca de 30 quilômetros que dividem as duas cidades não tem sido tarefa fácil para os condutores. Na véspera do feriado da Proclamação da República, nesta sexta-feira (15), quando o fluxo de veículos promete ser intenso, a Tribuna pegou estrada e contabilizou 315 depressões entre os dois municípios, incluindo verdadeiras crateras, até mesmo nas curvas. A média é de pelo menos dez aberturas nas pistas a cada quilômetro, sem contar aquelas que escaparam aos olhos da equipe de reportagem. Além de causar prejuízos diretos, como pneus furados, rodas e suspensões danificadas, a situação aumenta o risco de acidentes, já que os motoristas chegam a invadir a contramão para desviar das cavidades dos mais diversos tamanhos e profundidades.

A tensão aumenta neste período chuvoso, quando a pavimentação costuma ficar mais deteriorada e os reparos são mais difíceis. E foi sob chuva a maior parte do trajeto realizado para esta matéria, sendo também flagrante a falta de escoamento em alguns locais. A água que cai sobre o para-brisa preenche os espaços por onde passa e diminui a visibilidade, sendo praticamente impossível não cair em alguns dos mais de 300 buracos. Só até o Bairro Floresta, ainda em Juiz de Fora, eles somam 40, enquanto na altura do acesso a Chácara, ultrapassam cem. Outro segmento crítico é nas imediações da localidade conhecida como Passos da Pátria, a cerca de 800 metros da entrada de Sarandira. Na pista contrária, sentido JF, há cinco “panelaços”. Já em frente ao trevo de Bicas pipocam pelo menos dez.

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Buracos como este, próximo ao acesso a Bicas, são constantes em todo o trecho (Foto: Fernando Priamo)

O perigo é acrescido pelo tráfego constante de caminhões e carretas, já que a 267 faz ligação com as BRs 116 (Rio-Bahia) e 040, além de ser o principal acesso para vários municípios da região polarizada por Juiz de Fora. Como esse pedaço da rodovia é de pista simples e quase não possui acostamento e pontos onde a ultrapassagem é permitida, as imprudências são constantes na tentativa de escapar das crateras. Os carros parecem se espremer diante dos veículos maiores.

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E não foi difícil encontrar alguém com problemas na estrada devido às péssimas condições da via. Aparecida Moreno, 54, e Adão Lourenço, 58, viajavam de Juiz de Fora para Bicas, quando o veículo que os levava parou a 19 quilômetros do destino. “O carro passou num buraco e estourou o rolamento. O motorista pegou carona e foi comprar outra peça para colocar”, contou a mulher, enquanto aguardava às margens da estrada. “Fez um barulhão e começou a sair fumaça. Aí tivemos que parar, senão ia comer até o eixo. Já estamos nesta crise e vamos gastar dinheiro que não esperávamos. Perigoso acontecer um acidente também, porque é muito buraco”, avaliou o passageiro.

A Tribuna esticou até Maripá de Minas, por mais 15 quilômetros e outras dezenas de depressões. Há sinais de operações tapa buracos recentes, e as aberturas no asfalto ficam mais esparsas, mas a própria condição do pavimento ondulado e craquelado revela a necessidade de recapeamento na malha federal, sob responsabilidade do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Apesar da diminuição das cavidades nesse trecho, outros problemas são evidentes, como sinalização horizontal quase apagada na divisória das pistas e algumas placas encobertas pelo mato.

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Aparecida e Adão tiveram que interromper a viagem após rolamento ter estourado por causa de uma erosão (Foto: Fernando Priamo)

Convênio
A Superintendência Regional do Dnit em Minas Gerais informou apenas que o contrato de manutenção referente ao trecho citado, de Juiz de Fora a Maripá, está paralisado por determinação judicial. Em março do ano passado, quando a situação da rodovia ainda não era tão crítica, o Dnit havia informado que a conservação da estrada dependia da finalização de um processo licitatório para contratar empresa responsável pelas atividades. Na época, faltava a liberação do recurso para assinatura do contrato. Desta vez, não foram informados detalhes da possível irregularidade apontada pela Justiça.

O temor de usuários é que a situação piore neste período chuvoso que se inicia e deixe a importante rota sem condições de tráfego. “Essa rodovia está um caos devido aos enormes e profundos buracos, não vai demorar acontecer acidentes devido a isso. São verdadeiras crateras no asfalto. O período de chuva ainda nem chegou, e a rodovia já está assim, imagina quando chegar, sem dúvidas teremos mortes de inocentes”, desabafou o analista de sistemas Felipe Dias, 33 anos.

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Ele chegou a entrar em contato com a Ouvidoria do Dnit e obteve resposta por e-mail no último dia 8. Além de alegar a decisão judicial que paralisou o contrato de manutenção, como replicou à Tribuna, o departamento acrescentou ao usuário que “a unidade local do Dnit de Juiz de Fora, responsável pelo segmento, está elaborando novo orçamento para contratação dos serviços e, paralelamente, está buscando um convênio junto à Prefeitura”. “Como fechar acordo com as prefeituras se estão todas quebradas?”, questionou Felipe.

Borracheiros garantem serviço à beira da rodovia

Se, por um lado, os buracos causam prejuízos para muitos motoristas, por outro, garantem o sustento dos borracheiros que trabalham às margens da BR-267, no trecho entre Juiz de Fora e Maripá de Minas. Eles afirmam que serviço não falta, mas também reclamam da deterioração da malha asfáltica. Calotas à beira da estrada escancaram os danos, e mesmo que os cuidados sejam triplicados dificilmente se escapa ileso. Este mês, por exemplo, circulou comunicado nas redes sociais sobre sete veículos parados na mesma noite, próximo a Chácara, com pneus furados e/ou rodas amassadas.

Borracharia acumula pneus rasgados pelos buracos da rodovia (Foto: Fernando Priamo)

O proprietário de um restaurante situado no km 53 junto a um posto, Daniel Nascentes, confirmou que, pelo menos até a semana passada, em média dez pessoas chegavam diariamente ao local com algum problema em seus veículos, sobretudo nos dias chuvosos, quando os buracos ficam cheios de água. “Param aqui para esperar guincho ou atendimento, porque é um ponto de referência. Esta semana diminuiu porque começaram a tapar alguns.”

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O borracheiro Fábio José da Silva, 44, trabalha no km 63 e relatou que “toda hora chega um com pneu cortado, roda amassada ou quebrada”. “A turma só está tomando prejuízo com a estrada esburacada.” O movimento de carros é maior no fim de semana, enquanto nos outros dias a clientela predominante são os caminhoneiros. Ele mesmo chegou a perder um espelho retrovisor ao passar por uma depressão. “Tampam alguns buracos e pulam outros. Estavam sumidos, mas semana passada apareceram, porque o negócio estava muito feio”, disse ele sobre uma equipe de manutenção não identificada. “Mas com essa chuva não adianta. Nas duas primeiras fortes já começaram a aparecer essas paneladas. E só vai piorando.”

Mesmo no trecho menos esburacado entre Bicas e Maripá o borracheiro Marcelo Barbosa, 45, chega a atender de um a dois casos por dia em sua oficina no km 57. “Se cair no buraco o pneu estoura, a roda quebra.” O médico Carlos Carvalhaes, 69, de Bicas, contou que a filha dele estuda em Juiz de Fora e teve um pneu furado recentemente ao passar por cratera em uma curva no Passos da Pátria. Na sua avaliação, as “obturações” no asfalto não resistem ao movimento cada vez maior de caminhões.

O representante comercial Rafael Tavares, 35, costuma viajar semanalmente de Juiz de Fora até Muriaé. “Já tem uns seis meses que está assim. Recentemente deram uma recauchutada, mas ainda tem muito buraco. A tendência é piorar, e o risco aumenta muito. Eles têm costume de remendar, mas deveriam fazer um recapeamento.”

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Prefeito intercede
O prefeito de Bicas, Honório de Oliveira (MDB), afirmou à Tribuna que tem tentado interceder com a ajuda de deputados da região, já que a cidade é uma das mais afetadas pelo descaso. “Acabou, você não anda mais. Eu tenho cobrado, porque estamos muito prejudicados, principalmente o comércio. Juiz de Fora é a nossa capital, temos que viajar direto, eu mesmo vou duas ou três vezes por semana.”

No ano passado, Honório liderou um movimento, com chefes de Executivos municipais da região, representantes de associações comerciais e industriais, por uma grande intervenção na rodovia, como a construção de uma terceira faixa em subidas, trevos e um melhor recapeamento. Um documento chegou a ser entregue ao Ministério dos Transportes “Ainda foi no Governo Temer (Michel, MDB). Prometeram que iriam fazer uma reforma maior na estrada, mas acho que foi conversa. Quando mudou o Governo, trocou a equipe”, lamentou.

Trecho teve 68 acidentes com 9 mortes desde 2018

Excesso de buracos potencializa risco de acidentes (Foto: Fernando Priamo)

O traçado da BR-267 é antigo e desde sua inauguração, em 1975, a rodovia batizada de Vital Brasil não passou por intervenções de grande porte. As pistas simples, com poucos pontos seguros para ultrapassagem e acostamentos praticamente improvisados, contribuem para os sinistros no trecho entre Juiz de Fora e Bicas, que vai do km 93 ao 60. Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), desde o ano passado, já foram contabilizados 68 acidentes, que deixaram nove mortos. Apesar de a estrada estar em piores condições este ano, o número de ocorrências, inclusive fatais, foi maior em 2018, quando 40 registros resultaram em oito óbitos, dez vítimas gravemente feridas e outras 51 com lesões leves. Já em 2019, até o momento, foram 28 acidentes, com o saldo de um morto, 11 pessoas em estado grave e 33 levemente lesionadas.

Na semana passada, quatro pessoas da mesma família ficaram feridas após um caminhão carregado com papel higiênico tombar perto de Bicas, na madrugada do dia 6. Os bombeiros resgataram o motorista com a esposa e seus dois filhos, de 4 e 10 anos. A criança mais velha e a mãe ficaram presas às ferragens. As vítimas eram de Pouso Alegre e foram levadas para o HPS de Juiz de Fora, onde ficaram internadas com quadro estável.

Pessoas ouvidas pela Tribuna durante a viagem pela rodovia atribuem o acidente à situação precária da pavimentação, mas conforme o policial rodoviário federal Leonardo Facio não é possível fazer essa associação. “Apesar de ter havido alguns acidentes recentes naquele trecho, nenhum deles podemos relacionar diretamente com a existência dos buracos.” Segundo ele, as queixas de condutores são frequentes. “Têm chegado muitos telefonemas sobre os buracos e de alguns usuários, inclusive reclamando que tiveram os carros danificados, pneus furados, rodas quebradas etc.”

Sobre o aumento do fluxo neste feriado, aliado às condições da rodovia, o policial orientou os motoristas sobre os cuidados: “É preciso ter bastante prudência, trafegar com velocidade reduzida, atenção redobrada e, de preferência, aumentar a distância de segmento de um veículo para o outro, para ter visibilidade dos locais onde estão os buracos.” Facio recomendou até rotas alternativas. “Infelizmente, nem todos motoristas podem evitar aquele local. Quem for passar ali deve procurar trafegar durante o dia, no período de luz natural, e, de preferência, quando não estiver chovendo.”

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