Vivendo novo período de alta em casos e óbitos causados pela Covid-19, Minas Gerais passa por um momento de intensa pressão hospitalar. Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES/MG), em consulta realizada no sábado (13), a macrorregião Sudeste, que abrange Juiz de Fora, tem maior taxa de ocupação dos leitos de Covid do Sistema Único de Saúde (SUS) em comparação com a média estadual. São 86,69% dos leitos exclusivos para o tratamento da doença ocupados na região, em detrimento a 83,77% de preenchimento na rede mineira.
Entre os municípios de referência na macrorregião Sudeste, apenas Muriaé e Carangola têm taxa de ocupação abaixo de 70%. Até a consulta realizada pela reportagem, 52,38% dos leitos Covid estavam ocupados em Muriaé e 68,18% em Carangola. As situações mais graves ocorrem nos municípios de Juiz de Fora, que tem 99,14% dos leitos Covid; Leopoldina/Cataguases, com 92,59%; e Além Paraíba, que tem 90% dos leitos preenchidos. Também são referências na macrorregião os municípios de Santos Dumont e Ubá, com 83,33% e 75% de ocupação, respectivamente.
A saturação da rede hospitalar de Juiz de Fora é o principal motivo de preocupação. Maior município da macrorregião Sudeste, a cidade também tem mais da metade dos 248 leitos de UTI do SUS dedicados exclusivamente ao tratamento da Covid-19 na região. Até sexta-feira, de acordo com informações do painel gerencial do município, 94,83% desses leitos estavam ocupados, em situação agravada durante as últimas semanas, como mostram os números de sábado, quando a cidade apresentava mais de 99% dos leitos ocupados.
O momento delicado resultou em medidas emergenciais para conter a circulação de pessoas na cidade, que foi para a onda roxa do Programa Minas Consciente em vigor desde sábado.
Lotação esgotada
Outros municípios da região já começam a ter dias de saturação total ou quase completa da rede hospitalar. Ao modelo de Juiz de Fora, Santos Dumont também permanece com alto percentual dos leitos preenchidos por pacientes contaminados pelo coronavírus. No último dia 5, o município havia alcançado a ocupação da totalidade de leitos Covid, o que mudou no dia seguinte apenas pela morte de um paciente que estava em uma das unidades. Desde então, a cidade conta com apenas um leito desocupado na última sexta, de acordo com informações da assessoria da Prefeitura de Santos Dumont, e, no sábado, ainda apresentava percentual de ocupação superior a 80% neste sábado.
Ao longo da semana, de acordo com a Prefeitura de Santos Dumont, foram mantidos diálogos com o Governo do estado sobre a situação epidemiológica local. De antemão, a Prefeitura anunciou regras mais severas para o funcionamento do comércio local na tentativa de evitar a formação de aglomerações, como o impedimento de consumo interno em bares, restaurantes e lanchonetes a partir das 20h e o gradeamento do calçadão da cidade. “Esses foram os dois pontos identificados como maiores geradores de aglomeração no município e foram tomadas essas atitudes por uma semana, como uma tentativa de não afetar a atividade econômica”, justifica a assessoria.
Em Além Paraíba, a situação é ainda mais grave: todos os oito leitos de UTI do único hospital público da cidade, o Hospital São Salvador, estavam ocupados até sexta-feira. Em comunicado veiculado pelo site da Prefeitura de Além Paraíba, a recomendação é para que “toda a população adote as medidas preventivas para evitarmos um avanço exagerado da doença”. Em conversa com representantes da SES na terça-feira (9), o Poder Público solicitou nova análise da situação epidemiológica local para que medidas de contenção possam ser adotadas visando a “redução do elevado índice de transmissão da Covid-19, que está colocando em risco a capacidade de absorção de pacientes pelo Hospital São Salvador, por falta de leitos”, afirma a Prefeitura.
Na quarta-feira (10), foi a vez de Ubá alcançar a ocupação total dos leitos Covid. Todos os 22 estão sendo utilizados no município, com 13 moradores da cidade e nove advindos de outros municípios. Em pronunciamento na terça, o prefeito Edson Teixeira admitiu a situação caótica da microrregião. “Os dados que nós temos acompanhado nos deixam muito preocupados. Nós teremos que fazer mudanças em nossas rotinas”, afirma. Ubá, inclusive, já havia retornado com aulas presenciais em escolas municipais e foi necessário regredir para as aulas remotas esta semana, após nova piora no cenário epidemiológico. “Nós precisamos voltar ao isolamento, que é a única forma que nós conhecemos de controlar a doença”, argumenta o prefeito.
Municípios menores
Em municípios menores, a situação é de dependência das cidades-referência. É o caso de São João Nepomuceno, que não tem nenhuma UTI Covid no único hospital da cidade, o Hospital São João. O município conta apenas com seis leitos clínicos para atender pacientes com quadros leves ou estabilizar pacientes graves enquanto são aguardadas vagas em outros locais.
“No Pronto Socorro, que é inserido ao Hospital São João, tem uma área isolada para Covid. Nesta área tem seis leitos para estabilizar os pacientes, fazer entubação e todos serviços necessários para transferir pra UTI. Nos casos graves, são transferidos para JF e região”, explica o Município, via assessoria. Na quinta-feira, dois desses leitos estavam ocupados, sendo um paciente aguardando vaga para internação em Juiz de Fora e outro em estado estável, que provavelmente não precisaria ser transferido.
A situação é a mesma em Lima Duarte, que também depende da rede hospitalar juiz-forana para pacientes com quadros graves. Com a situação delicada de Juiz de Fora, a Prefeitura de Lima Duarte pretende intensificar a fiscalização para coibir aglomerações. “Teremos também uma reunião com a fiscalização de Covid-19 para reforçar todas as ações da equipe. Como medida, também chamamos via edital mais dois fiscais de Covid-19, visto que agora serão feitas barreiras e as demandas aumentarão de forma significativa”, revela o Município à reportagem, por meio de nota.
Plano contingencial
Em nota encaminhada à reportagem, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) de Minas Gerais informou ter elaborado, em conjunto com os municípios, planos de contingência em nível macrorregional, para o enfrentamento da pandemia. “O Plano traz definições de orientações e pontos de atenção da rede que será referência para atendimento da Síndrome Respiratória Aguda Grave em decorrência da CovidD-19”, diz o Governo.
“Por se tratar de documento de construção coletiva, com interveniência dos gestores municipais e estadual, e contribuições de atores locais interessados, (o plano)possui perfil dinâmico que pode ser alterado de acordo com a evolução do quadro epidemiológico e com novas descobertas científicas”, afirma a nota.
Ainda segundo o Estado, em caso de saturação da rede, as condutas e medidas de respostas podem ser realizadas de acordo com cada cenário. “Destaca- se que é essencial o monitoramento contínuo e adoção das medidas de resposta para que os municípios e regiões se preparem para a possibilidade de piora no cenário”, conclui o plano de contingência do Estado.
Vacinação e onda roxa
Única solução conhecida para a pandemia, a distribuição de vacinas na macrorregião Sudeste segue à conta-gotas, como já havia revelado a Tribuna em reportagem no último dia 5. De acordo com dados do “Vacinômetro” da SES, até a última atualização, 66.721 pessoas foram vacinadas na região, o que corresponde a apenas 44,83% dos grupos prioritários.
Sem vacinação em massa prevista para o curto prazo, a ferramenta do Governo estadual é desestimular a circulação de pessoas nas ruas com medidas restritivas para diminuir a proliferação do vírus pelas cidades mineiras mais debilitadas. Neste sábado, três microrregiões da Macrorregião de Sudeste regrediram para a onda roxa do Minas Consciente e têm regras mais rígidas para abertura do comércio: Juiz de Fora/Lima Duarte/São João Nepomuceno, Bicas/Santos Dumont e Cataguases/Leopoldina/Além Paraíba. Entre as mudanças, está o toque de recolher das 20h às 5h em todos os dias da semana.