Alfandegado em março último, o Terminal de Carga Aérea (Teca) do Aeroporto Regional da Zona da Mata está sob adequação da Receita Federal para receber operações de importação e exportação de cargas. Depois de cumprir pré-requisitos estruturais e tecnológicos para realizar atividades aduaneiras, a Concessionária do Aeroporto da Zona da Mata (CAZM) agora depende de demandas comerciais de insumos, máquinas e bens junto a indústrias para viabilizar o funcionamento do Teca. Entretanto, além da concorrência do Porto Seco de Juiz de Fora, a infraestrutura da malha rodoviária, sobretudo da MG-353, principal leito de acesso ao Aeroporto Regional, é outro empecilho para o escoamento de cargas, dados a pista simples, a ausência de acostamento e a sinalização encoberta.
Após assegurar demandas empresariais para importações e exportações, a Concessionária compreende que a disponibilização de aeronaves de carga será natural, tanto “por parte das companhias que já operam no terminal da Zona da Mata e de outras que operem voos charters”. Ao passo que as atividades comerciais acarretarão em aumento de fluxo de veículos, sobretudo, de carga na MG-353, a competitividade do Aeroporto Regional passa pelas condições da principal pista de acesso. “A partir do licenciamento, pode-se montar uma boa infraestrutura e há a possibilidade de um desvio do fluxo de desembaraço para o aeroporto. Lógico que, por outro lado, a infraestrutura da MG-353 pode ser prejudicial. É uma via não muito preparada para isso”, projeta Fernando Perobelli, professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“A MG-353 é uma rodovia bastante antiga. Ela tem uma capacidade comprometida somente com Juiz de Fora. A saída de Juiz de Fora em direção ao aeroporto já causa retenções somente com os veículos que deixam a região central e segue em direção à Grama”, avalia o engenheiro e especialista em planejamento de transportes Luiz Antônio Moreira. Embora a AMG-3085 – trecho viário responsável pela ligação da BR-040 à MG-353, em Coronel Pacheco – tenha sido construída para desviar o tráfego da Zona Urbana de Juiz de Fora, os veículos percorrem, ainda, por meio do acesso, cerca de 28 quilômetros da malha da MG-353 até o Aeroporto Presidente Itamar Franco. “Quando da inauguração do Aeroporto Regional, muito já se falou da precariedade do acesso. E, para funcionar como deveria, o aeroporto teria que ter, também, um acesso”, acrescenta Luiz Antônio. “O aeroporto começou a operar já deficitário, principalmente em relação ao acesso de Juiz de Fora até ele. A MG-353 não tem capacidade para receber um acréscimo de tráfego, principalmente de carga pesada.”
Entre o Bairro Grama e o Aeroporto Regional da Zona da Mata, a MG-353 estende-se em pista simples por, aproximadamente, 35 quilômetros; além de ausência de acostamento e sinalização encoberta, a rodovia é sinuosa, especialmente no perímetro urbano de Coronel Pacheco. “As pessoas que estão em Juiz de Fora continuam utilizando a tradicional saída de Grama para o aeroporto”, diz Luiz Antônio. “O acesso contribui somente para tirar veículos que estão demandando a BR-040 de Juiz de Fora. Foi feito um percurso alternativo, mas não é atrativo devido à distância a ser percorrida até você conseguir pegá-lo. De qualquer forma, entretanto, caem na MG-353, que tem capacidade limitada.” Questionado, o Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem (DEER) afirma estudar o planejamento de intervenções a serem realizadas nas rodovias estaduais. “[O estudo] leva em consideração as obras paralisadas e licitadas nas administrações anteriores, com o objetivo de definir quais são as ações prioritárias a serem realizadas, para atender as demandas dos municípios e da população.”
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Caminhoneiro há 17 anos, Edno Wilson de Jesus, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Juiz de Fora (STTR/JF), acredita em aumento do fluxo de veículos pesados em decorrência do alfandegamento, embora sustente a falta de condições da MG-353 para tal, a exemplo de Luiz Antônio. “Se vier o que a gente está esperando, assim… a estrada, atualmente, em horário de pico, já é complicada, imagina quando o aeroporto estiver operando!? Se não fizer um trabalho sério, vai impactar bastante.” Conforme Edno, o alfandegamento levará ao aumento do número de veículos de carga de pequeno e médio porte. “Hoje, a carga vem em várias carretas para os depósitos e, deles, distribuída dentro das cidades em pequenos caminhões”, avalia. “Por conta do modal aéreo, não vai haver necessidade de carretas. Acredito que a carga vai ser retirada do aeroporto, por exemplo, diretamente por caminhões de pequeno porte. Não tem condições de carretas passarem na estrada.”
Osvaldo Filho, gerente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de Juiz de Fora (SETC/JF), contudo, compreende que, atualmente, a MG-353 já não suporta o seu tráfego. “É uma rodovia muito sinuosa, perigosa e de pouca sinalização. A via é bem preocupante, porque, quando acontece um acidente, bloqueia tudo. A AMG-3058 ajudou bastante a desafogá-la, mas o trânsito de veículos pesados sempre fica comprometido nos horários de pico”, diz. “A pista não tem infraestrutura para receber as demandas de um aeroporto de carga e descarga. (…) Logicamente, o Aeroporto Regional não vai transportar 100% de sua capacidade de uma vez, mas a curto e médio prazo haverá um problema de estrangulamento dessas rodovias. Saindo de Goianá, há ainda Rio Novo, Guarani, Astolfo Dutra, Dona Euzébia, etc., todas as pistas de estrangulamento.”
Em razão da sinuosidade, a MG-353, em tese, deveria ser sinalizada; entretanto, tanto Edno quanto Osvaldo afirmam o contrário. “É uma estrada sinuosa, sem acostamento, mal sinalizada, etc. Há, inclusive, radares, mas não há a sinalização correta, o que leva a acidentes. E qualquer acidente que acontecer na via vai parar tudo”, acredita Edno. Nos perímetros urbanos de Juiz de Fora e Coronel Pacheco, entre os quilômetros 55 e 111 há oito radares; todos limitam a velocidade a 60 km/h. “O problema todo da MG-353 é a sinalização. A quantidade de radares foi aumentada, inclusive. É um trecho sinuoso até Coronel Pacheco, em pista simples”, conta Osvaldo. O gerente acredita, ainda, em estrangulamentos dentro dos municípios de Coronel Pacheco e Goianá. “São trechos com muitos redutores de velocidade, o que compromete o bom desempenho do trânsito.”
Concessionária
Questionada pela reportagem sobre as condições da MG-353, a Concessionária do Aeroporto da Zona da Mata, em nota, informa já ter procurado o DEER para pleitear intervenções nas estradas de acesso ao terminal – além de MG-353 e AMG-3085, a MG-133. “[Reivindicamos melhorias] tanto no que se refere à sinalização vertical quanto no quesito melhoria de infraestrutura das rodovias.” Entretanto, destaca a necessidade de “esforço coletivo de todos os interessados para que o Poder Público olhe com carinho para a atual situação das rodovias estaduais que ligam ao aeroporto”. O DEER, por sua vez, responde que “mantém manutenção de rotina, que compreende a realização de operação tapa-buracos, roçada da faixa de domínio, limpeza do sistema de drenagem e conferência da sinalização horizontal e vertical, com o objetivo de garantir as condições de tráfego”.
Preocupação com as áreas urbanas de Coronel Pacheco e Goianá
“A MG-353 passa dentro dos municípios de Coronel Pacheco e Goianá e, à medida que o fluxo aumentar, o número de quebra-molas também vai crescer, o que vai estender o tempo de viagem”, avalia o especialista em planejamento de transportes Luiz Antônio Moreira. “Deveria ter sido pensada e projetada, juntamente com o aeroporto, uma outra via que tivesse maior capacidade e pudesse receber o fluxo, evitando passar por dentro das cidades. É necessário um projeto de uma via (…) com o menor número de interferências possíveis.” Habituados a passar por transtornos ocasionados tanto ao tráfego de veículos quanto de pedestres, os moradores preocupam-se, também, com o impacto de caminhões em edificações localizadas à beira da rodovia.
Proprietária de um comércio de materiais de construção, Cristiane Cardoso mudou-se de residência, em Goianá, há 12 anos, em razão do tráfego pesado; à época, morava na casa localizada sobre sua loja, às margens da MG-353. “O fluxo de veículos pesados aumentou muito nos últimos anos. Naquele tempo, já era complicado até para assistir televisão. Em alguns momentos, passam carros pesados e sentimos [o local] tremer”, pontua. “Não sei o que vão fazer, mas vai ter que desviar [o tráfego] de dentro da cidade. Até mesmo as construções mais antigas, que não foram preparadas para esse movimento e estão beirando a passagem dos carros, podem sofrer algum abalo.” Cristiane, entretanto, pondera os aspectos positivos e negativos de uma possível mudança. “Se fizer outra estrada para desviar o tráfego, pode ser ruim daqui a um tempo por conta do movimento de pessoas. Mas, ao mesmo tempo, a situação atual vai acabar com a estrada; vai ficar perigoso.”
Thaís Loures, atendente de uma padaria localizada em Goianá, próxima à rodovia, cita problemas de retenção, além da ausência de espaço para ciclistas. “Em área de carga e descarga, em alguns momentos, os caminhões estão parados de um lado e de outro da via. Não tem como o pedestre andar, nem os carros passarem. É um grande transtorno”, detalha. “Há muitos mercados, então, vira e mexe, os caminhões carregam e descarregam em qualquer horário do dia. Às vezes, os ciclistas têm que passar de bicicleta em cima da calçada.” Já Josias Maurício da Silva, comerciante de produtos de alimentação animal em Coronel Pacheco e Goianá, observa os problemas na pavimentação da rodovia. “Há muitos caminhões de areia, brita e verduras que vão a Juiz de Fora diariamente, ainda mais na parte da manhã e da tarde, para sair do horário da balança. Prejudicam muito o asfalto e dificultam a circulação dos veículos.”
Apesar de admitir os problemas causados pelo tráfego de veículos pesados, o prefeito de Coronel Pacheco, Edelson Fernandes Meirelles (MDB), afirma que o trecho dentro do município não será um empecilho ao escoamento de cargas. “Não deixa de prejudicar o fluxo de carros, caminhões, o barulho, etc. Mas acho que não é um empecilho para o terminal funcionar. O Governo estadual vai dar um jeito.” Estevam de Assis Barreiros (PCdoB), prefeito de Goianá, contudo, avalia que o contorno dos municípios é necessário. “A rodovia não tem condições de suportar caminhões de carga dentro dos municípios, cheios de quebra-molas e fiações baixas. Sem chances.”
Prefeituras em compasso de espera
Ao menos desde a retenção de repasses tributários pelo Governo Fernando Pimentel (PT), a regularização do pagamento do passivo do Estado com os municípios tornou-se a principal reivindicação das prefeituras. Embora o Governo Romeu Zema (Novo) e a Associação Mineira dos Municípios tenham chegado a acordo, em 4 de abril, para a quitação de, aproximadamente, R$ 7 bilhões, o Executivo dos municípios de Coronel Pacheco, Goianá, Juiz de Fora e Rio Novo – todos atravessados pela MG-353 – são cautelosos sobre possível diálogo com o DEER em busca de intervenções na rodovia. Expuseram, contudo, a necessidade de melhorias, ainda que as pautas sejam distintas.
“A gente tem a consciência de que o Governo estadual está quebrado, porque não tínhamos os repasses constitucionais. Se o Estado não estava repassando o que é de direito das prefeituras, quem dirá ter dinheiro para fazer uma obra… acredito que seria quase impossível de o Governo fazer isso agora”, pontua o prefeito de Goianá, Estevam de Assis Barreiros (PCdoB). A falta de acostamento, segundo Estevam, é a maior carência da rodovia. “Por exemplo, a General Electric Celma, de Petrópolis (RJ), despacha as turbinas produzidas por ela no Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP). E é uma carreta enorme, tem que ir dois batedores, um na frente e outro atrás. Ocupa mais do que uma pista praticamente. Como essa carreta passaria dentro de Coronel Pacheco e Goianá?”
Já Ormeu Rabello Filho (PPS), prefeito de Rio Novo, cita um estudo realizado, junto ao do Aeroporto Regional da Zona da Mata, à época do Governo Itamar Franco (MDB) – entre 1999 e 2002 -, para a construção de desvios em busca de deslocar o tráfego das zonas urbanas de Coronel Pacheco e Goianá. “O projeto previa a duplicação da MG-353, sentido aeroporto, a partir do seu trevo próximo a Coronel Pacheco”, lembra Ormeu. “A estrada passaria por fora de Coronel e, depois, pegaria o leito da atual rodovia, mas, chegando a Goianá, um novo desvio por fora da cidade seria feito e desembocaria depois de Goianá. Seria entre dez e 15 quilômetros; mais ou menos, uma nova AMG-3085.” Questionado sobre uma mobilização dos municípios para reivindicar intervenções junto ao Estado, pondera ser precoce. “O governador está apenas no quarto mês de mandato, pegou a casa do jeito que pegou, e precisa de um tempo. Creio que, a partir do sexto mês, é ideal que nós, prefeitos, reivindiquemos melhorias do Estado.”
Para Edelson Fernandes Meirelles (MDB), prefeito de Coronel Pacheco, o trecho entre Juiz de Fora e Coronel demanda maior urgência para melhorias; a terceira pista, segundo Edelson, seria a solução. “Neste segmento, há, pelo menos, três serras. Se fizesse a terceira pista, já quebrava bem o galho. Às vezes, os carros de passeio pegam carretas bi-trens que são danadas. Os motoristas não conseguem ultrapassar de jeito nenhum nessas condições. Construíram a AMG-3085, mas e o trecho entre Juiz de Fora e Coronel Pacheco? As pessoas não vão sair todas da BR-040 para ir para o aeroporto.” Edelson compreende, em contrapartida, que o leito da MG-353 suportará um possível aumento de tráfego. “Acho que a rodovia dá conta. A estrada é boa. Não tem é acostamento.” A Prefeitura de Juiz de Fora, por sua vez, em nota, afirma que “mantém contato constante com o Governo, relatando tanto os problemas do trecho citado, como de outras áreas. Diante da situação econômica vivenciada pelo Estado de Minas Gerais, nem sempre a resposta é imediata”.
Apesar das reivindicações estruturais, a MG-353, conforme o DEER, obedece ao projeto de engenharia implantado à época de sua construção, que “não previu acostamento em sua extensão e a velocidade padrão de 60 km/h”. Sobre a sinuosidade da pista, limitou-se a afirmar que “é um reflexo do relevo e da topografia da região”.