Neste sábado (10), Isabel Cristina será beatificada em cerimônia que acontece no Parque de Exposições de Barbacena, às 10h. Ela é a primeira da Arquidiocese de Mariana a ser proclamada beata – e não é para menos. Isabel viveu dedicada aos valores cristãos e à espiritualidade vicentina que, de acordo com familiares e colegas, inspiraram a sua caminhada de fé e atenção aos mais pobres e necessitados. Nascida na cidade de Barbacena, ela se mudou para Juiz de Fora para estudar para o vestibular de Medicina, onde morava com o irmão. Em 1º de setembro de 1982, aos 20 anos, foi brutalmente assassinada após uma tentativa de estupro.
O agressor era um homem que foi ao seu apartamento montar um guarda-roupas. Ele tentou violentá-la sexualmente e não obteve êxito, já que Isabel resistiu ao crime até a morte. Ele, então, desferiu 15 facadas contra a jovem, além de golpeá-la com uma pequena cadeira, lembrança de seu aniversário de três anos. Isabel também foi amarrada, amordaçada e teve as suas roupas rasgadas durante o crime. O caso causou comoção, já que ela era conhecida por viver de fé e cultivar uma relação de carinho e amor com a família – além de planejar um longo futuro, no qual desejava ajudar muitas pessoas como profissional da pediatria.
Isabel foi descrita pelo monsenhor Danival Milagres Coelho, representante da Igreja de Barbacena, como uma moça que teve uma “vida comum”. Ela seguiu com coerência os valores religiosos de sua família e teve práticas de caridade ao longo de toda a vida. Para o monsenhor, é por isso que sua história se destaca em meio a tantas outras. “A partir do momento que pesquisaram mais sobre o nome dela e viram seu testemunho, todos se encantaram. Uma menina com a coragem de resistir a esse sofrimento, era descrita por todos por sua delicadeza e bondade.” Ele acredita, ainda, que a sua beatificação vai ajudar outras mulheres que sofrem tantas formas de violência. “Ela nos faz lembrar que, ainda hoje, infelizmente, muitas mulheres ainda sofrem tantas agressões, seja de forma física, sexual ou mesmo moral.”
Para o monsenhor Danival, a beata foi vítima não somente de um, mas de dois martírios. “Isabel Cristina sofreu dois martírios porque, além de ter sofrido a violência física que a levou à morte, também teve o segundo martírio, o moral, que ocorreu durante o processo criminal. Apareceram pessoas que defendiam o criminoso e que, para isso, ofenderam a sua honra e a de sua família.” Durante esse processo, ele revela que muitos tentaram difamar sua moral, não reconhecendo suas virtudes. Para ele, portanto, a beatificação é um reconhecimento da pesquisa e da perícia feitas, chegando à verdade dos fatos. A morte violenta foi comparada pelos católicos ao caso da jovem Santa Maria Goretti, que também morreu lutando contra o seu agressor.
Filha de José Mendes Campos e Helena Mrad Campos, Isabel foi batizada e fez a primeira comunhão na Matriz da Piedade de Barbacena. Justamente por essa ligação afetiva da família com a paróquia ficou decidido que os restos mortais dela ficariam no Santuário da Piedade. Para a sua beatificação, são esperadas dez mil pessoas no local, incluindo 18 bispos.
Trâmite para martírio
O trâmite para a beatificação de Isabel Cristina começou em 26 de janeiro de 2001, quando foi instaurado oficialmente o Tribunal para a Causa de Beatificação da jovem. Como o caso é reconhecido como “martírio”, não necessita que um milagre seja reconhecido para a sua beatificação. O processo até que Isabel fosse reconhecida como beata durou cerca de oito anos. No total, foram ouvidas cerca de 60 pessoas para atestar a religiosidade da moça, levando em conta testemunhos e documentos. Em 1º de setembro de 2009, o processo foi encerrado em âmbito arquidiocesano, quando também aconteceu a exumação dos seus restos mortais e a trasladação dos mesmos para o Santuário Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena.
Após onze anos, em 27 de outubro de 2020, o Papa Francisco autorizou a publicação do decreto reconhecendo o martírio de Isabel Cristina pelo prefeito da Congregação das Causas dos Santos, dom Marcello Semeraro, permitindo, assim, que ela fosse proclamada beata. Em junho deste ano, a cerimônia de oficialização foi marcada para o dia 10 de dezembro.
Preparativos
A Igreja esclarece que, devido a forma como morreu, mas sobretudo pelo modo que viveu, os preparativos da cerimônia buscam honrar sua memória. Desde o anúncio da data da beatificação, fiéis da cidade de Barbacena, amigos e colegas da jovem estão empenhados nos preparativos e na organização da celebração. Por isso, os momentos que antecedem a cerimônia estão sendo vivenciados pelos voluntários e membros da Arquidiocese de Mariana com bastante expectativa.
Além disso, a Paróquia Nossa Senhora da Piedade também está realizando programação especial ao longo do ano para honrar a jovem. Foi feita inclusive uma encomenda da imagem da futura beata a um escultor, e a Capela dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, que receberá as relíquias da futura beata, está sendo reformada e reorganizada para oferecer um altar em sua dedicação e um memorial à Mártir de Barbacena.
Outras ações também estão sendo planejadas pela Arquidiocese. No dia da cerimônia, vão ser distribuídas as relíquias de segundo grau a todos os presentes, contando com terços, água para ser abençoada e lembrancinhas do dia solene. A Igreja também providenciou a redação da novena que será publicada no dia da beatificação e, em setembro, a arquidiocese divulgou o hino oficial em honra a Isabel Cristina.
Oração
“Pai, Filho e Espírito Santo, adoramos-Vos e bendizemos-Vos, pela força e coragem que dais a muitos de vossos filhos. Há tantas almas generosas, que nos elevam pelo seu exemplo! Sede louvada, Trindade Santa, na pessoa da Serva de Deus Isabel Cristina, que deu a vida em defesa de sua pureza e virgindade. Dai-nos a graça de imitá-la e, se for de Vosso agrado, concedei-lhe a honra dos altares, como recompensa de sua oblação. Assim seja!”