Quarta cidade mais populosa de Minas Gerais, Juiz de Fora foi o maior município mineiro em que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu vitorioso das urnas no último domingo (30). Na cidade, Lula somou 180.954 votos (56,09% dos votos válidos). Em relação ao primeiro turno, quando obteve 167.048 (52,62%), Lula conseguiu agregar 13.906 novos votos entre os eleitores aptos a votar na cidade. Candidato à reeleição derrotado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou um crescimento maior de um turno para outro, indo de 121.945 (38,41%) na apuração do último dia 2 de outubro para 141.651 (43,91%) neste domingo, o que significa a adesão de 19.706 novos eleitores. Largando de um patamar mais baixo, porém, o sprint final de Bolsonaro não foi suficiente para virar no município.
Quando observada a apuração em todo o estado, Lula recebeu um total de 6.190.960 votos em Minas Gerais, e obteve 50,2% dos votos válidos. A vitória no segundo maior colégio do país foi apertada, uma vez que o petista fechou o domingo com 49.650 a mais do que Bolsonaro,que obteve 6.141.310 votos (49,8% da votação válida). Assim como aconteceu em Juiz de Fora, Bolsonaro mostrou uma maior capacidade de crescimento no segundo turno entre os votantes do estado. Entre os dias 2 e 30 de outubro, o candidato à reeleição conquistou 902.046 novos eleitores, enquanto o presidente eleito garantiu 388.389 novas adesões. Contudo, a despeito disso, Lula saiu vitorioso no estado por conta da vantagem construída no primeiro turno, quando o petista já havia terminado na frente, com 5.802.571 votos contra 5.239.264 de Bolsonaro.
Ao todo, no segundo turno da disputa, realizado no último domingo, o presidente eleito foi o mais votado em 564 municípios mineiros, enquanto Bolsonaro saiu vitorioso das urnas em 289 localidades. Com isso, Minas Gerais foi o único do estado do Sudeste onde o petista ganhou. Se, por um lado, Lula venceu em um maior número de cidades do estado, Bolsonaro teve um melhor desempenho nos municípios mais populosos. Dos dez maiores eleitorados de Minas, o candidato à reeleição venceu em oito: Belo Horizonte, onde Bolsonaro obteve 54,25% dos votos válidos contra 45,75% de Lula; Uberlândia (53,12% x 46,88%); Contagem (55,49% x 44,51%); Betim (52,43% x 47,57%); Montes Claros (51,25% x 48,75%); Uberaba (54,02% x 45,98%); Governador Valadares (62,81% x 37,19%); e Ipatinga (65,12% x 34,88%). Além de Juiz Fora, entre as dez maiores cidades de Minas, Lula venceu apenas em Ribeirão das Neves (50,63% x 49,37%).
Tradição
A nova vitória de Lula nas urnas de Juiz de Fora reforça uma tendência que já se mantém na cidade há mais de três décadas. Desde 1989, em 15 turnos de nove eleições presidenciais disputadas, os candidatos do PT saíram como os mais votados no município em 12 oportunidades. Os únicos reveses petistas na cidade ocorreram em 1994, quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) se elegeu no primeiro turno e venceu Lula na cidade; e, em 2018, quando Bolsonaro ficou à frente de Fernando Haddad (PT) nos dois turnos da disputa. Já nas eleições de 1989, 1998, 2002, 2006 e 2014, o PT sempre foi o mais votado na cidade, seja com Lula ou com a ex-presidente Dilma Rousseff.
Zona da Mata tem papel importante na vitória do petista
Entre o primeiro e o segundo turno, Lula e Bolsonaro apresentaram crescimentos bastantes distintos. No caso do presidente eleito, as regiões em que ele conseguiu conquistar o maior número de novos eleitores entre o dia 2 e o dia 30 foram o Sul de Minas e a Zona da Mata. Por sua vez, os principais focos de crescimento do candidato se deram na capital e no interior, de forma mais descentralizada. Com isso, Bolsonaro conseguiu, inclusive, reverter a desvantagem e virar o resultado adverso observado no primeiro turno em 66 cidades. A maior virada aconteceu no município de Grupiara, no Triângulo Mineiro. Na localidade, o candidato à reeleição havia registrado 46,06% dos votos válidos no último dia 2 de outubro e atingiu 59,4% no segundo turno, disputado neste domingo. Por sua vez, entre um turno e outro, Lula não conseguiu virar o resultado em nenhum município.
O crescimento significativo do candidato derrotado pode ser atribuído, em boa parte, à adesão e ao apoio do governador de Minas Gerais. Reeleito no primeiro turno, Romeu Zema (Novo) ciceroneou Bolsonaro em várias agendas no estado no segundo turno, incluindo visita feita a Juiz de Fora, no último dia 18. Além do bom desempenho na Zona da Mata, a vitória de Lula também foi impulsionada pela boa votação obtida pelo petista no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha, que já se mostrava cristalizada desde o primeiro turno.
A disputa em Minas Gerais foi tratada como prioridade pelas candidaturas de Lula e Bolsonaro. Segundo maior colégio eleitoral do país, o estado é considerado chave também porque, desde as eleições de 1989, todo candidato a presidente mais votado entre os mineiros venceu as eleições e assumiu a Presidência. Esta preocupação justifica o fato de os dois candidatos terem mantido agendas de campanha em cidades mineiras no segundo turno, incluindo Juiz de Fora. A despeito da estratégia de priorizar o estado e da conquista de 6,2 pontos percentuais em relação ao primeiro turno, o crescimento de Bolsonaro não foi suficiente para conseguir reverter a vitória de Lula nos 853 municípios mineiros.
Maiores diferenças
Em termos percentuais, as maiores diferenças entre as votações de Lula e Bolsonaro e Minas, no segundo turno, se deram nos municípios de Presidente Kubitschek, no Vale do Jequitinhonha, e Monte Sião, no Sul de Minas. Na primeira cidade, o presidente eleito conquistou 84,54% dos votos válidos contra 15,46% de seu adversário. Já no segundo município, Bolsonaro computou 76,47% da votação válida contra 23,53% de Lula.