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Por que a religião está em alta nestas eleições?

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Diante da reta final das campanhas eleitorais, a temática religiosa tornou-se uma agenda comum aos principais candidatos à Presidência da República, principalmente com a intenção direta de abocanhar novos eleitores. A tática, em si, não é nova, mas definitivamente demonstra um processo que já vem acontecendo há algum tempo na política nacional, com a disputa pelo eleitorado cristão ganhando maior visibilidade desde a última corrida presidencial, que foi altamente marcada pelo discurso conservador do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL). Desta forma, para entender as origens e as principais consequências da questão religiosa nas atuais eleições, a Tribuna ouviu três pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento. 

Raízes da relação entre religião, política e momento atual no país

Christina Vital da Cunha, doutora em Ciências Sociais, explica que a participação de religiosos no meio político nacional acontece, pelo menos, desde o início da República, em 1891 (Foto: Arquivo pessoal)

Ainda que a questão religiosa na política seja uma questão bastante atual, ela não é um fenômeno exclusivamente da contemporaneidade. A doutora em Ciências Sociais Christina Vital da Cunha, da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica que a participação organizada de religiosos no meio político nacional acontece, pelo menos, desde o início da República, em 1891. “Sempre tivemos uma participação muito intensa de componentes religiosos na política, sobretudo nos processos que envolviam a eleição de parlamentares constituintes, sejam eles católicos ou evangélicos. Como exemplo, durante o período da Assembleia Nacional Constituinte de 1934, já existia uma organização de católicos na política através da Liga Eleitoral Católica (LEC), formada por leigos que visavam a defesa de interesses católicos no Brasil, diante das perdas que a igreja católica sofreu com o estabelecimento do estado laico na época”, assegura.

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 No mesmo caminho, o doutor em Ciência da Religião Edson Fernando de Almeida reforça que diante da história mundial, religião e política sempre caminharam juntas. “Houve um tempo em que a religião estava indissoluvelmente ligada à política. Na modernidade ocidental, a religião, esvaziada de seu poder totalizante, teve que se recolher e tornar-se uma esfera a mais dentre as grandes ideias e construções culturais da humanidade. Por outro lado, não podemos naturalizar essa questão das influências do meio religioso nas campanhas eleitorais.  Na última eleição presidencial, em 2018, sobretudo se pensarmos no segmento evangélico, esse enlace foi bastante forte e deveu-se a um elo doentio criado entre o discurso político da extrema direita e o imaginário de segmentos religiosos mais conservadores, relacionando temas como a sacralidade da família tradicional, o medo do protagonismo das lutas por igualdade de gênero, sexual e racial, à aparição de um agente messiânico que, com seu exército poderoso,  violentamente poderia derrotar todos os inimigos da ‘civilização cristã’”, expõe o docente da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

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Edson Fernando de Almeida, doutor em Ciência da Religião, reforça que, diante da história mundial, religião e política sempre caminharam juntas (Foto: Arquivo pessoal)

 Já para a doutora em Ciências Sociais Maria do Socorro Braga, a variável religiosa tem ganhado cada vez mais protagonismo nas atuais eleições especialmente pela agenda moral de Jair Bolsonaro (PL). “Embora esse tema tenha feito parte das eleições, em 2018, a atual campanha de Bolsonaro voltou-se estrategicamente para esse grupo, tendo em vista que outros tópicos, como corrupção, saúde ou economia, acabariam fragilizando o incumbente. Podemos afirmar também que existem duas clivagens dividindo as duas principais candidaturas, com Bolsonaro diretamente ligado à agenda de costumes, e Lula se direcionando mais à questão econômica. Entretanto, este candidato também teve que se voltar para a questão religiosa, tendo em vista o aumento da importância do eleitorado evangélico”, afirma a professora, que leciona na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Para a doutora em Ciências Sociais Maria do Socorro Braga, a variável religiosa tem ganhado cada vez mais protagonismo nas atuais eleições especialmente pela agenda moral (Foto: Arquivo pessoal)

Aumento da importância do eleitorado evangélico nos últimos anos

 Ainda que Bolsonaro seja declaradamente católico, a grande maioria das suas agendas tendem exclusivamente ao público evangélico. Como exemplo, em sua primeira visita à Juiz de Fora após o episódio da facada, em julho deste ano, o presidente compareceu a Convenção Estadual das Assembleias de Deus Ministério de Madureira, no Centro Educacional e Social Betel, na Avenida Rio Branco. Por outro lado, ainda que Lula (PT) tenha uma aproximação histórica com os cristãos progressistas, como explica a professora carioca, a aproximação do candidato ao eleitorado evangélico acontece de maneira mais sutil. Neste mês, durante sua campanha, o petista participou de um encontro com lideranças evangélicas na cidade de São Gonçalo, no Rio de Janeiro. 

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 “É importante relembrar que o segmento evangélico tem um perfil mais conservador em termos de costumes, e isso foi se expressando também em um conservadorismo no âmbito da política, com uma adesão maior e continuada aos partidos de direita. Porém, essa questão não nasceu hoje. Bolsonaro vem costurando essa aproximação com o universo religioso desde 2011, em parceria com algumas lideranças evangélicas no Congresso Nacional, tendo conseguido um êxito muito grande em 2018 nesse sentido.  Toda a pauta do combate à corrupção era apresentada numa chave moral, numa chave do bem contra o mal. Além disso, na última eleição presidencial, 79% da população achava importante que o seu candidato acreditasse em Deus, com cerca de 30% dessas pessoas que também disseram que seria importante que o candidato tivesse a mesma religião que ela”, Christina.

 A pesquisadora também indica que o crescimento da visibilidade do religioso na política já existe há algumas décadas, mas a partir das eleições de 2018, houve um crescimento muito acentuado. “Esse mesmo movimento, por outro lado, pode gerar uma saturação do uso da linguagem religiosa para expressão de ações políticas, com uma reiterada antipatia até mesmo de lideranças evangélicas, que tem se colocado nas redes sociais contra esse uso da religião na política de modo intensivo”, reitera.

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A inserção da religião na política é benéfica ou maléfica aos eleitores?

A reportagem também questionou aos pesquisadores se a introdução direta das questões religiosas nas discussões políticas poderia ser considerada benéfica ou maléfica ao sistema democrático. Para Maria do Socorro, a questão religiosa é um aspecto que diz respeito ao indivíduo e ao mundo privado, sendo assim maléfica aos eleitores. “O Estado numa democracia como a brasileira é laico. A liberdade religiosa é um dos princípios sob os quais a nossa democracia se estrutura”, rememora. Já Almeida, por outro lado, avalia com ressalvas a questão da inserção da temática religiosa na política. “Se entendermos ‘inserção da religião’ como presença das demandas do mundo religioso no palco da cena política republicana, sejam elas demandas das minorias ou das maiorias religiosas, é muito positivo. Entretanto, se entendermos a ‘introdução da religião’ como imposição de certos comportamentos e visões de mundo dos grupos majoritários religiosos sobre o restante da sociedade, considero-a extremamente perniciosa e letal”, define. Por fim, Christiane indica que observa a existência de uma positividade ligada à ideia de religião nas questões políticas. “A maioria da população vê com positividade a religião no espaço público, assim como os valores religiosos que atravessam a sociedade nas suas mais variadas instâncias”, finaliza.

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