Mesmo com o aumento de 280% no número de eleitores com 16 e 17 anos aptos a votar entre 2018 e 2022 em Juiz de Fora, quase um quinto dos jovens dessa faixa etária no município deixaram de ir às urnas no primeiro turno da atual eleição. No total, são 676 adolescentes dentre os 3.070 habilitados na cidade que se abstiveram do pleito. A situação, que expõe uma taxa de abstenção no grupo ligeiramente maior do que as encontradas no cenário estadual e nacional, chama a atenção em um momento em que ambos os candidatos à Presidência da República focam na busca dos indecisos e dos que não foram votar.
Ao olhar exclusivamente para os dados entre os mais jovens eleitores, de 16 anos, a abstenção saltou de 7,78%, em 2018, para 18,70% em 2022 para a faixa etária. Na última semana, a Tribuna mostrou que, contrariando um movimento histórico, a abstenção entre os idosos diminuiu no país e em Juiz de Fora. Para o cientista político Paulo Roberto Figueira Leal, é importante ressaltar que, por mais que a análise bruta dos dados crie uma dificuldade de compreensão das múltiplas motivações para o aumento da abstenção entre os jovens, há hipóteses que permitem traçar possíveis tendências.
“Quando lidamos com os dados brutos, temos a dificuldade de entender razões individuais porque existem diferentes motivações que podem ter contribuído para essa questão. Uma hipótese a ser considerada, por exemplo, é que mesmo com fortes campanhas para o alistamento eleitoral desse público, que tem o voto facultativo, muitos desses jovens não foram igualmente convencidos pelas candidaturas a se mobilizarem em direção ao voto”, aponta Leal. O movimento de subida da abstenção visto no município entre os eleitores juvenis se difere ao movimento de queda da taxa no âmbito estadual. Em Minas, a abstenção entre os eleitores de 16 anos caiu 0,36%, tendo em vista que em 2018, o número foi de 17,28%, contra os 16,92% de 2022.
Questão econômica pode afetar abstenção
A queda no comparecimento do eleitorado mais jovem em outros grupos etários também foi verificada no país, de acordo com os dados obtidos por meio do Sistema de Estatísticas Eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em todo o Brasil, a abstenção na faixa dos 25 a 29 anos, por exemplo, pulou de 19,95%, em 2018, para 22,3% em 2022. Por outro lado, o docente da Faculdade de Comunicação da UFJF também aponta para uma possibilidade de que esses mesmos jovens não compareçam às seções eleitorais por questões relacionadas a dificuldades financeiras.
“Existem séries históricas mostrando que, em geral, os mais pobres ou as pessoas com mais dificuldade econômica tendem a ter níveis de abstenção maiores do que as camadas com renda maior. Se imaginarmos que a atual crise econômica incide pesadamente sobre os mais jovens, com uma enorme dificuldade de entrar no mercado de trabalho e dificuldades múltiplas, temos aí uma possibilidade que ajuda também a formular uma hipótese para esse número”, exprime Leal.
Já o cientista político Rubem Barboza indica que a “alienação eleitoral”, que pode ser expressa pela abstenção dos eleitores, também pode ser diretamente motivada pela baixa penalidade exprimida pelo TSE aos que deixam de votar. Aliada à facilidade da justificativa do voto, que atualmente pode ser feita até mesmo pelo aplicativo do E-título, no celular do eleitor, Barboza também apontou que a multa aplicada àqueles que não comparecem para votar possui um valor irrisório. Em todo o país, os eleitores que não justificam a ausência devem pagar à Justiça Eleitoral o valor de R$ 3,51 por cada turno faltante.