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Eleitorado adolescente triplica em Juiz de Fora

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Dados disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, em Juiz de Fora, 418.213 pessoas estão em condições de irem às urnas em outubro para as eleições gerais. São 20.372 títulos habilitados a mais em relação ao número consolidado nas últimas eleições gerais em 2018 – o que corresponde a um aumento de cerca de 5,12%. No país, o número de eleitores cresceu 6,2% em relação a 2018, e o Brasil chega neste ano a 156,4 milhões de pessoas aptas a votar. É o maior eleitorado da história brasileira, de acordo com o TSE. Em Juiz de Fora, assim como no país, chama atenção o avanço na quantidade de eleitores jovens, que têm 16 ou 17 anos, que, pela legislação, têm direito facultativo ao voto. Na cidade, o eleitorado adolescente triplicou. Nas últimas eleições gerais, em 2018, havia 1.246 jovens votantes de 16 e 17 anos no município, hoje são 3.746, o que representa 0,9% no universo do eleitorado. No país, em relação a 2018, houve um crescimento de 51,13% nessa faixa etária do eleitorado, que saltou de 1.400.617 para 2.116.781 de adolescentes que poderão votar.

Esse público faz parte do grupo cuja idade não obriga o voto nas eleições gerais de outubro, mas que solicitou a emissão do título de eleitor até 4 de maio. A circunstância reverte, a nível nacional, uma tendência de duas décadas, lembra o cientista político Paulo Roberto Figueira Leal. A título de comparação, em 2018, por exemplo, o eleitorado adolescente teve retração de 35% na cidade em relação a 2014. “A última vez em que o eleitorado com 16 e 17 anos tinha crescido foi na eleição de 2002. Desde então, a cada eleição, se tinha menos eleitores nessa faixa etária do que na anterior”. Para Figueira Leal, fenômenos como o crescimento de jovens que pretendem votar não se explicam a partir de uma variável. Entretanto, em sua avaliação, a capacidade de mobilização de artistas, como a cantora Anitta, por exemplo, e influenciadores digitais, teve importante papel no convencimento de jovens a tirarem o título eleitoral. “Não é propriamente uma novidade que as redes sejam relevantes, mas parece que a novidade é a intensidade com que influenciadores digitais de outros campos acabaram se interessando pelo jogo político e entraram nessa campanha de mobilização.”

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Contexto

Outro fator considerado pelo cientista político para o avanço na quantidade de jovens eleitores é o contexto da eleição deste ano. “É a primeira eleição que, a essa altura, já há um nível de consolidação e de conhecimento dos principais candidatos que nenhuma outra teve. São nomes de alto conhecimento do eleitorado (no caso dos candidatos à Presidência) prenunciando uma campanha que começou muito cedo. Essa campanha já está na rua há muito tempo com os nomes que efetivamente a disputam. Isso implica um nível de mobilização da opinião pública em torno desse tema que é raro.” Nesse sentido, Figueira Leal analisa que, diferentemente de eleições anteriores, em que parte do eleitorado pode ter deixado para se preocupar com o processo eleitoral próximo do pleito, o atual contexto fez irromper um processo de antecipação que, “talvez esteja fortemente correlacionado também com a capacidade de muitos terem sua atenção chamada para o pleito, em momentos em que ainda era possível fazer registro (eleitoral).”

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Os adolescentes que possuem registro para voto representam 0,9% de todo o eleitorado do município e, no país, eles somam 1,35% do universo de votantes. Apesar de pequena, a porcentagem não deve ser desprezada, avalia o cientista político. “Nenhuma força política pode abrir mão de ter estratégias para todos os segmentos do eleitorado, porque, eventualmente, uma quantidade pequena de votos pode ser decisiva (em pleitos acirrados). Nas eleições dos últimos anos, talvez a de 2014 tenha sido aquela em que a distância se deu com menor nível. A distância de Dilma para o Aécio foi de três milhões de votos. Para o universo do eleitorado, isso é muito pouco. Então, numa eleição que tenha algo parecido com o que aconteceu em 2014, qualquer nicho do eleitorado pode fazer a diferença sobre vitória ou sobre derrota. E este não é um cenário impossível, mesmo que não seja o mais provável hoje.”

‘Consciência política’

“Eu sempre estive muito ligada à política e sempre quis votar, ter essa participação. Então, assim que completei 16 anos, eu tirei o título para conseguir exercer essa consciência política por meio do voto”, diz Maria Júlia Medeiros Morais, 16 anos (Foto: Leonardo Costa)

A Tribuna ouviu quatro adolescentes juiz-foranos que irão às urnas pela primeira vez em 2022. Para eles, o voto ainda é facultativo, entretanto, todos optaram por garantir o direito de participação eleitoral. A maioria deles já definiu seu candidato à presidência – o que ilustra o nível de consolidação e conhecimento dos candidatos em disputa pelo cargo.

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Com 16 anos completos em fevereiro, Maria Júlia Medeiros Morais vai à urna pela primeira vez em outubro. Conforme conta, a decisão por emitir o título logo cedo vem da consciência política que adquiriu desde cedo. “Eu sempre estive muito ligada à política e sempre quis votar, ter essa participação. Então, assim que completei 16 anos, eu tirei o título para conseguir exercer essa consciência política por meio do voto.”

Nesse sentido, a estudante conta que, mesmo tendo influências em casa sobre em qual candidato votar, optou por avaliar ela própria as candidaturas e escolher aquela que considera ser a melhor opção. “Eu comecei a pesquisar e minha escolha vai ser por pessoas que têm propostas legais e ideologias parecidas com as minhas. No primeiro turno, eu preferi não ir por força de candidato, mas votar naqueles que têm mais a ver com o que eu acredito.” Feliz em participar do processo pela primeira vez, Maria Júlia diz esperar que a participação dos jovens no pleito possa trazer melhorias principalmente para a educação.

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Preocupação semelhante é compartilhada pela estudante Manuela Faquini de Sousa, 16 anos. Assim como Maria Júlia, ela afirma querer contribuir com seu voto para “uma melhoria de perspectivas na educação pública”. Ela afirma que já possuía, há algum tempo, o desejo de tirar o título de eleitor assim que a legislação permitisse. “Eu acho importante participar do processo, contribuir para eleição, ainda mais porque envolve decisões sobre o futuro do país.” Manuela também já sabe em quem vai votar para presidente, mas afirma ter dúvidas quanto aos demais candidatos. “Nesse momento, ainda não escolhi os candidatos para os demais cargos, mas pretendo pesquisar, olhar o histórico. O importante é tentar escolher o melhor.” Para ela, é importante que jovens participem do debate político e não estejam desatentos quando o assunto é o futuro do país – e deles próprios.

‘Insatisfação’

“Eu tirei o título com o intuito de, através do voto, expor o que eu penso e conseguir mudar a realidade”, conta Heitor Lemos Maia, 16 anos (Foto: Leonardo Costa)

Prestes a completar 16 anos, Heitor Lemos Maia se diz ansioso para ir às urnas em outubro. Segundo o estudante, sua escolha por tirar o título ainda esse ano foi motivada pelo desejo de mudança e incentivada por mobilizações em redes sociais e propagandas, estimulando jovens a participarem do pleito. “Eu tirei o título com o intuito de, através do voto, expor o que eu penso e conseguir mudar a realidade.” Uma das preocupações atuais de Heitor é o preço de itens básicos, como alimentos. “Tem pesado no bolso da população e preocupado também os jovens. Espero que possamos eleger candidatos que olhem mais para a população.”

As mobilizações para estimular adolescentes a votarem fizeram Estéfany Carvalho, 17 anos, mudar de ideia. Ela se dizia “muito desanimada com a política no Brasil” e não pretendia votar este ano, mas optou por participar do processo eleitoral após perceber, com as movimentações, que seria uma “forma de exercer a democracia e mudar a realidade atual”. Segundo a estudante, agora ela percebe como “a política influencia diretamente nossas condições de vida e o acesso à educação, que nos prepara para o futuro”. Diferentemente dos outros estudantes, ela afirma ainda não ter escolhido candidatos. Estéfany está refletindo sobre a melhor opção e conta com incentivos no cursinho popular que frequenta. “Houve um movimento com os professores e membros da organização do curso para instruir os alunos sobre como buscar o histórico de cada candidato, ajudando na hora de escolher”, explica.

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Eleitorado com mais de 70 anos também cresce

Assim como entre os adolescentes, o número de idosos com possibilidade de exercer o voto facultativo em Juiz de Fora cresceu. A quantidade de eleitores com 70 anos ou mais apta a votar aumentou cerca de 17,3% na comparação com as últimas eleições gerais, em 2018, passando de 45.825 para 53.774. No país, o percentual também cresceu. De acordo com TSE, 14.893.281 eleitores nessa idade podem exercer o direito de escolher seus representantes – um aumento de 23,8% em comparação às eleições de 2018, quando 12.028.608 eleitores idosos podiam votar. Os idosos com 70 anos ou mais representam 12,8% de todo o eleitorado do município apto a votar nesta eleição. No país, eles somam cerca de 23,8% do universo de eleitores.

Na opinião do cientista político Paulo Roberto Figueira Leal, esse aumento reflete a transição demográfica na sociedade brasileira, que impacta diretamente o debate político e a composição do eleitorado. “A narrativa que o país tem ainda hoje sobre si, de um país de jovens, não é mais verdadeira. Estamos em pleno processo de transição etária que tem questões geracionais muito relevantes do ponto de vista de composição da sociedade e também do eleitorado. Cada vez menos será possível tratar este público da terceira idade somente como uma fatia segmentada do eleitorado, porque cada vez mais brasileiros estarão lá ou muito perto de lá. Isso tem implicações inclusive em políticas públicas.”

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