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Bolsonaro volta a Juiz de Fora 4 anos depois em busca do voto

LEONARDO COSTA TRIBUNA DE MINAS JUIZ DE FORA BOLSONARO 37
Presidente foi recebido por apoiadores no Aeroporto da Serrinha em Juiz de fora (Foto: Leonardo Costa)
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Por razões diversas, Juiz de Fora tem seu nome marcado na história do país. A mais recente delas é lembrada por um ato desarrazoado: o golpe à faca desferido por Adelio Bispo de Oliveira contra Jair Bolsonaro. O atentado aconteceu no dia 6 de setembro de 2018 durante um ato de campanha do então candidato à Presidência, quando ele caminhava ao lado de apoiadores pelo Centro. Quase quatro anos após quase perder a vida na esquina das ruas Batista de Oliveira e Halfeld, agora como presidente, Bolsonaro voltou à cidade pela primeira vez na última sexta (15). O roteiro, porém, foi bastante distinto. Não houve caminhada pelo Calçadão, nem tentativa de homicídio. Houve uma grande coincidência, no entanto: o presidente esteve em Juiz de Fora em claro ato de campanha. Ou, como determina a legislação eleitoral, de pré-campanha à reeleição.

Durante a visita de Bolsonaro à cidade, puderam ser observadas todas as características que têm marcado as movimentações políticas do presidente em esforço para tentar conquistar a confiança do eleitorado para renovar seu mandato por mais quatro anos. Teve motociata, encontro com apoiadores, ataques a ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ao sistema eleitoral como um todo, críticas a gestões anteriores – no caso, os governos petistas. Teve tom emotivo e encontro com lideranças religiosas e, ao menos, um momento de confronto com militantes adversários. Por outro lado, não existiram quaisquer anúncios do Governo federal para a cidade e região, o que reforçou ainda mais o tom de pré-campanha da visita.

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Há também o fato de a visita ter sido articulada pelo senador Carlos Viana, pré-candidato do PL ao Governo de Minas. Viana busca viabilizar seu nome em uma disputa que, até aqui, mostra-se polarizada entre os nomes do governador Romeu Zema (Novo), que tenta a reeleição, e do ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD). Assim, o senador estava junto de Bolsonaro quando a comitiva presidencial desembarcou às 8h55 da última sexta-feira, no Aeroporto da Serrinha, para ampla agenda política na cidade. Também estiveram presentes na atividade os ministros da Saúde, Marcelo Queiroga, e o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), além de nomes vinculados ao bolsonarismo, como os deputados locais Charlles Evangelista (PP) e a deputada estadual Sheila Oliveira (PL).

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Motociata com apoiadores

Bolsonaro participou de motocieta com simpatizantes em Juiz de Fora (Foto: Leonardo Costa)

Já no Aeroporto da Serrinha, Bolsonaro foi recebido por centenas de apoiadores, que aguardavam desde antes das 7h para participar de uma motociata convocada pelas redes sociais. Ao desembarcar, Bolsonaro vestia um colete balístico por baixo de um casaco. No primeiro momento, aproximou-se dos presentes para cumprimentos e fotos. Na sequência, de moto, o presidente partiu pelas ruas de Juiz de Fora. Ele não usava capacete, item obrigatório para motociclistas. Até o final do percurso, o comboio passou por vias importantes da cidade, como as avenidas Itamar Franco, Brasil, Rio Branco e Rui Barbosa. A motociata trouxe transtornos para o trânsito da cidade, em boa parte da manhã e do início da tarde.

Durante a motociata, um único incidente foi registrado. Quando o comboio passava pela Avenida Itamar Franco, Bolsonaro resolveu descer da moto e interagir com apoiadores na altura da Rua Monsenhor Gustavo Freire, no Bairro São Mateus, Zona Sul. No local, conforme mostram imagens que circulam na internet e que, inclusive, foram compartilhadas nas redes sociais pelo deputado federal Giovani Cherini (PL), do Rio Grande do Sul, uma mulher se aproxima do presidente e o chama de “corrupto”. Imediatamente, ela foi afastada por pessoas que estavam próximas a Bolsonaro, provavelmente seguranças. Conforme publicado pela Folha de São Paulo e pelo Uol, a mulher afirmou ter tido seu rosto empurrado pelo presidente. Ainda na sexta-feira, à noite, em live em suas redes sociais, Bolsonaro minimizou o incidente. “É o fim da picada ser chamado de corrupto por petista.”

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Após o incidente, a motociata seguiu até o Bairro Santa Terezinha, próximo ao 2º Batalhão da Polícia Militar, local em que estava prevista a dispersão. Algumas motocicletas, todavia, continuaram acompanhando o presidente no trajeto nas demais agendas em Juiz de Fora, nas visitas à 43ª Assembleia Geral Extraordinária da Convenção Estadual das Assembleias de Deus Ministério de Madureira, realizada no Centro Educacional e Social Betel, na Avenida Rio Branco, próximo à Garganta do Dilermando; e na visita à Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora.

Cidadão honorário

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Antes da motociata, ainda no entorno do Aeroporto da Serrinha, os deputados Charlles Evangelista e Sheila Oliveira entregaram ao presidente o título de Cidadão Honorário de Juiz de Fora. A homenagem é oriunda de projeto de lei de autoria dos dois parlamentares apresentado em 2018, quando ainda eram vereadores em Juiz de Fora. A legislação que concede a honraria ao presidente foi sancionada e publicada em janeiro de 2019.

Em evento religioso, Bolsonaro dispara contra TSE

Após percorrer as ruas da cidade de moto ao lado de apoiadores, o presidente participou da 43ª Assembleia Geral Extraordinária da Convenção Estadual das Assembleias de Deus Ministério de Madureira, no Centro Educacional e Social Betel. No evento religioso, Bolsonaro discursou e repetiu ataques feitos ao TSE, direcionados especificamente ao presidente do Tribunal, o ministro Edson Fachin, e, por consequência, ao processo eleitoral. “Sabemos que tem alguns poderes que querem ter o poder absoluto. Eu venho falando há algum tempo: essas pessoas podem muito, mas não podem tudo. Faz uma coisa assim: quem foi que tirou o Lula da cadeia? Foi o ministro Fachin. Onde está o Fachin? Conduzindo o processo eleitoral. Suspeição, não é?”, insinuou.

Ainda durante o discurso, Bolsonaro chegou a falar das ações do Governo para enfrentamento da pandemia de Covid-19 e afirmou não ter se omitido na pandemia. “Qual presidente enfrentou o que eu já enfrentei? Três anos e meio de Governo, dois anos de pandemia, com a política do ‘fique em casa, a economia a gente vê depois'”, disse. Assim o presidente voltou a defender o uso de medicamentos como a hidroxicloroquina e ivermectina, que não possuem comprovação científica para tratar a Covid-19. “Tinha comprovação científica? Não tinha. E a vacina ano passado? Também não tinha. (…) A maioria dos remédios é descoberta por acaso. É um experimento, a gente tem que buscar uma alternativa”.

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Ao final de sua participação no evento religioso, Bolsonaro deixou o local em um carro SUV, mas abriu a porta e colocou o corpo para fora do veículo, com o intuito de acenar aos apoiadores. Assim, chegou ao próximo destino: a Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora.

Presidente recebe homenagem de médicos da Santa Casa

Presidente recebeu quadro com foto da equipe médica que o atendeu após atentado de 2018 durante ato de campanha em Juiz de Fora (Foto: Leonardo Costa)

O presidente chegou à Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora por volta das 12h30, e participou de uma solenidade no auditório da instituição. A mesa principal do evento foi composta por Bolsonaro e pelo presidente do hospital, o médico Renato Loures. Os ministros, deputados e a equipe médica da instituição, incluindo profissionais que socorreram e operaram Bolsonaro após o atentado durante ato de campanha em Juiz de Fora em 2018, também participaram da atividade.

Na Santa Casa, Bolsonaro fez um discurso emotivo, lembrando, principalmente, sua passagem pelo hospital em setembro de 2018. “É uma emoção muito grande retornar a essa casa. Não por conhecê-la, mas por desconhecê-la”, afirmou o presidente, lembrando que já chegou ao hospital inconsciente. “É uma coisa que a gente nunca espera. Estar no meio do povo é acontecer aquela tragédia”, reforçou.

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Brevemente, voltou a questionar as motivações de Adelio Bispo de Oliveira, autor da facada, preso após o atentado, julgado após as investigações e considerado inimputável pela Justiça Federal em julho de 2019. Neste sentido, pontuou que não tem interferência sobre a Polícia Federal. “Não tenho ascendência sobre a polícia federal. Me acusam e não acham nada”, disse o presidente.

O atendimento recebido na Santa Casa foi, de fato, o tema da breve fala do presidente. “Os relatos eram de que dificilmente alguém sobrevive àquela facada.” Assim, na solenidade agradeceu à equipe médica presente. “Não é só a minha vida. É a história do Brasil.” Em dado momento, o presidente chegou a se emocionar. “Quis o destino que eu sobrevivesse. Graças a Deus. Devo minha vida a vocês. O que eu mais pedia era que minha filha mais nova não ficasse órfã”, contou.

Tom político

O tom político também se fez presente em alguns momentos. Como de costume, Bolsonaro fez críticas a gestões anteriores. Por outro lado, admitiu a existência de erros em seu governo. “Não é fácil ser presidente e tentar mudar o seu país. Ao longo de décadas, o Brasil foi indo para a esquerda e por um caminho que parecia que não teria mais como voltar à sua normalidade. Vocês não sabem a dificuldade para escolher o ministério e impor o seu nome, dada às pressões de outros grupos, que queriam o Poder Executivo da mesma forma como era anteriormente. Fizemos o possível. Errei em algumas escolhas, sim”, afirmou.

Presidente teve a companhia de candidato ao Governo de Minas

A visita de Jair Bolsonaro a Juiz de Fora aconteceu 1.408 dias depois do evento que marcou a última campanha presidencial, quando o presidente – então candidato à Presidência – foi esfaqueado por Adelio Bispo de Oliveira no dia 6 de setembro de 2018.

Bolsonaro veio acompanhado do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Heleno, do senador Carlos Viana, candidato ao Governo de Minas pelo PL, e pelo deputado Daniel Silveira, alvo de polêmica com o STF. O senador destacou que ao visitar Juiz de Fora o presidente também consolidou apoio à sua candidatura, embora este não tenha feito qualquer pronunciamento envolvendo a sucessão no Estado.

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