Um ano de profundo e exaustivo trabalho dedicado a elucidar violações de direitos humanos durante a ditadura militar resultou em um relatório de 272 páginas lançado na forma de livro hoje. “Memórias da repressão” é a materialização do trabalho feito pelos sete integrantes da Comissão Municipal da Verdade, que contou com apoio de UFJF e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Subseção Juiz de Fora. O lançamento acontece às 19h30 na Câmara Municipal. O conteúdo estará disponível – na internet e na íntegra – a partir de amanhã, no site www.pjf.mg.gov.br/comissaodaverdade.
Segundo a presidente da comissão, Helena da Motta Salles, o lançamento é o coroamento de um ano de trabalho intenso de busca e análise de documentos, além de apuração de depoimentos contundentes de violação de direitos na cidade. “A população não sabe o que aconteceu, ou sabe de forma superficial.” Durante a coletiva de apresentação do livro, a coordenadora pediu desculpas oficiais às famílias atingidas pelo sistema repressivo durante os anos de 1964 e 1985.
A professora e pesquisadora da UFJF Christiane Jalles identificou o papel central da cidade no aparelho repressivo nacional. A coordenadora de Direitos Humanos da OAB/MG, Cristina Couto Guerra, destacou o papel “heróico” das mães dos desaparecidos políticos e dos advogados que, em sua maioria, exerceram papel de resistência contra o sistema. O vereador Roberto Cupolillo – Betão (PT) lembrou de intervenção verificada em sindicatos de classe, perda de mandatos por vereadores, intensa divisão de classes e “auxílio” da imprensa ao processo golpista.
A professora da UFJF Teresa Neves alertou que desconhecer o passado não significa negar a sua existência. O trabalho de resgate da memória, diz, pode ajudar a mudar a trajetória, desenhando um novo futuro para a cidade. O presidente da OAB Subseção Juiz de Fora, Denilson Clozato, elogiou a iniciativa e o relatório, e a jornalista Fernanda Sanglard acrescentou que o trabalho contextualiza o sistema de repressão e a prática de violação de direitos vividos por muitos, antes mesmo do Ato Institucional 5 (AI-5). Com a abertura da discussão sobre o tema, a expectativa unânime é que o livro estimule novas pesquisas e investigações sobre esse passado que já foi mais sombrio em Juiz de Fora.