Após duas semanas e uma campanha de segundo turno muito curta, a deputada federal Margarida Salomão (PT) e o empresário Wilson Rezato (PSB) voltam a testar seus prestígios e colocam seus nomes para a avaliação do eleitorado juiz-forano. Em jogo, o comando da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) pelos próximos quatro anos. Assim, 410 mil eleitores da cidade estão aptos a manifestar suas vontades em pleito que acontece entre as 7h e as 17h, sendo que o período das 7h às 10h é preferencial para eleitores com idade a partir dos 60 anos.
A disputa que marca a sucessão do prefeito Antônio Almas (PSDB) marcará um novo capítulo na história política da cidade, que terá pela primeira vez, um partido que se posiciona mais à esquerda no espectro político nacional à frente do Município desde a redemocratização do país a partir da segunda metade da década de 1980. Isso porque nem PT nem PSB jamais ocupou o Poder Executivo municipal.
Mais do que isso, a ampla maioria dos partidos que integram as coligações de Margarida e Wilson jamais exerceu a titularidade da Prefeitura. No caso da deputada federal, sua empreitada une PT e PV. Já o empresário, além do PSB, tem em seu entorno legendas como o Democratas, o PL, o PSD e o Cidadania.
A exceção no caso é o PL, que chegou a ocupar a PJF quando ainda chamava PR sob a caneta do ex-prefeito José Eduardo Araújo, que assumiu o comando do Município após o afastamento e a renúncia do ex-prefeito Carlos Alberto Bejani (à época, no PTB e, hoje, no PSL) em 2008. Na ocasião, Bejani chegou a ser preso em meio às denúncias que integraram a Operação Pasárgada.
Nos últimos 30 anos, cadeira foi ocupada por PTC, PSDB, MDB e PTB
Aliás, desde a redemocratização a partir de 1985, Bejani foi o primeiro prefeito de Juiz de Fora. Ele chegou ao seu primeiro mandato pelo então PJ, partido que hoje atende pela sigla PTC e que, no primeiro turno, lançou o pastor Aloízio Penido como candidato à PJF.
Em 1992, o PSDB chegou ao Governo com a eleição do ex-prefeito Custódio Mattos, hoje no Cidadania, para seu primeiro mandato. Na sequência, veio PMDB, hoje MDB, por dois mandatos com a eleição e a reeleição de Tarcísio Delgado (hoje no PSB), em 1996 e 2000.
Nas eleições de 2004, o PTB assume a PJF com a eleição de Bejani para um novo mandato. Em 2008, Custódio vence o pleito e leva o PSDB de volta à chefia do Executivo. Em 2012 e 2016, MDB sai vitorioso com a eleição e a reeleição de Bruno Siqueira (MDB), que renunciou em 2018 e abriu espaço para a volta dos tucanos com a ascensão de Antônio Almas ao comando da Prefeitura.
Prefeito e ex-prefeitos evitam manifestações públicas; Tarcísio é exceção
Com relação ao atual prefeito e os ex-prefeitos de Juiz de Fora, o único apoio público a um dos candidatos que disputam o segundo turno foi feito por Tarcísio Delgado, que manifestou voto em Wilson.
Tarcísio defendeu o candidato do PSB por seu perfil de “gestor”, apesar de considerar Margarida “intelectualmente mais preparada”. Integrando o Cidadania, o apoio de Custódio a Wilson pode ser considerado como natural.
Os demais ex-prefeitos – Bejani, Bruno e José Eduardo – e o atual prefeito – Antônio Almas – não fizeram manifestações públicas de apoio a Margarida ou a Wilson.
Ione e Sheila não declararam apoio aos candidatos
Com relação aos outros nove nomes que disputaram a Prefeitura no primeiro turno das eleições municipais, a delegada da Polícia Civil Ione Barbosa (Republicanos) e a deputada estadual Sheila Oliveira (PSL) se mantiveram neutras no segundo e não declararam apoio a nenhum dos dois candidatos envolvidos nas eleições deste domingo. Ione foi a terceira mais votada no último dia 15 de novembro. Sheila, a quarta. Quinto colocado, o engenheiro Eduardo Lucas (DC) também não fez manifestação de voto.
Margarida recebeu a declaração de apoio de Fernando Elioterio (PCdoB), Lorene Figueiredo (PSOL), Marcos Ribeiro (Rede) e do PSTU, que no primeiro turno lançou a professora Victória Mello (PSTU) como candidata à PJF e declarou “voto crítico” à deputada. Manifestaram apoio a Wilson, o pastor Aloízio Penido e o general da reserva Marco Felício PRTB).
No primeiro turno, Margarida teve 39,6% dos votos válidos; Wilson, 23%
Aos 70 anos, a deputada federal Margarida Salomão chega para o segundo turno após ter recebido 102.489 votos, 42 mil a mais que seu adversário, o empresário Wilson Rezato. Tal desempenho corresponde a 39,46% da votação válida. Wilson, que tem 59 anos, avançou para a etapa plebiscitária da disputa com o apoio de 59.633 eleitores, 22,96% da votação válida. Os dois candidatos são naturais de Juiz de Fora.
Na apuração do último dia 15 de novembro, apareceram na sequência Ione Barbosa (Republicanos), na terceira colocação, com 56.699 votos, 21.83% da votação válida; Sheila Oliveira (PSL), com 26.068 votos, 10,04%; engenheiro Eduardo Lucas (DC), 4.048 votos (1,56%); o pastor Aloízio Penido (PTC), 2.478 votos (0,95%); a professora Lorene Figueiredo (PSOL), 2.381 votos (0,92%); o advogado Marcos Ribeiro (Rede), 1.952 votos (0,75%); o general da reserva Marco Felício (PRTB), 1.813 votos (0,7%); o servidor público federal Fernando Elioterio (PCdoB), 1.807 votos (0,7%); e a professora Victória Mello (PSTU), 353 votos (0,14%).
410 mil eleitores estão aptos a votar em JF
No segundo turno das eleições municipais deste domingo, 410.339 eleitores estavam todos a votar em Juiz de Fora. Contudo, em meio à pandemia da Covid-19, a cidade registrou abstenção recorde no primeiro turno, realizado no último domingo (15).
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 113.983 eleitores não compareceram às urnas. A marca corresponde a 27,77% do eleitorado local.
Assim, com a quantidade de pessoas que ficaram alheias ao processo eleitoral, o número de faltosos supera em mais de dez mil os 102.489 votos obtidos pela primeira colocada no primeiro turno, Margarida Salomão, e em mais de 54 mil o total obtido por Wilson Rezato.
Brancos e nulos
Também no primeiro turno, os votos brancos foram manifestados por 12.532 eleitores e os nulos por 24.103 votantes. Juntos, estes recortes somaram 12,36% do eleitorado e, se acrescidos ao total de abstenções, elevam para 40% a porcentagem de eleitores que não escolheram qualquer um dos candidatos apresentados para gerir a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) a partir de janeiro.
Abstenção traça curva ascendente desde 2008
Em 2008, quando havia 368.011 eleitores aptos a participar do pleito em Juiz de Fora, 14,84% não foram votar no primeiro turno. Quatro anos depois, em 2012, quando o eleitorado reunia 386.662 pessoas, 17,33% delas se abstiveram na primeira etapa do pleito. Já em 2016, a porcentagem de faltosos chegou a 20,04%, do total de 395.425 votantes que formavam o eleitorado local à época.
O comparecimento dos eleitores juiz-foranos às urnas também sofreu queda entre as eleições presidenciais de 2014 e 2018, passando de 18,64% de abstenções para 20,34% entre um processo eleitoral e outro.
Margarida está em sua quarta disputa
Deputada em seu terceiro mandato, Margarida está em sua quarta candidatura à Prefeitura como cabeça de chapa do PT. Em todas as ocasiões, ela sempre chegou ao segundo turno. Em 2008, foi pelo ex-prefeito Custódio Mattos (Cidadania, à época no PSDB). Em 2012 e 2016, por Bruno Siqueira (MDB).
Margarida, que é professora, também foi reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) por dois mandatos, entre 1998 e 2006. Na década de 1980, ela foi secretária municipal de Administração e de Governo durante o primeiro mandato de Tarcísio Delgado, à época no PMDB.
Tanto que, nas eleições municipais de 1988, ela integrou a chapa de situação na sucessão de Tarcísio e foi candidata a vice-prefeita na coligação do então PMDB, encabeçada pelo professor Murílio Hingel.
O vice-prefeito de Margarida é o vereador Kennedy Ribeiro (PV).
Wilson tenta pela segunda vez
Por sua vez, o empresário Wilson Rezato disputou sua primeira eleição já como candidato à Prefeitura no pleito municipal de 2016.
Na ocasião, ficou na quarta colocação, atrás de Bruno, prefeito eleito, Margarida e do deputado estadual Noraldino Júnior (PSC), que, recentemente, manifestou apoio a Margarida, segundo a própria candidata.
Para além da política, Wilson é empresário do ramo da construção civil. É engenheiro civil formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e também técnico em edificações pelo Curso Técnico Universitário (CTU).
Wilson tem como candidato a vice-prefeito em sua chapa o coronel veterano da Polícia Militar Alexandre Nocelli (DEM).