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Candidatos driblam redução de verba para fazer campanha

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As eleições 2018 apresentam um cenário desafiador aos candidatos, que deverão trabalhar para a conquista de votos com menos recursos e em menor tempo. Esta é a primeira vez que a legislação eleitoral proíbe o financiamento empresarial de campanhas. A arrecadação de pessoas físicas também é limitada, não podendo exceder a 10% do rendimento bruto do doador registrado em 2017. O período para ir às ruas pedir votos diminuiu em comparação com 2014, quando a campanha era realizada em 90 dias. O período agora soma 52 dias – tendo começado no último dia 16 e terminado em 6 de outubro. Neste contexto, a internet tem sido uma grande aliada para garantir a aproximação junto aos eleitores. Já as propagandas em rádio e TV começam a ser veiculadas a partir da próxima sexta, dia 31. Mesmo assim, o contato pessoal ainda é considerado fundamental para o bom desempenho nas urnas.

A Tribuna analisou os gastos das últimas campanhas dos 15 candidatos que têm domicílio eleitoral em Juiz de Fora e exerceram mandato e conversou com 13 deles para saber quais são as estratégias, as dificuldades e as avaliações sobre a disputa por uma das 513 cadeiras na Câmara dos Deputados e 77 da Assembleia Legislativa. Isauro Calais (MDB) e Lafayette Andrada (PRB) foram procurados, mas não responderam à reportagem.

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Dentre os candidatos aos cargos de deputado federal e estadual, seis são vereadores, que terão que despender mais esforços e recursos para se tornarem conhecidos na região e angariar votos em outras cidades. Para se ter ideia, na comparação entre cifras, Adriano Miranda (PHS) gastou R$ 6 mil na campanha por uma vaga à Câmara Municipal de Juiz de Fora em 2016, o que não chega a 1% das despesas de Noraldino Júnior (PSC), detentor da candidatura mais barata para a Assembleia Legislativa em 2014, avaliada em R$ 700 mil. Na disputa para a Câmara dos Deputados, a diferença também é grande: Marcus Pestana (PSDB) despendeu quase R$ 2,5 milhões para conquistar uma vaga em Brasília. A candidatura mais cara para vereador, que foi de Charlles Evangelista (eleito pelo PP e hoje no PSL), contou com orçamento de R$ 50 mil (ver quadro).

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Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a estimativa de gastos para a campanha de um deputado federal nas eleições de 2014 foi, em média, de R$ 6,4 milhões. Para deputado estadual, o valor foi de R$ 3,8 milhões. Os números contrastam com o teto permitido para as eleições deste ano. Enquanto o limite para as candidaturas à Câmara de Deputados é de R$ 2,5 milhões, para Assembléia Legislativa está fixado em R$ 1 milhão.

Diante das limitações financeiras, a primeira semana de campanha de 13 candidatos juiz-foranos foi embasada em organização, abertura de conta e início do trabalho para o levantamento de recursos. Boa parte ainda não tinha material gráfico pronto para distribuição, mesmo assim, iniciou o contato direto com os eleitores, percorrendo bairros da cidade e outros municípios. As redes sociais tornaram-se a principal alternativa para aumentar o alcance da divulgação de propostas e diminuir as barreiras físicas para se conquistar o eleitorado.

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Partidos maiores irão distribuir verba de fundo eleitoral

Com a proibição de doação de empresas para campanhas eleitorais, a União reservou R$ 1,7 bilhão para o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), também conhecido como fundo eleitoral, criado em 2017. A verba será distribuída entre os partidos de forma proporcional à representatividade política. Deste montante, 48% serão repassados às legendas conforme o número de deputados na Câmara. Outros 35% serão divididos obedecendo o critério de votos obtidos nas últimas eleições pelos representantes eleitos. Ainda há reserva de 15% para as siglas que elegeram senadores. Apenas 2% do total do fundo serão distribuídos de forma igual entre todas as legendas registradas no TSE. Uma vez recebidos os recursos, os partidos devem direcionar 30% do valor para financiar campanhas femininas, conforme determinado pela Justiça Eleitoral.

Os partidos maiores deliberaram em convenção que parte da verba recebida será destinada às candidaturas de deputado federal e estadual, de forma a conquistar mais espaço na bancada e, assim, garantir maior parcela do fundo eleitoral futuramente. Nesta perspectiva, a deputada Margarida Salomão (PT) espera se beneficiar da determinação da Justiça Eleitoral, para conquistar parte dos recursos necessários. “Tenho uma grande quantidade de apoiadores, mas a contribuição deles é na militância. A arrecadação (de pessoas físicas) é muito baixa, pois não é meu forte e não há essa tradição no país.” Segundo o deputado Marcus Pestana, que terá que dividir um terço do fundo eleitoral destinado para Minas Gerais com os demais correligionários, a maior parte dos custos com a candidatura será financiada com dinheiro próprio e doações de apoiadores. “O PSDB não consegue garantir o financiamento total, o que restam são as contribuições.”

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Legendas menores delegam para as campanhas majoritárias

Já as legendas menores irão direcionar os recursos do fundo eleitoral para as campanhas majoritárias no país, o que será mais um dificultador para os candidatos que se lançaram aos cargos de deputado. É o caso de Sheila Oliveira e Charlles Evangelista, do PSL. Com necessidade de fortalecer o caixa da campanha à Presidência da República de Jair Bolsonaro, do mesmo partido, ambos não esperam receber um centavo do pouco mais de R$ 9 milhões disponíveis. Para driblar a limitação financeira, a estratégia é a divisão de despesas de viagens e material. “É uma campanha apertada financeiramente, feita basicamente com recursos próprios. Estou dividindo as despesas com Charlles. Não vejo sinalização de receber nenhum incentivo do meu partido”, conta Sheila.

Repasse de fundo partidário é opcional

Além do fundo eleitoral, há a possibilidade de incentivo por parte do Fundo Partidário. Com uma reserva de R$ 888,7 milhões, esta verba tem a função de financiar os partidos, mas o TSE permitiu que ela também seja usada nestas eleições para o financiamento de campanhas. O critério de distribuição determina que 95% do montante seja direcionado conforme a proporção de votos obtidos por cada legenda na última eleição para a Câmara dos Deputados e apenas 5% seja dividido igualmente entre todas as siglas.

A definição sobre o uso do recurso depende de cada partido. O PPS, por exemplo, decidiu que não irá repassar o dinheiro para as candidaturas de deputados estaduais, o que aumentou o desafio do candidato Antônio Jorge à reeleição. “Houve uma redução muito significativa da verba. Nós temos feito jantares para arrecadação e estamos contando com a doação de simpatizantes da candidatura. Esta primeira semana de campanha foi muito confusa, como tivemos que esperar o CNPJ para abrir a conta, não conseguimos arrecadar recursos e ficamos sem material”, relata o assessor parlamentar do candidato, Ricardo Miana.

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Prazo de campanha pode equilibrar falta de recursos

Na avaliação de parte dos entrevistados, a redução de recursos foi compensada com o encurtamento do tempo de campanha. “Isto facilita quem não tem verba, pois com maior prazo para pedir votos, aqueles candidatos com poder econômico poderiam investir e tornar a disputa menos equilibrada”, opina Cido Reis, candidato pelo PSB à vaga de deputado estadual. Na disputa pelo mesmo cargo, o ex-prefeito de Juiz de Fora, Bruno Siqueira (MDB), concorda. “O período menor de campanha ajuda na administração deste recurso que diminuiu.”

Já o candidato Roberto Cupolillo (Betão-PT) considera a redução de tempo um problema maior do que a diminuição de recursos. “Minhas campanhas sempre foram muito baratas, pois nunca aceitamos doação de empresas mesmo quando a legislação permitia. O financiamento sempre foi feito de forma coletiva”, diz. “Mas o prazo menor de campanha prejudica o acesso a um número maior de pessoas.”  Noraldino Júnior. também afirma que o pouco volume de recursos não é problema para o modelo de trabalho que sua equipe desenvolveu. “O financiamento está sendo feito de acordo com a legislação eleitoral, através do fundo eleitoral e doações da vaquinha virtual.Como sempre fizemos campanha enxuta, vamos diminuindo os recursos gastos. Nesta eleição, o custo será menor do que na anterior.”

Favorecimento

O candidato a deputado federal Rodrigo Mattos (PHS) acredita que a nova legislação eleitoral favorece quem já está no poder. “As novas regras priorizam os deputados federais que já estão no cargo, pois os recursos são menores para quem está tentando entrar. Mas acredito que nesta eleição o dinheiro vai influenciar pouco nos resultados, pois as pessoas querem renovação.”

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Redes sociais ganham protagonismo nestas eleições

Diante de um cenário com menor tempo de campanha e recursos escassos, candidatos têm trocado viagens a diversos municípios por uma estratégia nas redes sociais, apostando na capilaridade das mídias na tentativa de atingir o eleitorado. Todos os 15 candidatos analisadas pela Tribuna marcam presença na internet. Dentre as ferramentas mais utilizadas estão Facebook, Instagram, WhatsApp e Twitter, nesta ordem. Um dos diferenciais apontados é a métrica em tempo real, o que possibilita entender e atingir melhor o público-alvo. “Temos usado muito, pois é como um termômetro da situação. Estamos tendo uma aceitação muito boa nas redes”, relata o candidato a deputado estadual Adriano Miranda.

A segmentação tem sido explorada pelos candidatos, que conseguem escolher temas centrais para atingir um público específico. Segundo dados do Facebook, Charlles Evangelista e Sheila Oliveira são os que, até o momento, que impulsionaram postagens durante o período eleitoral. Charlles, por exemplo, em uma de suas postagens patrocinadas quis atingir pessoas interessadas nas Forças Armadas. Sheila, em seu jingle de campanha, quis atingir pessoas ligadas à polícia.  Outras vantagens apontadas pelo uso da internet são o menor custo e impacto ambiental. “As pessoas estão valorizando este trabalho, que garante o uso de menos papel e poluição sonora. É um momento em que os eleitores buscam informação sobre o candidato para votar, e não apenas nós que vamos até eles”, ressalta Rodrigo Mattos. Para Noraldino, que soma quase dois milhões de usuários no Facebook, as redes se configuram em oportunidade de maior transparência e participação popular. “Pelas redes, recebo sugestões e críticas, avalio necessidades e presto contas sobre o meu trabalho.”

Atento ao aspecto “negativo” que a web pode trazer, no sentido de proliferação de notícias falsas, Bruno Siqueira criou a Central da Verdade, um espaço virtual em que desmente boatos. “A internet tem um papel fundamental para a divulgação dos projetos, mas pode abrir espaço para fake news. Já sofri muito com mentiras e distorções de fala e precisei acionar a Justiça. Por isso, criamos este canal, que também será usado nestas eleições.”

Corpo a Corpo ainda é indispensável

Apesar do maior engajamento nas redes, o contato direto com os eleitores é considerado indispensável pelos candidatos, que mesmo com a redução de recursos já começaram a visitar os municípios. Com apenas 52 dias de campanha, eles divergem nas estratégias para capitalizar o maior número de votos. Enquanto os que almejam mudar de cargo utilizaram o período de pré-campanha para formar alianças na região, os que tentam a reeleição apostam no trabalho feito ao longo dos anos, na destinação de emendas parlamentares e posicionamentos em matérias importantes para permanecer no cargo para os próximos quatro anos.

Desta forma, os candidatos seguem investindo em materiais tradicionais de campanha, como “santinhos” para distribuição em locais com grande circulação de pessoas. “É uma campanha franciscana, estou usando as redes sociais, mas meu material já está rodando nas ruas”, conta Charlles Evangelista, que já depositou R$ 28 mil na conta eleitoral para impressão de material e impulsionamento de posts na internet. Para Marcus Pestana, essa deve ser a eleição mais difícil de toda a sua trajetória política. “Não há possibilidade de conquistar um mandato em 30 ou 60 dias. É com base no trabalho consolidado que tenho uma entrada em cerca de 125 municípios. A receita é sola de sapato, visitar e pé na estrada”, afirma.

Também acreditando nas dificuldades impostas para este pleito, Júlio Delgado (PSB) confirma que a presença junto ao eleitor é indispensável. Por isso, mesmo sem o material de campanha em mãos, ele já tem percorrido os municípios. “Viajar as cidades já faz parte do meu trabalho de forma constante. Esta proximidade com o público é fundamental não só em período eleitoral, mas no dia a dia para a realização do nosso trabalho. As pessoas querem ver e conversar com o candidato. A internet é um canal a mais para elas pesquisarem sobre os nossos projetos e propostas.”

“A rede social é complementar com a presença física. É da natureza do processo político o desejo do eleitor conhecer o candidato, falar com ele”, afirma Margarida Salomão. Neste sentido, Wadson Ribeiro (PCdoB) afirma que tem utilizado da capilaridade conquistada no cargo de Secretária Extraordinária de Estado de Desenvolvimento Integrado e Fóruns Regionais para viajar por todas as regiões de Minas. ” Somente na primeira semana, cruzei o estado de Norte a Sul.”

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