Os ecos das ruas e do protesto atingiram a principal casa de discussão política juiz-forana, a Câmara Municipal. Vários vereadores se manifestaram em relação ao ato. A maioria dos discursos foi contrária às reformas que signifiquem retirada de direitos de trabalhadores. Com ressalvas, entretanto, como o caso de Charlles Evangelista (PP), que chegou a sugerir que os empregadores “demitam os grevistas e contratem desempregados”.
Como tem se tornado usual na atual Legislatura, Charlles adotou tom provocativo. Antes de pedir a demissão dos grevistas, disse que a greve é um direito. Como justificativa, o vereador do PP, mesmo ressaltando que é sindicalizado na entidade que representa os oficiais de Justiça, criticou as centrais sindicais que convocaram os atos deflagrados em todo o país. O parlamentar chamou a mobilização de “palhaçada”. “É algo totalmente manipulado por sindicatos. O foco (da greve geral) é fazer campanha para os partidos de esquerda em 2018 e tirar o foco das investigações da Operação Lava Jato”, afirmou. Charlles também saiu em defesa de empresários e comerciantes, lamentando o fato de a greve ser realizada em um dia útil e em um mês em que incidiram dois feriados.
O posicionamento de Charlles foi contraposto por falas de Júlio Obama Jr. (PHS) e Wanderson Castelar (PT). Antes do posicionamento do vereador do PP, Obama já havia feito manifestação em apoio à greve geral. “Há algum tempo, a sociedade se resignava. Agora, o povo aprendeu a externar sua indignação.” Após as críticas à paralisação, o parlamentar do PHS voltou a pedir a palavra para afirmar que Charlles precisava compreender os méritos da manifestação. “Todos sabemos qual lado vai sair mais prejudicado neste cabo de guerra. Meu mandato tem por objetivo defender aqueles mais pobres”, afirmou, lembrando que os protestos também são pela revogação de norma legal que permite a terceirização de atividades-fim. “Amanhã, por exemplo, podemos ter professores terceirizados.”
O petista afirmou que os posicionamentos do colega de Legislatura não ajudam a entender a atual realidade do país, em alusão ao que entende como retirada de direitos dos trabalhadores por conta das reformas propostas pelo Governo federal. “A greve é um sucesso. Não me recordo de um nível de adesão tão grande. Temos manifestações, inclusive, de entidades ligadas à Justiça do Trabalho favoráveis às paralisações e contra a reforma”, comemorou.
Outra provocação de Charlles ao PT ocorreu quando a vereador sugeriu o corte de ponto dos parlamentares que não estivessem presentes à sessão. A provocação foi direcionada à Roberto Cupolillo (Betão, PT). Com forte atuação sindical, Betão esteve presente à manifestação iniciada na Praça da Estação desde as primeiras horas da manhã. O pleito de Charlles, no entanto, destoa da prática observada no cotidiano da sessões da Câmara, em que ausências são recorrentes, e as faltas são abonadas mediante justificativa anterior ou posterior. A prerrogativa, aliás, é prevista pelo regimento interno da Casa.
Outro que se manifestou foi Luiz Otávio Coelho (Pardal, PTC). Primeiro, Pardal afirmou que não só ele, mas toda Câmara, está unida em “prol dos trabalhadores”. Disse ainda apoiar manifestações que ocorram dentro da legalidade. Contudo, referindo-se à paralisação dos ônibus, observa que ela inviabiliza a possibilidade de os trabalhadores que queiram trabalhar se deslocar a seus locais de labuta. “Somos contrários a qualquer prejuízo.” Em fala posterior, Pardal disse ainda que as reformas em discussão foram “corajosamente” apresentadas pelo presidente Michel Temer.
Além de Betão, outras detentores de mandato compareceram à manifestação que se entendeu por toda manhã e já invade a tarde desta sexta-feira. Tão logo a sessão ordinária da Câmara teve seu fim, Castelar seguiu para o ato. Também vereador, Cido Reis (PSB) recolheu assinaturas contrárias à proposta de Reforma da Previdência na Praça da Estação.