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Mineradora de Juiz de Fora é alvo de denúncias em audiência

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A Nexa Resources, mineradora com uma unidade instalada no bairro de Igrejinha, na Zona Norte de Juiz de Fora, foi alvo de denúncias, em audiência pública realizada na Câmara Municipal, na manhã desta terça-feira (22). A empresa se anuncia como uma das maiores produtoras de zinco do mundo, com receita líquida consolidada de US$ 2,6 bilhões, em 2023. A refinaria do metal em Juiz de Fora existe desde 1980, e, em 2021, produziu cerca de 81,1 mil toneladas do elemento químico.

Foto: Reprodução CMJF

Funcionário da empresa há 20 anos, Ricardo do Nascimento Pereira, nascido em Igrejinha, afirma que a fábrica vem se degradando estruturalmente, sem um plano de manutenção periódica. Ele acrescenta que a política de saúde da empresa não abrange a todos os envolvidos: “Os nossos uniformes, por exemplo, são lavados por uma lavanderia, justamente por conta da contaminação. E os terceirizados não têm vestiário, banheiro decente, têm que sair da fábrica sujos de minério e ir para casa, contaminando seus entes queridos.” Ricardo lista a exposição de mercúrio, cádmio, cobalto e manganês.

Maria Oneida, nascida e criada no bairro da Zona Norte, também relata que muitas pessoas estariam adoecendo nas comunidades e sem nenhuma assistência da Nexa. A maioria dos relatos ouvidos citam furúnculos nos moradores. Ela acrescenta que “nenhuma plantação vai para a frente”.

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Ex-funcionários afastados também deram depoimento. No caso de Sebastião Geraldo de Souza, a contaminação aconteceu no final de 2003. Ele conta que ficou oito dias internado no Centro de Terapia Intensivo (CTI), e até hoje precisa fazer controle do quadro no Hospital Universitário da UFJF. Segundo ele, após várias reclamações, o Ministério do Trabalho teria constatado, na época, vários vazamentos de gás na empresa.

O advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de Juiz de Fora e Região (STIM/JF), Rodrigo Vidal, explanou que existe uma ação trabalhista em curso, desde o segundo semestre do ano passado, pedindo medidas protetivas, ressarcimentos materiais e morais, e tratamentos médicos pagos pela empresa. A Nexa pediu sigilo no processo, deferido em primeiro momento, mas retirado após manifestação do Ministério Público do Trabalho (MPT).

O MP pediu a publicação de um edital, dando 30 dias para qualquer interessado na ação entrar como litisconsórcio, basicamente se tornando mais um autor do pedido. O edital foi aberto no dia 2 de abril, portanto ainda está em vigor.

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Vidal trouxe ainda estudos produzidos na Universidade Federal de Juiz de Fora, como um de 2013, para o mestrado em química de Aparecida Maria Simões Mimura. Na época, ela extraiu amostras do Córrego Igrejinha, encontrando valores de Cádmio, Cobre, Cromo, Chumbo e Zinco acima do máximo permitido pela legislação. “Isso pode estar relacionado ao fato deste ponto se encontrar próximo ao local de descarga de efluentes de uma indústria de mineração de zinco instalada nessa região”, concluiu a cientista. 

Segundo o diretor do STIM, João César da Silva, que está na empresa há 40 anos, a situação atual seria mais grave do que foi no passado. “Por exemplo, excesso de exposição ao zinco causa distúrbios neurológicos, e tem dois trabalhadores aposentados lá por essa questão”. O sindicalista ainda afirma que eles não buscam a discussão sobre Equipamentos de Proteção Individual (EPI), mas sim sobre os Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC).

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Nexa nega contaminação na operação da mineradora

Nenhum representante da Nexa esteve presente na audiência. O gerente-geral da unidade de Juiz de Fora, José Maximino Tadeu Miras Ferron, enviou uma correspondência, em que “agradece o gentil convite para a participação e informa respeitosamente que, nessa data, em razão de compromissos previamente agendados, estaria impossibilitado de comparecer”.

“Reafirmo o compromisso de nossa empresa com a cidade, com seus colaboradores próprios e terceiros”, ele segue, “bem como a nossa abertura ao diálogo com todos os públicos com os quais nos relacionamos há tantos anos em clima amistoso e harmônico, e sempre pautado pelo respeito e pela transparência. Aproveito este ofício para reforçar pontos importantes que atestam nosso compromisso, seriedade, e responsabilidade na condução do negócio, com total foco na saúde e segurança de nossos colaboradores e respeito ao nosso entorno”.

Seguem os pontos enumerados: 

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“A Nexa reafirma seu compromisso com a ética e a segurança das pessoas e segue à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais que façam necessário”, conclui a carta. Além da unidade em Juiz de Fora, existe uma em Três Marias, na região central de Minas, uma em Vazante, no Noroeste do estado, e uma em Aripuanã, no Mato Grosso, além de outras quatro no Peru. Já os escritórios ficam em Belo Horizonte, São Paulo, um no Peru, e um em Luxemburgo, na Europa.

Após os depoimentos, os vereadores informaram que se reuniriam e criariam uma comissão especial para o assunto. A audiência foi solicitada pela vereadora Laiz Perrut (PT).

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