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Manifestantes fazem carreata pela suspensão do lockdown em JF

manifestacao comerciantes fernando priamo
Condutores, que se concentraram na Rio Branco, foram até o Parque Halfeld, de onde seguiram a pé (Foto: Fernando Priamo)
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Uma carreata mobilizou manifestantes na tarde desta segunda-feira (22). A fila de veículos se formou no Carrefour, onde alguns dos participantes concentraram falas de reivindicação pela reabertura imediata do comércio, em favor do tratamento precoce contra a Covid-19 e questionamentos às medidas de combate à doença adotadas pelo Executivo municipal. O grupo reúne frentes e grupos diversos.

Por volta das 17h30, os veículos deixaram a concentração e seguiram pela Avenida Rio Branco em direção ao Parque Halfeld, onde os manifestantes foram orientados a seguir a pé. Eles pararam em frente à Câmara Municipal, onde havia outro carro de som, no qual os participantes retomaram as falas.

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Os pontos centrais incluíam o pedido pela suspensão do lockdown, medida que tem sido reiteradamente criticada pelos comerciantes e empresários e, também,o uso de medidas alternativas de tratamento, como o uso de remédios para tratamento precoce, enquanto a vacinação não cobre a totalidade da população juiz-forana.

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Os manifestantes continuaram o protesto até as 19h45, ocupando a Rua Santo Antônio e interromperam o tráfego.

Já mais à noite, grupo ocupou a Rua Santo Antônio (Foto: Sérgio Bara)

Manifesto defende distanciamento e vacinação

Em manifesto divulgado à tarde desta segunda, a Sociedade de Medicina e Cirurgia de Juiz de Fora, o Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais e o Sindicato dos Médicos de Juiz de Fora e Zona da Mata manifestaram posicionamento sobre a situação.

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No documento, disseram que, no atual momento, as cidades de Juiz de Fora e região enfrentam elevadas taxas de ocupação de leitos hospitalares de enfermaria e unidades de terapia intensiva como nunca antes observado ao longo desta pandemia. Consideraram também o risco iminente de colapso do atendimento e com impossibilidade de continuidade da assistência à saúde dos pacientes infectados por Sars-Cov-2.

“Entendendo a ausência de intervenções medicamentosas com ação antiviral que tratem ou previnam o adoecimento por SARSCOV2 ou suas formas graves; Entendendo também que as intervenções de protocolos sanitários como uso de máscaras, álcool, álcool gel e higienização das mãos com água e sabão, primordiais, necessitam mais que somente isto, para serem suficientemente efetivos visando o controle da transmissão viral; Gostaríamos de ressaltar quão imperativa e urgente é a necessidade de, neste momento atual, intensifiquemos as intervenções que, comprovadamente, têm eficácia para controle da transmissão viral: o distanciamento social e a vacinação”.

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Faixas foram colocadas em frente à Câmara Municipal (Foto: Fernando Priamo)

Infectologista: sem comprovação científica e riscos

De acordo com o infectologista Rodrigo Daniel, responsável pelo setor de vigilância em saúde do Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), não há tratamento precoce reconhecidamente eficaz contra a Covid-19. Não há também, segundo o infectologista, nenhum estudo que indique com segurança quais drogas seriam usadas, quais doses seriam recomendadas e nem a duração do tratamento.

Para que se possa indicar medicamentos, para ele, seria necessário fazer novos estudos e isso demanda dedicação, ciência e tempo. “Muitos estudos já foram feitos e há recomendações contra. O National Institutes of Health é contra a recomendação de hidroxicloroquina. Para outras drogas, diz que não há evidências nem contra, nem a favor. Não há recomendação, mas também não há proibição.”

Desse modo, segundo Rodrigo Daniel, principalmente em relação ao uso da hidroxicloroquina e da azitromicina, são iniciativas individuais e sem fundamento científico. “Para usar drogas, mesmo que para uso emergencial, deveria solicitar o acesso, assim como as vacinas foram feitas. Enviar para a Anvisa e mostrar as evidência de eficácia nos estudos.”

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Ele reforça que o uso de qualquer medicamento envolve riscos. O uso desse tipo de fármaco pode causar alterações e em caso de pessoas que fazem uso de outros medicamentos, também é preciso verificar como as interações medicamentosas, porque há substâncias que não podem ser misturadas. “Há pessoas usando essas medicações sem se preocupar com isso. Do jeito que é divulgado, principalmente com medicações que não precisam de receita, pode fazer com que tenhamos mais mortes relacionada ao uso desses medicamentos, do que salvar vidas com o efeito delas.”

Manifestações antidemocráticas e de viés político

A manifestação desta segunda-feira, além dos pedidos pela reabertura do setor produtivo da cidade, também apresentou viés político e em defesa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Não em seu todo, mas em parte e várias ocasiões. Inclusive, com a participação de nomes que tentaram uma vaga na Câmara Municipal nas eleições do ano passado. Ao fim do ato, em frente ao Legislativo municipal, um grupo levantou faixas com manifestações antidemocráticas e pediu “intervenção militar com Bolsonaro no poder”. Também haviam dizeres reforçando clamor por ruptura democrática ao clamar por “S.O.S Forças Armadas”.

Cartazes levantados em frente à Câmara pediam intervenção militar (Foto: Fernando Priamo)

O tom político das manifestações também se deu com críticas direcionadas à prefeita Margarida Salomão (PT) e aos atuais vereadores que integram a Câmara. Com alegoria de caixões, manifestantes fizeram um velório simbólico da prefeita e dos parlamentares e classificaram o fechamento das atividades comerciais como “morte simbólica” dos atores políticos.

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Cabe ressaltar que, atualmente, a cidade está classificada pelo Governo de Minas na onda roxa do programa Minas Consciente, e o Estado determina o fechamento das atividades não essenciais, não cabendo ao Município flexibilizações neste sentido, uma vez que a adesão a esta faixa emergencial é compulsória a todas as cidades mineiras.

14 vereadores assinam requerimento

Influenciados pela manifestação ou não, um grupo de 14 vereadores apresentaram um requerimento direcionado à prefeita que pede a “reabertura de todo o comércio e atividades empresariais no município”. A flexibilização das regras é solicitada “com aplicação de protocolos sanitários rígidos bem como fiscalização atuante no comércio e na circulação dos munícipes, sempre preservando as vidas das pessoas”. Neste caso, os vereadores não levaram em consideração a incidência da onda roxa das regras estaduais válida em todos os municípios mineiros.

Para o grupo de vereadores, o fechamento imposto à cidade neste momento vem ocasionando muitos prejuízos, “impedindo ou dificultando que grande parte dos comerciantes honre seus compromissos, já que estão com as atividades paralisadas por mais de 15 dias”.

“Atualmente, os empresários não conseguem usufruir dos programas do governo para manutenção de empregos ofertados no início da pandemia, além de não terem mais acessos a novos financiamentos e incentivos, que, aliás, atingiram uma parcela pequena dos comerciantes, face às dificuldades e exigências burocráticas”, diz o requerimento. Para os parlamentares, as restrições vão ocasionar “demissões em massa”.

A versão do texto a qual a reportagem teve acesso apontava como signatários do requerimento os seguintes vereadores: Maurício Delgado (DEM), André Luiz (Republicanos), Antônio Aguiar (DEM), Nilton Militão (PSD), Marlon Siqueira (PP), Luiz Otávio Coelho (Pardal, PSL), Cido Reis (PSB), Sargento Mello Casal (PTB), Tiago Bonecão (Cidadania), Kátia Franco Protetora (PSC), Julinho Rossignoli (Patriota), João Wagner (PSC), Vagner de Oliveira (PSB), e Zé Márcio (Garotinho, PV).

Feiras livres

No mesmo tom, três parlamentares apresentaram um segundo requerimento que pede a retomada das feiras livres na cidade. Uma vez mais, o requerimento é direcionado à prefeita Margarida Salomão, a despeito de regras estaduais estarem em vigor. “A administração municipal daria oportunidade de mais um ponto de acesso à compra de produtos essenciais e com preço mais em conta, o que é sabidamente de conhecimento de todos, pois as feiras livres praticam preços mais acessíveis que os hipermercados, uma vez que são vendidos diretamente pelos produtores, gerando assim uma maior liquidez aos munícipes que em sua maioria passam por dificuldades em comprar os alimentos”, afirmam os vereadores Maurício Delgado (DEM), Vagner de Oliveira (PSB) e Zé Márcio (Garotinho, PV).

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