Vereadores da Comissão de Defesa da Pessoa com Deficiência, da Câmara Municipal de Juiz de Fora, desceram a Rua Halfeld, nesta quinta-feira (21), com os olhos vendados, guia e cadeira de rodas, para experimentar a vivência dos que têm dificuldade de mobilidade. A ação acontece depois do atleta paralímpico, Alexandre Ank, desafiar os parlamentares da Comissão de Defesa da Pessoa com Deficiência a conhecerem os desafios de acessibilidade no dia destinado à luta, a fim de que sejam criadas políticas públicas em prol dessa parcela da população.
Segundo o esportista, a iniciativa proposta por ele foi uma oportunidade para os vereadores mensurarem as dificuldades de locomoção que grupos distintos de pessoas estão submetidos, como pessoas com deficiência, obesos e aquelas que estão com carrinho de bebê. Ele avalia que essa conscientização ocorre em um momento em que a cidade está em processo de readequação dos espaços. “A gente procura executar uma adaptação que atenda aos padrões e facilite no dia a dia a mobilidade urbana. Para toda e qualquer pessoa, tendo uma deficiência ou não”, explicou o medalhista Alexandre Ank.
Com adesão do presidente da comissão, o vereador Maurício Delgado (União), além dos parlamentares Katia Franco (Rede), Antonio Aguiar (União), Vagner Oliveira (PSB), André Luiz Vieira da Silva (Republicanos) e do presidente da Câmara, Zé Márcio (Garotinho, PV). Eles foram orientados sobre as formas de se usar as sinalizações dispostas nas ruas, como piso tátil e rampas. Bem como a maneira de usar a bengala e se locomover na cadeira de rodas.
Ainda que até então não tenha um parlamentar com deficiência na Casa, o presidente da Câmara ressaltou que há a presença de PCDs no quadro geral de funcionários. De acordo com Zé Márcio Garotinho, é preciso ressaltar os obstáculos que a cidade apresenta, como um alerta de que precisa se tornar mais acessível.
População avalia movimento no calçadão
O movimento no calçadão chamou a atenção de quem passava pelo local. Olhares curiosos tentavam interpretar, de fora, o que a mobilização significava. Fernanda Ribeiro cruzava a Avenida Barão do Rio Branco, quando parou para observar.“Eu estou achando diferente, inusitado, pessoas estão aprendendo a atravessar a rua?”, perguntou ela, a princípio sem entender.
Após compreender que se tratava de vereadores tentando passar pela experiência de pessoas com deficiência, ela considerou positivo. “Eu acho muito interessante para eles poderem dar valor e ver como é a dificuldade das pessoas”, concluiu Fernanda. Jomar Picorone, outro transeunte, compartilhou do pensamento de Fernanda. “Acho um ato muito importante, porque só a pessoa sentindo na pele realmente quais são as dificuldades, quais são os percalços do dia a dia, é que vai sentir o que está precisando de mudança”, apontou.
Enquanto isso, o porteiro João da Costa acompanhava o fluxo próximo à entrada de um prédio. Ele conta que percebeu que um vereador não era cadeirante, pois ele se levantou ao longo do percurso – mas que acha importante algo ser feito para trazer notoriedade ao tema.
Um leão por dia
“A pessoa com deficiência quando sai de casa, mata um leão por dia”, disse Luciene Martins Rodrigues. Deficiente visual, ela participou da caminhada e definiu o momento como uma busca por empatia. O desafio pelo qual os vereadores estiveram sujeitos durante alguns momentos, é o que ela conta que passa todos os dias.
“A nossa preocupação é que saímos de casa sem sabermos se vamos voltar. A gente tem o buraco nas ruas, bem como pessoas que são mal educadas” desabafa, ao compartilhar que já quase foi atropelada. O episódio ocorreu na Avenida Presidente Getúlio Vargas. Uma pessoa, que estava com muitas sacolas, esbarrou na mulher que com o impacto foi lançada para a rua, até que outra pessoa conseguiu puxá-la pela blusa.
O caso dela reflete uma realidade vivida também por outras pessoas. Por isso vai ser pauta na Câmara, na próxima segunda-feira (25), as Políticas Públicas de Acessibilidade das Pessoas com Deficiência. A audiência pública que vai debater o tema terá inicio às 15h.