Enquanto manifestantes faziam um ato no Parque Halfeld, os possíveis desdobramentos da mais recente crise política que atinge em cheio o presidente Michel Temer (PMDB) e o senador e ex-governador Aécio Neves (PSDB) ecoaram no plenário da Câmara Municipal na noite desta quinta-feira (18). Entre discursos ásperos e emocionados, as falas se dividiram entre a defesa da necessidade de repactuar o Brasil e legitimar um Governo no âmbito federal com a realização de eleições diretas e a defesa dos ditames da Constituição, que definem realização de pleito indireto em caso de vacância da cadeira executiva a partir do terceiro ano de mandato. A unanimidade entre as falas, no entanto, foi no sentido da incapacidade de Temer manter as rédeas do país diante das últimas acusações.
Geralmente responsável pela condução das sessões, o presidente da Câmara, o vereador Rodrigo Mattos (PSDB), subiu à tribuna para falar como liderança do PSDB na cidade. Em seu discurso, Rodrigo classificou as acusações contra Aécio como “indefensáveis” e se mostrou decepcionado com o senador, que, nos últimos anos, foi a principal referência política do PSDB tanto no âmbito estadual como na esfera nacional. “Toda população se revoltou com a atitude do senador. Comigo não foi diferente. Ver o líder do seu partido, pessoa para quem fiz campanha e batalhei para eleger, nesta situação é muito triste. Ser flagrado pedindo R$ 2 milhões para um empresário não é passível de defesa. Isto me deixou bastante desiludido com a política”, afirmou o vereador.
Ex-presidente municipal do PSDB, Rodrigo afirmou ainda que o partido precisa fazer uma autocrítica. “É uma tragédia o que está acontecendo no Brasil. Nossa República está podre. Nosso sistema político está podre. O caminho não é outro senão a renúncia ou a destituição (do presidente).” Contudo, o presidente da Câmara não se disse favorável aos pleitos de eleições diretas que começaram a ganhar força desde o início da denúncia. “É o golpe dentro do golpe. Temos que seguir as regras do jogo, senão o Brasil fica fora de controle. Caso o presidente (Temer) seja destituído, o caminho, dentro das regras, seria uma eleição indireta no Congresso Nacional”, considerou.
Diretas já?
As palavras de Rodrigo foram elogiadas por alguns vereadores, como Kennedy Ribeiro (PMDB) e Vagner de Oliveira (PSC), que considerou a indignação do tucano como natural. Luiz Otávio Coelho (Pardal, PTC) também elogiou a postura do presidente da Casa, principalmente pelo fato de o tucano não tentar defender a principal liderança recente de seu partido. Pardal também se mostrou reticente com as bandeiras que pedem a realização de eleições diretas neste momento e chegou a classificar como um fardo a decisão de jogar nos ombros da população a realização de novo pleito em um momento tão conturbado. “Vai votar em quem para dar sequência nesta política do país? Como vai colocar no ombro da população esta pergunta?”, indagou.
O primeiro a pedir a realização de eleições diretas foi o vereador Wanderson Castelar (PT), que defende um pleito amplo, para todos os cargos eletivos, como solução para repactuar o país. “A nossa democracia está em risco. Não resta outra alternativa que as eleições diretas. Eleições de todos os níveis, de presidente a vereador.” Para o petista, o país se encontra à beira do precipício. “Só se resolve convocando eleições e legitimando novos representantes.” Tal posicionamento também foi defendido por seu colega de bancada, o vereador Roberto Cupolillo (Betão, PT).
Além da realização de novas eleições, Betão defendeu a instalação de uma constituinte para debater a reforma política. “Tem que se garantir uma constituinte exclusiva e soberana para se discutir a reforma política no país. Todas estas discussões têm origem no financiamento de campanha. Isto tem que acabar.” Outro que chegou a defender a realização de diretas foi Charlles Evangelista (PP). Cido Reis (PSB) também saiu em defesa de um novo pleito. “Hoje, o Congresso não tem credibilidade para poder discutir reformas tão importantes como a da Previdência e a trabalhista. A população tem que se mobilizar e exigir eleições gerais no Brasil”, afirmou.
Debate partidário
As discussões, no entanto, não ficaram apenas no campo das ideias acerca de qual a melhor solução diante da possibilidade de vacância na Presidência. O tom partidário marcou várias das falas. Betão e Castelar chegaram a afirmar as diferenças das provas obtidas a partir de delação nas situações de Temer e Aécio em relação às acusações que pesam sobre lideranças petistas, como os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. “Não são delações. São flagrantes”, afirmou Betão se referindo às denúncias contra o presidente e o senador tucano.
Por outro lado, Rodrigo Mattos foi irônico ao afirmar que, sob a ótica do petista, o triplex e o sítio não seriam de Lula, dando a entender que acredita nas suspeitas que hoje pairam sobre o ex-presidente. Estreante, Adriano Miranda (PHS) chegou a afirmar que, caso Lula volte a ocupar a Presidência, ele abandonaria a vida política e, até mesmo, o país. “Isto aqui é um registro. Que fique anotado”, reforçou.
Outro momento em que os debates político-partidários ficaram evidentes ocorreu logo após Charlles Evangelista defender posicionamento favorável à realização de eleições diretas e, logo em seguida, insinuar apoio a uma possível candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC). Os debates seguiram acalorados, e as discussões foram além da esfera federal, com críticas ao governador Fernando Pimentel (PT) e ao prefeito Bruno Siqueira (PMDB). A sessão chegou inclusive a ser interrompida quando um bate-boca entre Castelar e Sargento Mello (PTB) esquentou o plenário.