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‘JF precisa se reposicionar’

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Empossado no início deste mês para um mandato tampão até fevereiro, o agora deputado federal e presidente estadual do PCdoB, Wadson Ribeiro, disse que irá visitar municípios mineiros e se preparar para assumir a cadeira da legislatura 2015-2018 no mês que vem, quando, efetivamente, o ano parlamentar no Congresso Nacional terá início. Em entrevista exclusiva à Tribuna, o parlamentar falou sobre seus projetos para o futuro mandato, em que pretende hastear as bandeiras da educação e do esporte, e prometeu lutar pelo incremento da economia e da retomada do desenvolvimento de Juiz de Fora e região. Para isso, defende que o prefeito Bruno Siqueira (PMDB) estreite o diálogo com os partidos que dão sustentação aos governos da presidente Dilma Rousseff (PT) e do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PMDB).

Para o juiz-forano, ocupar uma cadeira no Congresso, após obter uma boa votação na cidade, é a melhor resposta para as suspeitas que pairou sobre seu nome no final de 2011, quando acabou afastado da titularidade da Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social do Ministério do Esporte. Na ocasião, a saída aconteceu em meio a denúncias de favorecimento envolvendo a organização não governamental (ONG) Instituto Cidade, então dirigida por um filiado do PCdoB, que era suspeito de ter recebido R$ 9,5 milhões em repasses durante a passagem de Wadson pela pasta. Pouco mais de três anos depois, o agora deputado federal afirma ter sido vítima de um jogo político e sustenta que irá sanar quaisquer ponderações um seu trabalho parlamentar.

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Tribuna – Antes de herdar uma cadeira na Câmara, muito se falou sobre a possibilidade de o senhor integrar o secretariado do governador Fernando Pimentel (PT). De fato houve algum tipo de convite de Pimentel?

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Wadson Ribeiro – Fomos convidados pelo governador para fazer parte de seu time. Não havia definição de qual seria a secretaria. Porém, a escolha de George Hilton (deputado federal do PRB, que assumiu o Ministério do Esporte) e de Patrus Ananias (deputado federal pelo PT, que foi para o Ministério do Desenvolvimento Agrário) como ministros e a consolidação de Odair Cunha (deputado federal pelo PT) na Secretaria de Estado de Governo, abriu a possibilidade de assumir uma cadeira na Câmara. Um mandato no Congresso é algo importante sob o aspecto partidário, pois o PCdoB teve sua bancada federal reduzida de 15 para dez, e para o próprio governador, que reconhece a relevância de ter, em Brasília, deputados capazes de fazer a interlocução entre Minas e o Congresso. Reforçar a bancada mineira e a bancada de apoio ao Governo do estado foi algo que pesou na minha decisão.

– Com qual desafio o senhor assume uma cadeira na próxima legislatura? Quais áreas devem pautar sua atuação?

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– Soou como música em meus ouvidos o discurso da presidente Dilma que colocou no centro de sua preocupação a educação. É uma área que remete a minha trajetória. Fui presidente da UNE e sempre participei do debate em torno da educação. Este é um setor em que quero dedicar muita energia. A área do esporte, pela minha passagem pelo Ministério do Esporte, também merecerá atenção especial. Uma grande preocupação que tenho no campo político é lutar pela retomada do crescimento de Juiz de Fora e da Zona da Mata. A cidade tem muitos problemas no campo econômico e de desenvolvimento, e quero que meu mandato seja mais uma força no sentido de tentarmos reverter esse quadro.

– Como o senhor acha que poderá ajudar Juiz de Fora e a Zona da Mata?

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– Precisamos encarar de forma mais ofensiva e menos provinciana – como vem sendo feito pelas últimas administrações – o problema do nosso desenvolvimento. É preciso gerar mais e melhores empregos, trazer indústrias ligadas à tecnologia de ponta, valendo-se da nossa universidade (UFJF) e do parque tecnológico. Isso se dá fundamentalmente por decisões e força política. Hoje, o pacto federativo concentra muito poder na União. Nos últimos anos, Juiz de Fora e Minas caminharam de maneira dissonante aos governos de Lula e Dilma, que trouxeram avanços para o país. Agora, precisamos unificar a representação local em torno de uma pauta política ousada, que não é outra senão a retomada do desenvolvimento econômico e de nossa industrialização. Se não for assim, os gargalos da cidade não serão enfrentados. Esse é um desafio grande que levo para Brasília.

– O senhor foi empossado como suplente para um “mandato tampão”. Como o senhor pretende aproveitar esse mês sem agenda parlamentar no Congresso?

– Parte de um mandato parlamentar é exercido em Brasília, nas sessões, e outra parte, exercida nas bases eleitorais. Neste momento de recesso, a gente procura explorar uma presença maior no estado. Aliás, acho que essa questão deve ser debatida na reforma política. É preciso dar posse aos deputados no dia 1º de janeiro. Não tem sentido esse hiato. Aliás, eu já havia tomado uma decisão. Se não tivesse a certeza de assumir uma cadeira na próxima legislatura, iria declinar deste mandato em janeiro. Mas, como assumo uma cadeira em fevereiro, é importante me familiarizar mais com o trâmite da Câmara e aproveitar este mês para visitar vários municípios mineiros e consolidar a criação de um mandato participativo, coletivo e plural.

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– O PCdoB deixou o primeiro escalão do Governo municipal no ano passado, após a exoneração de Basileu Tavares da Secretaria de Atividades Urbanas. Há a possibilidade de o partido voltar a integrar o secretariado municipal?

– Existe apenas um gesto do prefeito que já demonstrou a intenção de retomar as discussões. Estamos à disposição, pois o PCdoB caminha com o PMDB no Governo federal, estadual e em outros municípios. Porém, essa conversa terá que ser pautada naquilo que o prefeito pretende fazer nos próximos dois anos. Achamos que o Governo municipal ainda está muito aquém. Os gargalos da cidade não estão sendo enfrentados como deveriam. As práticas políticas têm sido as mesmas de outras administrações, com a manutenção de algumas alianças por acordos meramente políticos, sem um tipo de programa mais claro. O PCdoB não participará do Governo por estar preocupado com cargos. Queremos colaborar se tivermos a garantia de que esse Governo tem um projeto ousado para a cidade, que encare o gargalo do desenvolvimento e da retomada da industrialização. Queremos entender melhor o que o prefeito pensa para os próximos dois anos. Se o compromisso for com um projeto desenvolvimentista, não há empecilhos para nos dispormos a contribuir. Agora, se a agenda seguir na contramão desse pensamento, talvez seja melhor o PCdoB reafirmar suas convicções e buscar outros caminhos.

– O PCdoB integra os primeiros escalões e as bases dos governos federal e de Minas. O que senhor espera do segundo mandato da presidente Dilma e da gestão de Fernando Pimentel no estado?

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– No cenário federal, o que está em jogo é a intensificação das mudanças sociais. A Dilma precisa avançar na reforma política, para tornar o sistema mais claro, participativo e transparente. Precisamos avançar também na reforma democrática da mídia, para que possamos ter uma mídia de melhor qualidade, que não seja manipulada por poucas famílias do país. Precisamos colocar os recursos do pré-sal no centro da agenda, para fazermos uma verdadeira revolução na educação. A agenda dos tucanos, que prevaleceu em Minas, foi derrotada. Qual o resultado dessa agenda? O Pimentel pega um estado quebrado, com baixa capacidade de investimento. O famigerado choque de gestão significou um estado que não valoriza seus professores e não tem grandes programas sociais. O novo governador tem um grande desafio e, por isso, o PCdoB está ao seu lado nessa luta. Precisamos retomar o protagonismo e o caminho industrial do estado, que, hoje, vive de commodities, de café e minério de ferro. Sem isso, não há como fazer investimentos maciços em educação, na segurança e na modernização do estado.

– De que maneira essa mudança pode refletir em Juiz de Fora?

– Pelo fato de o prefeito da cidade ser do PMDB, partido do vice-presidente e do vice-governador, a cidade tem uma grande oportunidade. O melhor caminho seria criar uma grande aliança política e unir o PMDB, o PCdoB, o PT… Enfim, unir os partidos que estão no centro de sustentação dos governos Dilma e Pimentel. Só assim seríamos capazes de encarar o desafio de recuperar a cidade. O prefeito Bruno tem a chance de buscar um governo em sintonia com esse novo Brasil, que surgiu das urnas com a reeleição da Dilma, e com a nova Minas, onde o PSDB, que controlava o estado com mãos de ferro, foi derrotado. Nesse cenário, Juiz de Fora também precisa se reposicionar. O condutor principal desse reposicionamento tem que ser o prefeito. Confio que ele tenha o discernimento capaz de unificar um amplo campo político e de fazer com que a cidade aproveite esse novo momento.

– Agora como deputado, que papel o senhor pretende exercer na próxima eleição municipal? O senhor se enxerga como um possível candidato a prefeito ou a vice-prefeito?

– Tenho o desafio de assumir o mandato e tentar fazer um bom trabalho para contribuir para a cidade e para meu estado. Torço para que o Bruno tenha capacidade de articular essas forças políticas em torno de sua reeleição, e que isso signifique um novo tempo para Juiz de Fora. Agora, se as opções do prefeito forem mais conservadoras, em sintonia com partidos políticos que se posicionam contra os governos estadual e federal, isso não deixaria um ambiente confortável para a presença do PCdoB. Aí abriríamos outra discussão. Teríamos um tempo para discutir, mas poderia haver uma candidatura do PT ou do PCdoB, por exemplo. Porém, hoje, nosso objetivo principal é fortalecer a Administração Municipal. Pois se ela não der certo, quem perde é a cidade. O Bruno é um prefeito do PMDB, um partido que temos muito respeito, o qual caminhamos juntos nas esferas federal e estadual. Essa responsabilidade está nas mãos dele. Se sua opção for por essa construção, o PCdoB estará junto. Caso a escolha seja outra, nós respeitaremos, mas muito dificilmente caminharemos lado a lado.

– Em 2011, o senhor foi exonerado de um cargo no Ministério do Esporte após suspeitas de irregularidades em verbas repassadas pela pasta a ONGs. Acredita que conseguiu esclarecer todas as suspeitas em que acabou envolvido naquele momento?

– Vejo aquele momento como um momento de luta política em que alguns ministérios sofreram mudanças em função de denúncias que pipocaram na imprensa. Defendo de forma intransigente os órgãos de controle, que representam avanços democráticos no sentido de dar transparência à aplicação dos recursos públicos. Quem é uma figura pública, ocupa cargo em Governo ou exerce mandato, tem que estar ciente que disputas políticas existem. Quando não se tem nada a temer, o segredo é seguir trabalhando. Acho que não há resposta mais inequívoca do que essa. Após uma grande injustiça cometida em 2011, volto de cabeça erguida assumindo um mandato de deputado federal. Ou seja, a população sabe discernir aquilo que é calúnia e disputa política daquelas pessoas que de fato trabalham pela cidade e pelo estado. Muita gente pode ter feito igual eu fiz para Juiz de Fora, mas ter feito mais do que fiz pela cidade no período de 2007 a 2010, ninguém fez. O complexo da universidade que vai receber o Canadá e a China nas Olimpíadas é um exemplo disso, além de programas sociais que fizemos com a Prefeitura e das reformas em quadras e campos. Fiz o que estava a meu alcance.

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