Ícone do site Tribuna de Minas

Com número recorde na Câmara, mulheres ainda são sub-representadas em Juiz de Fora

PUBLICIDADE

As eleições de 2024 elegeram cinco mulheres para a Câmara Municipal de Juiz de Fora: Cida (PT), Laiz Perrut (PT), Letícia Delgado (PT), Kátia Franco (PSB) e Roberta Lopes (PL). O número é recorde na configuração do órgão legislativo municipal, que até 2020 só contava com uma mulher. 

PUBLICIDADE

Apesar do aumento recente, ainda há uma sub-representação feminina evidente no município, principalmente considerando que as mulheres são a maioria do eleitorado juiz-forano representando 54% dele, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além disso, as mulheres também compõem a maior parcela da população de Juiz de Fora, 53% do total, de acordo com o Censo Demográfico de 2022. 

PUBLICIDADE

O aumento do número de parlamentares mulheres acontece ao mesmo tempo em que o número total de vereadores na Câmara também aumentou. Nos últimos quatro anos, entre 2021 e 2024, o total de vereadores atuantes era de 19, destes quatro mulheres, ou seja, cerca de 21%. No próximo mandato, o total de parlamentares será de 23, sendo cinco mulheres. Com isso, o percentual segue em 21%. 

A cientista política e professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Marta Rocha, entende que ainda falta representatividade no cenário. “Se continuarmos nesse ritmo, de aumentar apenas uma mulher em cada eleição, imagina quanto tempo vamos demorar para ter alguma equidade?”, questiona. Mesmo diante do maior número de mulheres na Câmara, o aumento de políticas públicas voltadas para esse público não é uma garantia. E tampouco que as candidatas vão defender direitos das mulheres. 

PUBLICIDADE

Marta analisa que há pelo menos três campos políticos distintos entre as eleitas e que pautas feministas podem aparecer de acordo com essas perspectivas. Para ela, até o momento, a que tem se apresentado mais como uma candidata “das mulheres” é Laiz Perrut, que fala claramente sobre isso em sua campanha. Como três das eleitas são do Partido dos Trabalhadores (PT), a cientista social também enxerga que é possível uma união entre as parlamentares para facilitar a elaboração de políticas públicas nesse sentido.

Isso não quer dizer, no entanto, que as vereadoras mais à direita não possam tomar frente do assunto. “Temos uma mulher de direita radical, que é a Roberta Lopes, mas que não quer dizer que, por ser de direita, não esteja preocupada com agendas relacionadas às mulheres. A Ione Barbosa (que foi candidata à Prefeitura pelo Avante, partido de direita), por exemplo, sempre falou muito sobre esse tema. Mas não sabemos ainda se essa agenda é central para a vereadora”, analisa. Para a cientista política, o que pode ocorrer é que esses horizontes apareçam de formas muito distintas na Câmara, e nem sempre alinhados. 

PUBLICIDADE

Para ela, é justamente essa pluralidade de iniciativas que pode colocar em evidência alguns temas caros às mulheres, como a violência de gênero, desigualdade salarial, combate ao assédio e falta de creches municipais. “A gente sabe que sem mulheres essas questões não são elaboradas da maneira que devem ser no momento de fazer políticas públicas. Mas isso não quer dizer que os homens não devam e não possam também defender essas pautas, e apoiar quando as mulheres as colocam. Toda a sociedade é afetada por essas questões”, afirma.

O que dizem as vereadoras

Para Cida Oliveira, compromisso fundamental será o combate à violência de gênero e a luta pela saúde da mulher 

Em 2025, Cida Oliveira (PT) seguirá para seu segundo mandato como vereadora na Câmara Municipal de Juiz de Fora. Para ela, tão relevante quanto eleger mulheres, é saber quais pautas elas defenderão. “Infelizmente, muitas vezes, algumas estão em partidos cujas políticas retiram direitos e investimentos, piorando as condições de vida das mulheres. Ao mesmo tempo, também podemos ter vereadores homens que, na prática, se colocam ao nosso lado. Por isso, acredito que avanços significativos só podem ser conquistados por meio do movimento e da luta coletiva.”

PUBLICIDADE

A vereadora destaca conquistas importantes nos últimos quatro anos, como a ampliação do número de trabalhadoras com direito à licença-maternidade de 6 meses, a autonomia das mulheres no uso do DIU, e a distribuição gratuita de absorventes no sistema de saúde da cidade. “No próximo mandato, nossa campanha assumiu compromissos fundamentais, como a luta por mais investimentos em equipamentos públicos para o combate à violência de gênero e para a saúde da mulher, com foco especial nos direitos reprodutivos e na garantia da realização do aborto legal previsto em lei. Também quero que meu mandato continue sendo um instrumento de apoio à luta nacional pela revogação das reformas trabalhista e da Previdência, que trouxeram prejuízos significativos, especialmente para as mulheres trabalhadoras.”

Para Katia Franco, políticas públicos voltadas para mulheres devem ser prioridade em qualquer mandato que busque igualdade social 

Kátia Franco (PSB) vai para o segundo mandato na Câmara Municipal de Juiz de Fora. Sua atuação como protetora fez com que, em 2020, fosse eleita pela primeira vez em prol da causa animal. Sobre a presença de mulheres na casa, ela afirma que o papel feminino é fundamental para garantir a representatividade nas decisões políticas. “A presença delas ajuda a trazer à tona questões que muitas vezes são negligenciadas, como direitos das mulheres, políticas de igualdade e temas relacionados à saúde e educação. Além disso, a diversidade de perspectivas enriquece o debate e promove um ambiente legislativo mais inclusivo.”

PUBLICIDADE

Neste segundo mandato, políticas públicas voltadas para mulheres serão prioridade, afirma. Elas devem estar em primeiro lugar em qualquer mandato que busque promover igualdade e justiça social. “Algumas políticas que podem ser priorizadas incluem: o combate a violência contra mulher; saúde da mulher; educação e capacitação, com programas de educação e formação profissional que promovam a autonomia econômica. e o empoderamento político com incentivos para a participação de mulheres em cargos de liderança e na política.”

Para Laíz Perrut, prioridades serão Casa da Mulher Brasileira e Política Municipal de Cuidados

A vereadora Laiz Perrut (PT) segue para o segundo mandato em 2025. De acordo com ela, a representação feminina da Câmara vai além de ter mais mulheres na casa. “Nós não queremos mais mulheres na política por uma simples razão de ser mulher. Nós queremos mais mulheres que representem de fato a nossa causa, que lutem pelas nossas pautas e pelo direito das mulheres, desde a questão da violência à liberdade dos nossos corpos e nossos direitos como um todo.”

Laíz ainda ressalta o perfil díspar entre as atuais vereadoras da Câmara. “Sabemos que algumas mulheres entraram com uma ligação muito forte com o movimento feminista e o direito das mulheres. Em compensação, tem mulher que entrou que nega toda essa luta.” 

Sobre políticas públicas, a prioridade, segundo ela, será trazer a Casa da Mulher Brasileira para Juiz de Fora. “É uma pauta que estou resolvendo em Brasília. Já fui algumas vezes lá em reunião com a ministra das Mulheres e Juiz de Fora será a primeira cidade do interior a receber esse espaço fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas para mulheres.”

Laiz também pretende trabalhar para a construção de uma Política Municipal de Cuidados que será aliada a Política Nacional de Cuidados, projeto que visa garantir os direitos tanto das pessoas que necessitam de cuidados quanto das que cuidam. Além disso, busca regulamentar Projetos de Lei, como o protocolo “Não é Não” e a “Lei Manu”, recém aprovada e que torna obrigatório os hospitais oferecerem um quarto separado para as famílias que perderam bebês ainda na gestação.

Para Letícia Delgado, é importante buscar políticas públicas voltadas às mulheres com um olhar intersetorial 

Letícia Delgado (PT) deixou o cargo de secretária de Segurança Urbana e Cidadania (Sesuc) na Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) para concorrer, em 2024, à cadeira de vereadora, que assume em 2025. De acordo com ela, a falta de representatividade feminina na Câmara Municipal aumenta o desafio das vereadoras eleitas. “A defesa dos direitos das mulheres é uma pauta democrática e transversal, que deve perpassar todas as políticas públicas e sociais. Nosso papel na Câmara será sensibilizar a sociedade e os demais vereadores para a importância de garantir que os direitos das mulheres, inclusive as mães, sejam uma prioridade na formulação de políticas públicas.”

Letícia afirma que o fortalecimento de políticas públicas voltadas para mulheres será prioridade em seu mandato e terá um olhar intersetorial. “O direito das mulheres é promovido em diversas áreas, desde a ampliação do horário de funcionamento das UBSs, que beneficia as mulheres, até o aumento do número de creches, que apoia diretamente as mães trabalhadoras.”

A pauta da violência contra a mulher, em seu mandato, receberá atenção especial. “Precisamos fortalecer o auxílio-moradia para mulheres vítimas de violência, criar condições de empregabilidade, estreitar o diálogo entre o Executivo, forças de segurança e sistema de Justiça Criminal, além de fortalecer a rede de proteção às violências contra mulheres, inclusive crianças e adolescentes. Queremos garantir que todas as políticas sociais sejam orientadas pela perspectiva de fortalecimento dos direitos das mulheres.”

Para Roberta Lopes, é preciso reforçar a importância da família na política 

Roberta Lopes (PL) vai para o primeiro mandato na Câmara Municipal e já entra como a vereadora mulher mais votada nas últimas eleições. De acordo com ela, sua missão é consolidar o conservadorismo em Juiz de Fora, reforçando a importância da família como base da sociedade. A parlamentar rejeita o feminismo, afirmando que o tema será abordado em debates para “mostrar a verdade nefasta oculta por trás das reais intenções deste movimento”. “Para mim, homens e mulheres têm papeis que se complementam, e a equidade se alcança quando ambos trabalham juntos, não quando um tenta ocupar o espaço do outro. Além disso, sou crítica à ideologia de gênero, que tenta distorcer a essência do que significa ser homem ou mulher”, afirma.

Roberta defende que os direitos e espaços conquistados pelas mulheres devem ser baseados em realidades biológicas, e não em “construções ideológicas”. “Acreditamos que as políticas públicas voltadas para as mulheres devem reconhecer os desafios únicos que elas enfrentam, sem que a ideologia de gênero comprometa essas conquistas.”

Conforme Roberta, as prioridades do mandato serão defender a vida desde a concepção, garantir que as gestantes recebam o suporte necessário, e promover a importância da maternidade. “Quero criar políticas que ofereçam suporte integral às gestantes e que deem especial atenção às mães de crianças com necessidades especiais. […] Quero apoiar o desenvolvimento profissional das mulheres, criando programas de capacitação e empreendedorismo, mas sem abrir mão dos valores familiares que são essenciais para a sociedade.” Além disso, a vereadora eleita afirma que acompanha de perto as necessidades e demandas da saúde da mulher e poderá contribuir com soluções para enfrentar os desafios da área.

Sair da versão mobile