Flávio Takakura e Eliana Ferreira apostam na experiência, na inclusão e na inovação para vencerem a consulta pública da UFJF, cujo primeiro turno ocorre esta semana, nos dias 18 e 19 de outubro, que definirá a nova Reitoria para o quadriênio 2024-2028. Professor titular do departamento de física, Takakura acumula experiência em diversos departamentos de gestão da Universidade, como o Centro de Educação à Distância (Cead) e a Coordenação Geral de Processos Seletivos (Copese), além de pró-reitorias. Já Eliana, professora do curso de educação física, tem um vasto trabalho na área de inclusão das pessoas com deficiência e acessibilidade, além de ocupar cargos significativos em instituições internacionais. Aliados na Chapa 3, UFJF 5.0, eles se mostram preocupados com o que chamam de “burocratização ruim” da instituição e com a promoção de uma universidade com visão à frente do seu tempo, assuntos abordados na entrevista a seguir.
Tribuna – Como se deu a formação da chapa?
Eliana Ferreira – A Chapa surgiu da nossa experiência em trabalhar com muitas pessoas – tanto eu quanto o Flávio temos um convênio com o Ministério da Educação e, ora conjuntamente, ora separadamente, capacitamos uma média de 1.500 pessoas por ano. Então, só em cursos de especialização e aperfeiçoamento com iniciativas nossas, com o esforço de buscar recursos junto aos órgãos públicos, nós já formamos na área da inclusão mais de 12 mil pessoas. Há também o descontentamento, o engessamento que nós estamos vivendo nos últimos oito anos e a não possibilidade de desenvolver ações que são concretas, reais e que, por algum motivo não muito claro, nos foi silenciada. Foi desse descontentamento que resolvemos lançar a nossa chapa.
Flávio Takakura – É importante reforçar que a formação da nossa chapa não é ocasional, ela não veio a ser formada somente para disputar as eleições. Eu e Eliana temos uma parceria de longa data.
– Quais os problemas vocês percebem na gestão da Universidade?
Takakura – Em relação à gestão atual, fica evidente que há uma falta de visão de mundo. O que quero dizer com isso? Uma gestão como a que nós temos hoje, paralisada – e aí usa-se muito a justificativa da pandemia e da falta de recursos financeiros -, mas isso não pode servir como justificativa para tudo. Para exemplificar: eu fui diretor do Centro de Educação à Distância. Nós criamos lá uma política de capacitação de pessoal da universidade para atuar com educação à distância. Essa política foi encerrada por um motivo ou por outro, que cabe à atual Administração dizer o porquê. Mas se essa política tivesse sido mantida, quando nós tivemos a pandemia nós não teríamos tanto problema com o ensino remoto emergencial, porque, com a continuidade do trabalho de capacitação, grande parte do nosso corpo docente e técnicos administrativos não teriam a dificuldade que tiveram para implantar o ensino remoto.
Eliana – Quando nós falamos dos técnicos-administrativos (TAE’s), o que nós temos é um adoecimento. Estão adoecidos pela burocracia instaurada nessa instituição, para que não se faça nada. Fez com que as pessoas ficassem meramente atuando de forma ineficaz, trazendo para eles um sentimento de improdutividade e com ganho nenhum. Um outro ponto em relação aos funcionários que nós podemos ver foi a capacitação diminuída. A nossa universidade sempre prezou para que o aluno galgasse, mas nós temos hoje o número de funcionários que saíram dessa Universidade pedindo exoneração, exatamente porque não viram aqui possibilidade de crescimento. Há ainda a predominância do assédio. Em relação aos alunos, nós temos aqui uma universidade esvaziada, porque não tem nada que motive o estudante além da sala de aula, não há um comprometimento, por exemplo, com a cultura, nós não temos aqui movimentação para que nossos alunos possam efetivamente participar de ações além do trabalho de ensino. Nós professores também enfrentamos uma burocracia enorme e estamos assumindo funções para além daquelas que deveriam ser nossas porque a burocracia tomou conta. Há problemas de ordem espacial. Mal temos cantina no nosso espaço físico. Restaurante? Nenhum. Eu trouxe aqui alguns exemplos que são básicos, que jamais poderiam ser problema dentro de uma universidade pública, gratuita e de qualidade.
– Como vocês pensam a resolução desses problemas e quais outras propostas da chapa merecem ser destacadas?
Takakura – Como possíveis soluções nós vemos o seguinte: nós precisamos primeiro desburocratizar. Se nós mantivermos essa burocratização excessiva que nós temos, nada será possível ser feito. Queremos desburocratizar para descentralizar o poder. Isso incomoda muita gente, porque você vai permitir que novas lideranças surjam, que haja realmente uma gestão democrática da universidade. Para isso existem algumas ações que nós estamos planejando. Uma é o que chamamos de escritório de governança universitária. Vamos realmente fazer governança aqui e, quanto a isso, me refiro termos uma equipe que tome conta da questão da “compliance”, para ver se nós estamos de fato executando as ações de acordo com o ordenamento jurídico, se nós estamos executando as ações de forma ética, se nós estamos trabalhando com as pessoas fazendo uma política de gestão de pessoas correta. São coisas que nós já verificamos que é necessário. Isso é uma inovação, você não vai ver nenhuma universidade pública no Brasil com um escritório de governança, então nós entendemos que nós temos que nos modernizar e inovar, não só na pesquisa e no ensino, mas também na gestão.
Nossos docentes têm uma parte considerável do tempo ocupado para elaboração, acompanhamento e finalização de projetos. Nós, já há 10 anos, promovemos a criação de um escritório de gerenciamento de projetos na universidade. Esse escritório foi extinto pela atual administração sem justificativa nenhuma e nós vamos recriar, porque ele deu muito certo quando a gente fez. O objetivo desse escritório é justamente fazer desde a elaboração, gestão e finalização de projetos até a captação de recursos, para que os nossos docentes pesquisadores possam investir o tempo deles no que realmente eles têm de competência. Fora isso, nós queremos com esse escritório prestar um serviço em cooperação com a sociedade. Então vamos identificar quais são os projetos que a sociedade entende serem relevantes para que nós, com a competência que nós temos aqui dos nossos professores, pesquisadores, podermos propor soluções diferentes e inovadoras, que possam fazer com que a sociedade possa tirar proveito da presença da universidade aqui em Juiz de Fora e em Governador Valadares. Pensamos também na criação de um fundo patrimonial – que já é permitido por lei desde 2016. O fundo é uma instituição à parte das universidades, que faz a captação via doações de pessoas físicas e doações de pessoas jurídicas, de governos estrangeiros e assim por diante, para ter um recurso que possa ser utilizado em prol da instituição. Então esses fundos estão ligados diretamente às instituições. Universidades americanas como Harvard, Yale, Stanford, universidades na Europa também, todas elas têm o que se chama de fundo patrimonial. No Brasil, a Unicamp e a Universidade Federal do Ceará já criaram. É possível, nós podemos fazer. Cada universidade cria o seu fundo de acordo com a cara que a instituição tem. Assumimos o compromisso com o corpo discente da manutenção do valor pago pela refeição do restaurante universitário, que é R$ 1,40. Até o final da nossa gestão nós vamos manter o valor. Queremos também realizar a implantação de uma creche universitária e criar aqui um setor de saúde multidisciplinar, com especialistas, para atender as pessoas que frequentam e fazem parte do campus. Essas são necessidades reais que verificamos com a comunidade que está aqui.
– Sobre o Hospital Universitário (HU), quais os planos da chapa?
Takakura – O HU é um órgão suplementar da universidade, que tem como principais atribuições o ensino, a pesquisa e a extensão. Nós vamos dar todo o apoio ao ensino e à pesquisa, teremos atitudes com a finalidade de manter os nossos profissionais do HU capacitados e que estejam fazendo pesquisa de ponta. O trabalho de extensão na assistência vai continuar sendo oferecido com qualidade. Sobre a finalização das obras, o HU já está no Plano de Aceleração do Crescimento do Governo federal e, por parte da nossa chapa, faremos tudo que estiver ao alcance da Reitoria para que essas obras sejam finalizadas e que possamos de fato colocar o Hospital Universitário como sendo um local de referência para a saúde não só de Juiz de Fora, mas de toda região.
– Suas considerações finais, por favor?
Eliana – A nossa proposta, dialogar, incluir e inovar, resume o que nós queremos nessa gestão. Então vamos falar primeiro em dialogar. Nós fizemos já um diagnóstico dos principais problemas da universidade e temos já algumas soluções, no entanto, sabemos que a Universidade é movimento e as necessidades vão se alternando, então, por isso, o diálogo. Estamos propondo até uma Reitoria Itinerante para que esse diálogo possa ser cada vez mais intensificado. Propomos uma universidade para todos e todas. Com isso ela vai ser realmente uma instituição inclusiva, porque todos os interesses de todas as categorias serão respeitados, e todos serão valorizados. Além disso, nós vamos estar sempre buscando as melhores soluções, propondo uma inovação que põe as pessoas como centrais, ou seja, com qualidade de vida. Vou além: somos a única chapa que traz propostas concretas, já com o diagnóstico e as soluções.
Takakura – As nossas propostas estão além do tempo atual porque nós vislumbramos que é necessário que nós tenhamos essa visão que esteja um pouco à frente ou às vezes muito à frente, para que nós possamos formar cidadãos que venham a liderar a transformação na sociedade. Se nós não estivermos com uma visão que esteja além do nosso tempo, quando nós terminarmos a formação dos nossos jovens, eles já estarão ultrapassados. Então é preciso que nós tenhamos uma visão que realmente esteja à frente do tempo para que nós possamos fazer o papel que a sociedade espera de nós. Nossas propostas são diferentes, são engenhosas e isso vai fazer muita diferença para a UFJF e para toda a sociedade que está no nosso entorno.